Especialista em ‘gente’ e liderança (pessoal e corporativa) com foco em carreira e vida, Maria Resende aborda o janeiro branco sob a ótica da Gestão do Tempo (físico e psicológico) e da ‘nova’ mulher multitarefa
No mês que aborda a importância da saúde mental, o Janeiro Branco, a ideia é incentivar a prevenção para cuidar da parte emocional e motivar quem está em situação difícil a buscar ajuda. Mas, quando falamos neste tema, há variadas abordagens. Sob a ótica da minha vivência, gostaria de colocar um ponto que pouca gente fala: na correria da vida cotidiana atual, com a velocidade da comunicação, do meio digital e do imediatismo das relações, será que paramos para pensar o quanto estamos gerindo mal uma variável fundamental, intangível e determinante em todos os aspectos da nossa vida, que é o tempo?
Segundo a mentora e palestrante especializada em Gestão de Tempo, é preciso tratar de um ponto específico da visão sobre a campanha. “Abordo muito em minhas palestras a relação de geri-lo com a nossa saúde mental, principalmente a das mulheres, assoladas pela correria do dia a dia e pela exigência de ter multifunções. A verdade é que precisamos aprender a parar, tanto o tempo físico quanto psicológico. Saber estabelecer limites de que é você que controla ele, e não o contrário, pode ser a porta de entrada para uma mudança real, e para evitar diversos males e prejuízos mentais”, afirma.
Conforme a especialista, na dinâmica da vida atual, com a cobrança excessiva (interna e externa) por termos que dar conta de tudo, é muito comum que caiamos na maior sabotagem de todas: nos iludir que daremos conta, não conseguir (claro) e a partir daí começar a desenvolver espectros de doenças emocionais. “Primeiramente precisamos nos munir de informações de especialistas, inclusive e principalmente da área da saúde, e buscar também ouvir histórias de pessoas que passaram situações parecidas, como a que carrego, por exemplo. A minha relação abusiva, à época, com o tempo e o trabalho, me gerou um problema grave de Burnout, que me fez repensar toda a minha vida e questionar: estou gastando meu tempo (emocional e físico) da melhor forma ou estou morrendo em vida?”, conta.
Mulheres são mais impactadas
Segundo pesquisa divulgada pela entidade Think Olga, ONG de impacto social com foco no universo feminino, só no Brasil, sete em cada 10 pessoas diagnosticadas com depressão e ansiedade são mulheres. A fonte é do institute institute for health metrics and evaluation (2019). Conforme outro levantamento mais recente da ONG, mesmo com o fim da pandemia, quando a organização Mundial da Saúde decretou o fim da emergência sanitária global em 2023, as sequelas dessa crise aguda seguiram intensas, sobretudo na saúde mental das mulheres.
Um exemplo é a ansiedade, transtorno mais comum no Brasil, que já faz parte hoje do dia a dia de 6 em cada 10 brasileiras, de acordo com a pesquisa realizada com 1.078 mulheres, de 18 a 65 anos, em todos os estados do Brasil. De acordo com a abordagem, a situação financeira apertada, as dívidas, a remuneração baixa e a sobrecarga de trabalho estão entre os fatores que mais impõem sofrimento e impactam a saúde mental delas.
“Se a gente está cansada de falar sobre isso é porque precisamos, mesmo assim, desabafar. Precisamos falar desse peso que levamos conosco, pois, mesmo com todo esforço, não foi suficiente o nosso reclame. Continuamos, sim, a sermos prejudicadas com injustiças do sistema”, afirma Maria Resende.
Coragem para ser livre
Não é à toa que o livro lançado por ela após sua experiência de esgotamento, o “Coragem para ser livre”, foi fruto da vivência de um quadro de depressão e burnout, seguido por reflexos físicos graves, que se deu conta da urgência de comunicar às empresas e sociedade que não se pode mais separar a pessoa do profissional.
“O meu método fala de integridade. Por um bom tempo, separei a Maria pessoal do profissional e vejo que isso é um erro. Somos uma coisa só e temos que nos abordar de forma integral, principalmente nós, mulheres, que temos a mania, ou a necessidade, de querer ser tudo ao mesmo tempo, o que é um perigo.
O que é o Janeiro Branco?
Em 2014, um grupo de profissionais da saúde mental no Brasil criou a campanha para nos lembrar da importância de valorizarmos essa vertente emocional. A cor escolhida simboliza a página em branco, representando a chance de promover mudanças positivas, assim como o primeiro mês do ano nos traz a sensação de recomeço. O propósito é conscientizar, tirar estigmas, descontruir mitos e estimular que as pessoas busquem ajuda ou tomem atitudes de prevenção para manter essa parte da vida forte. O propósito do Janeiro Branco é claro: conscientizar sobre saúde mental, combater estigmas e encorajar a busca por ajuda quando necessário. Destacamos o autocuidado, a promoção da qualidade de vida e a coragem de enfrentar nossos desafios emocionais.