O desafio da semana de trabalho de quatro dias no Brasil
Rafaela Corrêa, mulher negra, ex-feirante e garçonete, e hoje sócia da Odgers Berndtson, responsável por recrutamento e seleção, na sexta maior consultoria global de capital humano.
No segundo semestre desde ano o Brasil terá sua vez no experimento sobre o impacto da jornada de trabalho de quatro dias. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a organização sem fins lucrativos 4 Day Week, que conduz teses globais sobre a carga horária reduzida, e a brasileira Reconnect Happiness at Work.
O modelo a ser implementado será do tipo 100-80-100: 100% do salário e benefícios, trabalhando 80% do tempo e mantendo 100% da produtividade.
Mas será que vai dar certo?
O grande desafio é desmistificar a crença de que a produtividade é proporcional ao número de horas trabalhadas. E, nós brasileiros, bem sabemos do glamour de falar sobre as longas horas trabalhadas com natural associação a um profissional comprometido e de alta performance. Mas será?
Uma redução na jornada de trabalho significa que as empresas terão que reorganizar seus cronogramas e redistribuir as tarefas entre os funcionários. Isso pode resultar em custos adicionais e ajustes na estrutura organizacional.
Além disso, há setores em que a implementação da jornada reduzida pode ser mais desafiadora. Indústrias que operam em turnos contínuos, como hospitais, serviços de emergência e setor de transporte, podem enfrentar dificuldades em adaptar-se a um cronograma de trabalho mais curto. Portanto, é necessário considerar essas questões e encontrar soluções adequadas para garantir a funcionalidade e a eficiência desses setores.
Bem, o foco inicial do projeto visa identificar o aumento de produtividade, em função do maior engajamento do profissional, mas que acaba resultando em ganhos para os indivíduos, suas famílias e para toda a sociedade.
O teste já aconteceu em 6 países, e as empresas que adotaram a semana de trabalho de 32 horas perceberam maior atração e retenção de talentos, envolvimento mais profundo do cliente e melhor saúde e felicidade dos colaboradores.
Importante trazer esse ponto, pois segundo uma pesquisa da Mckinsey realizada com 15.000 pessoas em uma grande diversidade de países mostrou que 59% dessa população passou ou está passando por algum desafio relacionado a sua saúde mental.
Os desafios da saúde mental estão custando muito para as organizações, além dos impactos na sociedade. Portanto, a adoção da semana de quatro dias é boa para a empresa, para os clientes, para os colaboradores e para a sociedade.
Dos demais países que passaram por esse teste,o destaque dos resultados foi para o Reino Unido. Onde a grande maioria das empresas participantes (92%) decidiu manter o formato de trabalho depois dos testes. Entre elas, a receita média aumentou 35% em comparação ao período anterior e 90% dos funcionários disseram que gostariam de continuar trabalhando apenas quatro dias.
Em resumo, a redução da jornada de trabalho para quatro dias por semana pode trazer vantagens significativas para os trabalhadores, melhorando sua qualidade de vida e aumentando a produtividade. No entanto, é necessário considerar os desafios práticos e econômicos envolvidos na implementação dessa mudança. Com uma abordagem equilibrada e cuidadosa, é possível buscar um ambiente de trabalho mais saudável e satisfatório para todos.