Um ambiente propício à inovação, associado à cultura de colaboração pode ser orgânico, fluído, mas para chegar a esse ponto há uma grande construção
Por Tiago Hayashida, Gerente Executivo de Gestão de Pessoas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE.
O escritor Jonathan Lethem disse que, quando as pessoas chamam algo de original, nove entre dez vezes elas não conhecem as referências ou suas fontes primárias. Austin Kleon, em seu livro “Roube como um artista” argumenta que toda nova ideia é apenas uma mistura de uma ou mais ideias anteriores. O humorista americano Mark Twain, ainda, tem uma célebre frase: “É melhor pegar o que não lhe pertence do que deixar por aí esquecido”.
Claro que não estamos falando de roubo ou plágio da forma literal, mas do conjunto e curadoria de ideias e informações que podem ser guardadas, armazenadas, aprimoradas e depois disso compartilhadas. O que seria da evolução da nossa espécie se não pudéssemos absorver os aprendizados e os erros dos nossos antepassados?
A questão é que é sempre muito difícil conseguir copiar de forma fidedigna o que já deu certo. Na grande maioria das vezes, ao tentar reproduzir, nós seres humanos conseguimos tornar o que era bom, ainda melhor. E isso é inovação!
Um ambiente propício à inovação, associado à cultura de colaboração pode ser orgânico, fluído, mas para chegar a esse ponto há uma grande construção. No ambiente corporativo, a inovação pode ser inerente a determinados negócios, mas, quando não é estimulada, por meio da implementação de processos e ações que contribuam com a criatividade, ela não sobrevive.
A vontade de inovar por si só não basta se o ambiente não estiver a seu favor. Há algo muito distinto entre estar inovador e ser inovador. Um dos maiores erros das empresas que querem ser inovadoras é cobrar inovação sem oferecer espaços e momentos propícios para tal. É uma via de mão dupla e os líderes precisam estar abertos ao diálogo. E esse foi o ponto de partida da CCEE.
É por isso que, depois de uma pesquisa feita em 2018 para entender o nível de envolvimento dos quase 500 funcionários com inovação e identificar lacunas que poderiam afetar a sua estratégia de negócios, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica decidiu colocar em prática ações que pudessem trazer para a organização um ambiente de experimentação.
Uma das ações implementadas foi o Mapa de Calor das Lideranças. Em parceria com uma empresa especialista em mentoria para gestores, a CCEE passou a monitorar a dedicação de tempo dos executivos para iniciativas consideradas inovadoras. Criamos também a Esteira de Inovação, uma estrutura metodológica e ferramental que busca explorar desafios, gerar e validar ideias para propor soluções que atendam às necessidades dos associados da CCEE.
Desenvolvemos o CCEE Labs, laboratório interno dedicado à experimentação e exploração de tecnologias e metodologias, como criptografia, blockchain e DevOps, e o Passaporte da Inovação, um game para premiar os colaboradores pela dedicação de tempo para o tema. Têm sido ferramentas essenciais para estimular os funcionários a serem mais disruptivos.
Talvez o pilar mais importante dessa jornada até o momento tenha sido a conscientização da liderança para dar abertura a novas ideias e a atuação de um grupo multidisciplinar para ajudar as pessoas a desenvolverem suas ideias, o InovaCCEE. Não se trata de uma área específica, mas de um grupo formado por colaboradores de diversas áreas da organização que foram capacitados para auxiliar as pessoas em validar, testar e implementar protótipos de novas soluções.
Hoje, já colhemos os frutos desse ambiente mais criativo. A CCEE recebeu o selo Innovative Workplaces, concedido pelo MIT Technology Review Brasil. Essa conquista reflete os esforços contínuos da organização para promover a inovação e a colaboração no desenvolvimento de mercados de energia eficientes, inovadores e sustentáveis em benefício da sociedade.
Quando falamos em inovação, entendemos que a tecnologia é importante, mas é o meio do caminho. O segredo é olhar para as pessoas, impulsionar de dentro para fora, dar espaço para exercerem a sua criatividade e explorar sem medo de errar. É assim que as melhores ideias surgem e é assim que temos construído uma cultura de inovação. Não basta estar, é preciso ser.