Para que a liderança se conecte com a realidade das equipes, é essencial criar um ambiente de confiança, onde as pessoas possam expressar diretamente os pontos que necessitam de melhoria na gestão.
Tiago Hayashida, gerente executivo de Gestão de Pessoas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE
A liderança efetiva e o engajamento dos colaboradores são temas conectados e fundamentais para o sucesso de qualquer organização, seja ela pública ou privada, independentemente do número de pessoas envolvidas. Essa constatação é empírica, diária, mas também é muito importante que as empresas tenham um olhar especial para os dados que ajudam a direcionar as iniciativas, melhorar indicadores e provocar transformações positivas no ambiente corporativo.
O relatório “State of the Global Workplace: 2022 Report”, da Gallup, estima que a ausência de engajamento nas empresas resulta em perdas superiores a US$ 8,8 trilhões em produtividade, o equivalente a 9% do PIB global. No Brasil, a situação é igualmente preocupante. O Engaja S/A, o primeiro índice de engajamento organizacional do país, idealizado pela Flash em parceria com FGV-EAESP e Grupo Talenses, revelou que seis em cada dez brasileiros estão desengajados no trabalho. Esse estudo, que envolveu 1.732 profissionais no final de 2023, mostrou que 69% desses trabalhadores possuem renda entre R$ 3 mil e R$ 22 mil, e quase 90% têm diploma de graduação ou pós-graduação. São profissionais qualificados, mas que ainda enfrentam grandes desafios em suas organizações.
Uma análise mais profunda nos mostra que os principais problemas em torno do desengajamento são: a insatisfação com a remuneração, a falta de oportunidades de crescimento e uma ausência de sinergia entre lideranças e seus times. Destaque às lideranças: o estudo mostrou que os executivos estão muito mais engajados (61%) do que o restante dos colaboradores (33%). Essa diferença chama atenção. Será que os executivos têm uma percepção demasiadamente enviesada da realidade? Será que nós, líderes, vivemos na Matrix?
Utilizando o conceito do clássico filme dirigido e roteirizado pelas irmãs Lilly e Lana Wachowski, o protagonista Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem programador de sistemas, descobre que é, assim como outras pessoas, vítima da Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real enquanto usa os corpos dos indivíduos para produzir energia.
Em dado momento do filme são oferecidas ao protagonista duas opções, materializadas na forma de pílulas. A pílula azul permite esquecer o que aconteceu e permanecer na realidade virtual da Matrix, enquanto a vermelha liberta e conduz ao mundo real, por mais difícil que seja.
Para que a liderança possa se conectar com a realidade das equipes é necessário um ambiente onde exista confiança, onde as pessoas possam dizer de forma direta quais são os pontos de melhoria da gestão. Para criar este ambiente o líder precisa dedicar tempo ao time, conversar com as pessoas, seja em ciclos de feedback, de one to one, ou informalmente nas interações do dia a dia. E nessas conversas precisa demonstrar três elementos fundamentais que semeiam confiança: autenticidade na relação; lógica nas argumentações; e empatia com as pessoas.
O principal indicador em gestão de pessoas na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE é o trust index da pesquisa de clima. Nos últimos anos temos conseguido evoluir esse indicador de forma consistente. Nossa visão é de que a liderança deve estar pautada em bases sólidas de empatia e proximidade, buscando sempre entender as necessidades e expectativas dos nossos colaboradores. Para isso, reforçamos práticas de gestão que aproximam a liderança das pessoas, como a realização de conversas individuais em que os líderes possam conhecer as histórias dos seus colaboradores para conectar as suas expectativas com os objetivos da CCEE. Buscamos sempre movimentar o time de modo que cada um esteja em funções nas quais seu potencial humano possa ser aproveitado ao máximo, criando um ciclo virtuoso de crescimento e benefício
A liderança eficaz é, portanto, um compromisso contínuo e diversificado que necessita de uma abordagem que combine dedicação, humildade, empatia e uma disposição constante para ouvir e aprender. Se estamos determinados a construir um ambiente de trabalho no qual todos possam desenvolver suas habilidades e se sentir valorizados, precisamos contribuir para a construção de um ambiente corporativo mais humano. Para além da gestão de pessoas, temos que pensar a gestão para as pessoas, afinal são ela que viabilizam a estratégia da organização.
Finalizo aqui refazendo a famosa pergunta de Morpheus: pílula azul ou vermelha?