Você já deve ter ouvido falar que ser líder é ser solitário. Há uma verdade por trás dessa frase que tem a ver com a tarefa de empreender: de fato, o dono da ideia será o maior defensor dela e, em muitos momentos, se sentirá sozinho e cansado por ter que convencer a todos de que aquilo faz sentido. Eu mesmo tive que aprender muita coisa sozinho. Claro, em diversas ocasiões pude trocar experiências com meu sócio e outras tantas recorri a mentores ao longo do caminho. Hoje, inclusive, muitos desses profissionais se tornaram conselheiros da minha empresa. Mas o fato é que, em algum momento, eu tive de tomar certas decisões sozinho.
Mas embora eu acredite que a liderança tem, sim, um traço de solidão, em nenhuma circunstância eu concordaria que esse é o sentimento que mais descreve a tarefa de liderar. A verdade é que o bom líder dá logo um jeito de não estar só: assim que valida sua ideia busca os primeiros colaboradores, que o ajudarão não apenas a executar o projeto, mas a destrinchá-lo, revê-lo, melhorá-lo a fim de que ele esteja pronto para escalar.
É nesse momento que o líder atua no microgerenciamento. Como os primeiros colaboradores ainda estão aprendendo sobre o negócio, eles precisam ser orientados nos detalhes. E é isso que é microgerenciar: é cuidar das coisas pequenas, especificar as miudezas das tarefas rotineiras e detalhar o passo a passo para o objetivo.
Eu vivi esse momento intensamente, era detalhista, não deixava passar nada, revisava tudo: apresentações, cálculos, metodologias. A verdade é que eu não queria que os meus colaboradores passassem pelo limbo que eu passei. Só que o fato é que o processo é um pouco cansativo, mas é um momento essencial para que, num curto espaço de tempo, os colaboradores dominem suas tarefas e o líder entregue a alguns deles essa missão de microgerenciar.
Feito isso o líder pode se concentrar no macrogerenciamento, que é vital para a empresa. É o momento de cuidar dos indicadores do projeto, de conferir a evolução e a motivação da equipe, de monitorar as metas. Essa visão do negócio como um todo – e não nos detalhes – fará com que a roda gire mais rápido, as coisas saiam do lugar e o negócio ganhe escala.
Nesse momento, inclusive, a equipe pode crescer de forma acelerada, uma vez que o líder principal já entregou a outros líderes a tarefa de cuidar dos detalhes. É hora de experimentar resultados exponenciais, trazer os melhores talentos do mercado, mudar de sede porque a antiga já não comporta tanta gente, rechear a carteira de clientes.
E é aí que a sua missão como líder está completa, certo? Errado. Manter o projeto vivo é tão desafiador quanto começá-lo e, por isso, você precisará mais uma vez das pessoas. Minha experiência como líder mostrou que, embora a caminhada do empreendedor comece solitária e, em alguns momentos, seja permeada pela solidão das decisões, na maior parte do tempo ela é marcada pela presença das pessoas.
Descobri na prática que os ensinamentos que recebi da minha equipe são mais valiosos do que qualquer conteúdo dos livros que li. E é bem aí que está mais um degrau na jornada do líder: ser capaz de aprender com o outro. Não dá para cair no mito do “líder perfeito” e nem se render à vaidade que não levará a lugar nenhum senão à uma liderança tóxica. É importante manter em mente que todos precisamos de ajuda e é justamente essa “mãozinha” que vem do outro que, muitas vezes, diferencia sucessos de fracassos. No fim das contas, liderar tem mesmo a ver com agregar. E isso inclui pessoas e aprendizados.
Por André Palis, sócio-fundador da Raccoon