Tiago Machado é CEO da Rocketmat, especializada em soluções de inteligência artificial para a área de Recursos Humanos.
Passados quase dois anos, à medida que os gestores olham para um ambiente de trabalho “pós-pandemia”, percebem que há outra mudança radical em andamento: após um período tão traumático e desgastante, muitos profissionais estão revendo suas prioridades e isso está levando, em alguns países, a um número sem precedente de pedidos de demissões. Nunca, a busca por um propósito fez tanto sentido.
Nos Estados Unidos, mais de 19 milhões de trabalhadores deixaram seus empregos desde abril de 2021, um ritmo considerado recorde. O fenômeno, que ficou conhecido como “the great resignation” – ou “a grande renúncia” – também vem sendo sentido em outros países e impacta os resultados das empresas. Afinal, há sempre um custo envolvido na reposição, no tempo em que a vaga fica em aberto, custos com treinamentos e desligamentos, sem contar o impacto de tudo isso nos resultados.
Além dos que simplesmente deixam seus empregos, há também um grande anseio por novas oportunidades, em posições e empresas que estejam mais alinhados aos propósitos dos profissionais. No Brasil, por exemplo, uma pesquisa feita em dezembro de 2021 pelo LinkedIn, com mais de 1000 profissionais brasileiros, mostrou que cerca de 49% (praticamente a metade!) dos respondentes pretendem mudar de trabalho em 2022. Entre os jovens de 16 a 24 anos, a porcentagem é ainda maior: 61%. Entre os principais motivos elencados está o desejo de um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
Em vez de dedicar um tempo para investigar as verdadeiras causas deste movimento, muitas empresas estão pulando para soluções rápidas “bem-intencionadas”, que fracassam: por exemplo, estão aumentando o pagamento ou vantagens financeiras, como oferecer bônus, sem fazer nenhum esforço para fortalecer os laços relacionais que as pessoas têm com seus colegas e seus empregadores.
A verdade é que pagar bem continua primordial, mas atualmente os profissionais buscam empresas que valorizam os aspectos humanos. Muitos colaboradores estão esgotados emocionalmente e outros estão de luto. Com isso, querem um senso de propósito renovado e revisado em seu trabalho.
Por esse motivo, algumas empresas que estão na vanguarda do RH já empregam a Inteligência Artificial em sua estratégia de retenção de talentos. A utilização de ferramentas de análises de dados ajuda os empregadores a descobrir o que faz um funcionário prosperar em uma função e a identificar candidatos com base em critérios específicos (até aspectos muito humanos do trabalho, como persuasão e construção de relacionamentos).
A tecnologia impacta na melhoria, na organização da cultura organizacional, e no envolvimento dos colaboradores. O uso de dados no rastreamento de jornada dos funcionários permite entender o quão feliz uma equipe está em suas funções e, em seguida, tomar medidas para aumentar o moral ou identificar papéis alternativos que podem ser mais adequados. Os avanços tecnológicos e a transformação digital estão oferecendo aos líderes as oportunidades para enfrentar algumas das iniciativas mais desafiadoras e importantes do local de trabalho: desenvolver a cultura e manter o engajamento.