Liderança Servidora: O futuro do RH na Era ESG e a busca pelo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal
Por Fabiana Galetol, diretora executiva de Pessoas e Responsabilidade Social Corporativa na Sodexo Benefícios e Incentivos
Alguns de vocês já devem ter notado um novo perfil de liderança que vem ganhando espaço nas empresas: o líder pautado no conceito ESG – meio ambiente (Environmental), social (Social) e governança corporativa (Governance). Essas três letras tão famosas chegaram também ao RH e o gestor de pessoas passou a ser peça fundamental no desenvolvimento dos pilares dentro do ambiente corporativo, reforçando a integração dos colaboradores à cultura do negócio.
Habilidades como visão sistêmica, inteligência emocional, empatia, inovação e adaptação, além de incentivo à capacitação, são competências que podemos perceber neste gestor. Mas esse modelo de gestão de pessoas é realmente novo? A resposta é: não! Esse perfil específico de profissional já existe, só estava esperando o momento certo para ganhar fama – ele é o líder servidor.
Muitos dos nossos valores sobre carreira foram radicalmente transformados pela pandemia e mudaram completamente a visão que tínhamos sobre ‘o emprego ideal’. Trabalhar hoje em um ambiente positivo, dentro de companhias que valorizam as pessoas e oferecem a possibilidade de equilibrar as prioridades do trabalho com a vida pessoal, passou a ser um dos pontos fundamentais quando avaliamos manter ou mudar de emprego. Mas claro, um fator que continua sendo determinante é o conjunto salário + benefícios.
Quando pensamos em um líder, nos vem à cabeça aquele papel tradicional do cargo que gerencia profissionais para desempenharem funções com eficiência, qualidade, prazo e com resultados que gerem lucro à empresa. Agora, dentro do “novo normal”, não basta apenas encontrar e manter pessoas dispostas a se conectarem com o propósito da organização, é preciso humanizar a gestão. Por isso, o perfil do líder servidor se destaca por ter as pessoas como seu principal foco.
É importante ressaltar que a liderança servidora pode gerar resultados extraordinários quando exercida da maneira correta. O que quero dizer é que o modelo envolve empatia, humildade e acolhimento, e tem como ponto forte a confiança na equipe. Não estou afirmando que não existem metas e compromissos, existem sim! Porém, são pensados e definidos em formatos motivadores, incentivando a colaboração, a inovação, a capacitação da equipe e – o mais importante: o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Além disso, esse perfil de gestor tende a fornecer mais apoio emocional quando é necessário, e sabe reconhecer e valorizar o sucesso individual e da equipe.
Outra forte característica do líder servidor é acreditar que a capacitação torna o profissional mais qualificado, motivado e produtivo. Tendo isso como foco, ele investe frequentemente em treinamentos; faz reuniões constantes com o grupo, inclusive para dar feedbacks e alinhar expectativas; define planos de carreira individuais, levando em consideração o perfil de cada liderado; conhece de perto as dificuldades e anseios da sua equipe e está sempre disponível para ajudar a superá-los. Ao trabalharem em conjunto, tanto o líder quanto o liderado estabelecem uma confiança mútua, em um formato mais sociável de gestão.
Se pararmos para refletir, o líder servidor está presente com mais frequência em companhias que praticam a gestão humanizada, oferecem salários atrativos e benefícios diferenciados, muito além dos tradicionais vale-transporte, vale-refeição e vale-alimentação. Essas empresas estão mais voltadas ao bem-estar e preservação da saúde mental do seu colaborador e consideram esse conjunto imbatível na geração de resultados. A conclusão é simples: profissionais felizes são mais produtivos.
Vale lembrar que todo o tipo de liderança, seja ela boa, razoável ou ruim, extrapola os limites da empresa. O relacionamento gentil, amigável e a disponibilidade para ajudar na conquista de metas se refletem diretamente no relacionamento dos colaboradores com clientes e parceiros. Ou seja, a liderança servidora está claramente ligada à geração de lucro: colaboradores mais engajados são mais produtivos e assertivos na resolução de problemas, mantêm clientes felizes e, consequentemente, aumentam a receita da empresa. Temos aí um ótimo exemplo de causa e efeito.
Porém, assim como quase tudo na vida, há exceções para “regras”. A liderança servidora pode não ser a mais adequada em alguns modelos de negócios. Por exemplo, em ambientes extremamente competitivos, com gestão fortemente direcionada a resultados, esse perfil pode ser considerado ineficaz e fora de contexto, mas ainda assim extremamente relevante. Por isso, é essencial avaliar constantemente o formato de gestão e ajustar o que for preciso para que os objetivos da organização sejam alcançados, sem perder o foco nas pessoas.
A liderança servidora é uma tendência global e certamente sua presença será cada vez mais fortalecida nas próximas décadas por estar atrelada aos valores sustentáveis. Recentemente, tive acesso a um estudo sobre estilos de liderança desenvolvido pela FIA (Fundação Instituto de Administração), que identificou um perfil inspirador em cada três líderes das 100 maiores empresas para trabalhar. Claramente, a pesquisa é um indício de que o modelo de gestão humanizada está ganhando força nos ambientes corporativos e sendo levado cada vez mais em consideração pelos executivos de alto escalão.
Companhias com visão de futuro saíram na frente e já colhem resultados significantes, muitas vezes, maiores que o modelo de liderança anterior. Ser um líder servidor pode parecer simples e natural para uns, mas é bastante desafiador para outros. Nossa lição de casa, então, é buscar sempre estar atento a novas realidades, se manter atualizado e competitivo, sem perder o equilíbrio entre vida pessoal e carreira.
Há uma pressão crescente para que as corporações se adaptem a práticas mais sustentáveis e um dos grandes desafios deste cenário, sem dúvida, é a gestão de pessoas. Depois de tempos difíceis que vivemos, principalmente com o isolamento social e perdas irreparáveis, só nos resta esperar que o modelo de liderança servidora seja mais e mais incentivado dentro das empresas. Digo isso não só porque seus resultados são cada vez mais visíveis, mas porque queremos e merecemos representar marcas que valorizam a vida e a saúde dos profissionais.