A jornada inspiracional deve ser pautada pela consciência pessoal e pela compreensão do impacto de sua liderança nos outros
Liderança, diz o dicionário, é “algo que revela autoridade”. O líder, então, seria a pessoa com espírito de ascendência? Reduzir o significado à semântica é muito simplista, porém, traz uma reflexão corriqueira em empresas e para profissionais de recursos humanos. Um dos grandes desafios que as organizações enfrentam atualmente é encontrar profissionais devidamente capacitados para assumir funções que demandem gestão de pessoas.
A definição ao pé da letra soa antiquada e é fácil identificar o porquê. Em tempos de cultura atrelada a transformação e gestão, uma chefia autocrática – do tipo que não compartilha informações e exerce controle demasiado – compromete o desempenho do negócio. Mas, afinal, que tipo de liderança queremos encorajar?
Tiro lições das minhas experiências ao longo da minha vivência em recursos humanos. Primeiro, devemos entender liderança como uma habilidade, não como uma característica de um cargo. É uma ação para inspirar e influenciar de maneira positiva a vida de pessoas com um objetivo em comum. Nesse contexto, o bom líder é, portanto, inspirador: desperta o melhor de cada colaborador ao passo que motiva e envolve a equipe, tornando o ambiente e o trabalho em si boas experiências. Diversos fatores podem levar a essa que identificamos como uma liderança inspiracional.
Em uma equipe, a inspiração tem função condutora e extraímos o melhor dela quando, nós, os líderes, temos clareza da visão da empresa e a passamos adiante. Só assim podemos garantir que temos um lugar seguro – até de uma perspectiva psicológica –, permitindo que todos os integrantes do time sejam eles mesmos. Isso gera aproximação.
Um outro aspecto relevante de uma liderança inspiracional é englobar o conceito de unboss. A ideia é, basicamente, dissipar o controle e a estrutura hierarquizada a que estamos acostumados. É sobre dividir responsabilidades, abraçar eventuais falhas e até cometer erros. É possível experimentar diariamente ações que refletem a cultura unboss: apresentações internas de resultados trimestrais, por exemplo, podem ficar a cargo de analistas; escritório em formato open space; assuntos estratégicos para a companhia tratados de forma horizontal por equipes multidisciplinares. Só dará certo na prática se a companhia for comprometida com uma jornada de liderança inspiracional, dando protagonismo colaboradores de todos os níveis e aprendendo com eles.
O discurso da liderança inspiracional só se torna coerente a partir de um elemento que merece total atenção: a comunicação. Se faz fundamental porque, além de impactar diretamente a produtividade, a comunicação é a via para estabelecer o diálogo e traduzir missão e valores da empresa, tornando-os claros. Sem comunicação, também não há engajamento, palavra-chave de um líder que inspira. Transporte para o seu dia a dia profissional a cultura de compartilhar informação com os seus funcionários.
A jornada inspiracional deve ser pautada pela consciência pessoal e pela compreensão do impacto de sua liderança nos outros. Não é simples, uma vez que as mudanças devem começar internamente. Mas, concentrados nisso, é viável construir times, delegar atividades, gerenciar performances, desenvolvendo e, principalmente, inspirando os colaboradores.
Por Priscilla Cotti, diretora de People & Organization da Sandoz, divisão de genéricos e biossimilares da Novartis.