A solidão dos líderes: Uma realidade inevitável ou um desafio a superar?
Colunista Mundo RH – Paula Gallo é chief human resources officer (CHRO) da Conexa, maior player de saúde mental da América Latina
Há, historicamente, entre os líderes que chegam ao alto escalão, uma “queixa”: parece que se sentir só passa a ser inerente ao cargo. A tomada de decisões complexas, que muitas vezes não podem ser compartilhadas com os pares, sobretudo àquelas relacionadas a gestão de pessoas, está entre os grandes desafios enfrentados pelas lideranças. Como meu pai dizia, “quanto mais alto, mais forte batem os ventos”.
Segundo pesquisa da Benenson Strategy, realizada com mais de 600 executivos, a situação é ainda mais sensível entre as mulheres: 60% daquelas que ocupam cargos sêniores disseram que os sentimentos de solidão aumentaram à medida que suas carreiras avançaram.
Os novos modelos de trabalho – home office e o híbrido – consolidados com a pandemia, impuseram novas formas de se relacionar com as pessoas. Entretanto, os líderes precisam se adaptar ao novo cenário, ainda em construção.
Olhando para nossa experiência interna e de alguns parceiros, o mix entre presencial e remoto parece contribuir para mitigar a sensação de isolamento. O bom e velho olho no olho, o contato físico num aperto de mãos ou em um abraço apertado do colega, são artifícios importantes para a saúde mental. Autoconhecimento, inteligência emocional e persistência, consideradas “soft skills”, são cada vez mais necessárias em cargos de liderança.
Obviamente cada líder deve encontrar as ferramentas que melhor funcionem para lidar com a solitude no trabalho. No meu caso, cavei oportunidades para conversar e ouvir, trocando informações com pares, liderados e mentores especialistas no mundo corporativo. É claro que tenho essa proximidade com o tema, que é caro para a área de gestão e pessoas das empresas, em função da minha experiência na Conexa, onde atuo como chief human resources officer (CHRO).
Inclusive, desenvolvemos um programa de sensibilização da liderança, que inclui sessões individuais com um mentor de fora da empresa que contribui no desenvolvimento de habilidades de relacionamento e na tomada de consciência dos nossos hábitos sabotadores mentais e emocionais, além de ajudar na identificação de potências e forças. A monitoria contribui, ainda, para o delineamento do perfil comportamental e de medos que impactam a forma como cada líder exercita sua melhor performance, sempre pautado pela felicidade genuína.
Essa ação tem feito toda a diferença no nosso C-level e aliviado a sensação de solidão. De forma complementar, ter tempo de autocuidado nos permite olhar com mais afeto para as nossas equipes, e perceber se estão satisfeitos e se trabalham felizes. Como resultado, podemos identificar se há algum ajuste a ser feito na rota, de forma a promover as melhores condições e ambiente de trabalho para todos.
Essa preocupação te toma de alguma forma? De que ferramentas você tem feito uso para uma liderança menos solitária?