Cultura inclusiva: A base para a diversidade LGBTQIAPN+ no ambiente corporativo.
Por Denis De Lutiis, Head de Marketing da Getnet Brasil
A diversidade tem se tornado cada vez mais presente nas organizações, que passam a olhar com cuidado para a pluralidade e seus impactos positivos no ambiente corporativo. Um relatório da Korn Ferry, empresa global de consultoria organizacional, aponta que empresas diversificadas e inclusivas têm 76% mais probabilidade de ver ideias serem colocadas em prática e receitas de inovação 19% mais elevadas.
Cada dia que passa, vemos mais instituições verdadeiramente interessadas em fazer algo em prol da diversidade e inclusão, mas muitas ainda não sabem por onde começar. Eu diria até que a maioria não sabe dar o primeiro passo de maneira assertiva. Às vezes, o tal do “por onde começar” das empresas é sair agindo ou até “criar um problema de diversidade” para surgirem com uma iniciativa como solução. “Vou criar um programa de diversidade e contratar pessoas diversas, sejam elas mulheres, pessoas pretas, com deficiência ou LGBTQIAPN+.” Só que não é assim que funciona.
Independentemente da vertical de diversidade a que estivermos nos referindo, temos que olhar para dentro da empresa em que atuamos ou para o grupo ao qual fazemos parte. Antes de implantar um programa para contratar pessoas consideradas de um grupo minorizado, por exemplo, precisamos criar, junto aos colaboradores já atuantes na companhia, uma cultura que torne esse ambiente seguro e inclusivo. Assim, pessoas diversas podem não apenas fazer parte, mas, principalmente, sentir-se parte dela, seguras para serem elas mesmas. A criação dessa cultura como passo inicial é fundamental; precisamos reverter isso na raiz do problema. Temos que fazer parte de uma mudança maior.
No caso de um processo seletivo com foco em diversidade, é muito importante pensar em como desenvolver alicerces na empresa para que a pessoa contratada, seja de qual grupo for, consiga pertencer a esse novo mundo em que está sendo inserida sem nenhum impacto negativo em sua vida. Mais do que isso, ela deve sentir que possui representatividade e se projetar no futuro naquele local, sem reprimir o seu potencial. Para que isso aconteça, é preciso estar consciente de que todos nós, sem exceção, carregamos preconceitos e vieses inconscientes, algo difícil de desconstruir e que são pensamentos tendenciosos a respeito de um determinado assunto.
A transformação começa no nosso entorno. Quando algum comentário inadequado surgir em um almoço com os colegas, por exemplo, é importante atuar de modo transparente e, com uma provocação positiva e saudável, trazer aquela discussão à tona. De maneira geral, noto que ainda existe uma força masculina se impondo e que, por vezes, as mulheres têm dificuldade até de conseguir achar espaço para se colocar. O mesmo acontece com pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. Quando percebo uma situação assim, busco sinalizá-la. Expor o que muitas vezes é colocado embaixo do tapete traz um pouco de desconforto, porém, provocar de forma saudável ajuda a construir a conscientização e o respeito que precisamos no mundo.
Trabalhar em uma empresa com diversidade verdadeira, desde o respeito pelas diferentes opiniões e ideias que surgem em uma reunião, exige, de quem lidera, conhecer pessoas diversas. E para conhecê-las só existem dois caminhos: ter pessoas diversas no time, no seu dia a dia, reforçando a representatividade de diferentes pessoas em todos os níveis hierárquicos e áreas, além de formar bancos de talentos diversos para todos os setores da companhia. Isso ajuda a quebrar estereótipos com o passar do tempo. Por exemplo, achar que uma pessoa tatuada é muito moderna para ser do jurídico, ou que, por ser muito jovem, não passa credibilidade. Muitas vezes, o pensamento não consegue vencer essas barreiras, ainda que a pessoa tenha repertório e capacidade técnica.
Iniciativas voltadas para a diversidade e inclusão são fundamentais para tentarmos ter um país e um mundo menos desiguais. Esses mecanismos são necessários para reparar os erros que cometemos enquanto sociedade há muito tempo. Talvez, daqui a alguns anos, não precisemos mais desses processos, mas, enquanto ainda temos um déficit histórico muito grande, temos que compensar através de artifícios como vagas afirmativas, grupos de afinidade e outros. Por isso, repito que é muito importante possibilitarmos que as pessoas sejam quem elas são, também no ambiente corporativo. Equipes e empresas ganharão. A pessoa ganhará. E nós daremos nossa modesta contribuição para a evolução da sociedade. A aceitação em torno de questões de gênero e sexualidade vai muito além; é uma questão de aceitação como ser humano no mundo.