À primeira vista, as funções dos profissionais da área de Planejamento & Controle Financeiro podem até parecer muito diferentes das atividades do setor Comercial de uma empresa. Não para Priscila Santos, atual gerente global de Custo e Produto da PETRONAS Lubricants International. Ela, que iniciou sua jornada na companhia em 2011, foi do financeiro à área de Desempenho de Negócio, passou por vendas, retornou para finanças e, atualmente, atua no setor de custos.
A prática de transitar entre setores, funções e atividades desempenhadas dentro de uma mesma corporação pode não ser muito comum, mas se trata de um conceito que vem crescendo cada vez mais no Brasil e no mundo: o Job Crafting. Ainda pouco conhecido, o termo diz respeito a uma quebra de paradigma no ambiente de trabalho, em que o colaborador pode reinventar sua rotina e até circular em diferentes funções de forma que se sinta mais realizado. “A ideia dessa prática é tornar as atividades profissionais mais produtivas e motivadoras, já que desperta uma relação afetiva com as funções e atividades exercidas”, explica Tatiana Villefort, diretora de Recursos Humanos da PETRONAS Lubrificantes Brasil.
Visto ainda como algo complexo de ser implementado, o Job Crafting pode trazer às empresas a oportunidade de reter e engajar os colaboradores, especialmente no contexto atual da pandemia, em que muitas companhias tiveram de aderir ao home office. “Hoje temos que ser ágeis para reter pessoas e proporcionar tanto desafios quanto aprendizados. Enxergamos a prática do Job Crafting como um fio condutor de motivação, conexão afetiva e proposito profissional, pontos fundamentais para cativar bons profissionais, principalmente durante a pandemia”, contextualiza a executiva.
No entanto, é natural que as empresas sintam dificuldade em iniciar a prática. Para as de grande porte, Tatiana indica como o primeiro passo uma revisão da cultura institucional. O objetivo é trazer para os pilares da empresa valores que proporcionem aprendizados e experiências às carreiras: abertura de espaço para o diálogo, bate-papos com o RH, pesquisas internas e entrevistas sobre plano de carreira. “O Job Crafting tende a se encaixar melhor em ambientes que abarquem pessoas proativas, motivadas pelo crescimento e que percebem a necessidade de fazer essas mudanças no seu trabalho”, pontua.
As etapas seguintes passam pela adaptação das lideranças, que precisam estar abertas a mudanças e prontas para abraçar a causa. Para a diretora, o ideal é que o exemplo venha dos líderes, para que, então, os colaboradores se sintam encorajados. Outro passo importante é fortalecer o recrutamento interno. E Tatiana é categórica acerca deste assunto: “não buscamos profissionais no mercado se tivermos o candidato interno”. Para ela, todas as oportunidades de vagas em aberto devem ser previamente informadas internamente. Tatiana sintetiza o processo todo dizendo que “a semente é plantada e identificada por meio do RH”. “Assim que percebemos a oportunidade vamos trabalhando em conjunto com o colaborador e sua liderança. A partir daí, verificamos em conjunto quais mudanças podem ser feitas para trazerem mais prazer e realização ao colaborador, além de beneficiar o time como um todo”.
Vale lembrar ainda que muitas das vezes é possível auxiliar o colaborador a redesenhar seu próprio trabalho baseando-se em seus objetivos, motivações, pontos fortes e paixões. Desta maneira, fica mais fácil tangibilizar o conceito e trazê-lo para realidade de cada corporação com o ritmo que cada uma consegue seguir. Job Crafting não necessariamente significa mudar de área ou de cargo. “São os ajustes finos que impactam”, conclui a executiva.