A resiliência e liderança feminina no cenário corporativo
Cecilia Ivanisk, cofundadora da Learn to Fly
De acordo com o Censo mais recente, as mulheres são a maioria no nosso país, 6 milhões a mais do que homens. No entanto, esta não é a realidade quando observamos os cargos de liderança, ainda ocupados em sua grande maioria por homens.
Por isso, reforço que as mulheres precisam estar lá também (para as que almejam essa posição), porém é necessário levar em consideração as circunstâncias quando isso acontece. Em 2004, psicólogos do Reino Unido cunharam o termo “glass cliff” (penhasco de vidro), após identificarem que as mulheres estavam sendo promovidas a uma posição de liderança em um momento frágil da empresa, quando existiam grandes chances de “dar errado”. Dentre outras razões, essas empresas consideram que se o fracasso acontecer, as mulheres, sendo responsabilizadas, conseguem lidar melhor com o peso disso. E as empresas, por sua vez, receberão o crédito por terem sido igualitárias e progressistas. Não tem como dar errado. As mulheres, assim como outros grupos desfavorecidos, aceitam essas ofertas arriscadas porque consideram que serão as únicas “oportunidades” que terão. Triste realidade.
Mas o penhasco de vidro não entra necessariamente como um desmerecimento às mulheres. Somos melhores líderes em momentos de crise e temos mais facilidade em sair de situações difíceis. Uma liderança feminina é mais empática e inclusiva. Pudemos observar isso durante a pandemia, como aponta o estudo da “Harvard Business Review”, que identificou que as mulheres em cargos de liderança mostraram mais eficiência ao lidarem com a crise, gerando melhores resultados e engajamento por parte de suas equipes. Quando são as gestoras das finanças da família, investem uma parte maior da renda familiar em educação do que os homens.
Os debates sobre o papel feminino na sociedade tendem a aumentar durante o mês de março. Isto é ótimo, e precisamos falar muito mais ainda sobre a questão. Uma discussão que merece ser pautada durante todo o ano, até chegarmos àquele ponto em que elas não precisem mais existir porque já estaremos ocupando o nosso lugar de direito. Esta é uma realidade percebida em todo o mundo, como mostra o estudo “Women in the Workplace 2023”, da McKinsey, identificando que as mulheres estão sub-representadas não apenas nos cargos de liderança, mas em todo o pipeline corporativo.
A virada neste cenário e inclusão de mais mulheres em posições de poder parte de um lugar de necessidade e vontade de mudar por parte da empresa, que deveria ir além das capacitações e políticas organizacionais voltadas para o tema. É preciso colocar o dedo na ferida e fazer uma análise interna criteriosa sobre sua cultura organizacional.
Se você, mulher, já ocupa um cargo de liderança ou está se preparando para isto, busque o autoconhecimento, se valorize, se desenvolva e se fortaleça. Cada uma de nós sabe dos próprios objetivos. A verdade é que a pressão em cima da mulher, seja em cargo de liderança ou não, é maior. Percebo que a mentoria tem sido um instrumento de capacitação que auxilia a fomentar a rede de apoio feminina.
Além de ser um espaço para a aquisição de novos conhecimentos técnicos, a mentoria é um lugar seguro e empático que convida para a autorreflexão e a construção de estratégias em conjunto, auxiliando no enfrentamento das adversidades. Entre os benefícios, destaco: ganho financeiro, maior satisfação, promoções, melhora nas relações familiares e ganhos emocionais. É uma movimentação em que todas ganham.
Por isso, no mês em que comemoramos mais um Dia da Mulher, desejo que possamos cada vez mais estar nos lugares que nos pertencem. A força da liderança feminina é percebida em toda a nossa sociedade. E se, por acaso, você se deparar com um “glass cliff”, quebre os pedaços e o transforme em sua nova mesa de trabalho.