Como a sensibilização da liderança impacta diretamente na saúde e felicidade dos colaboradores
“Seu gestor é mais importante para sua saúde do que o médico”
Adoraria ter escrito a frase acima, mas ela é de Bob V Chapman, CEO e escritor americano que, a partir de suas próprias experiências, tem provocado formas de repensar as responsabilidades das pessoas e das organizações no mundo corporativo.
Neste mês, compartilho um pouco do conteúdo que tive a honra de apresentar para 80 colegas e executivos de RH no 9º encontro de CHROs do EBDI, onde palestrei a respeito da sensibilização da liderança como foco genuíno no bem-estar dos colaboradores. Estamos em uma era em que o gestor é sim responsável pelo bem-estar do seu colaborador, mas nem sempre foi assim no mundo do trabalho. Relembro que, no passado, as instituições religiosas eram as grandes responsáveis pelas diretrizes do que era certo e errado e pelo que era bem ou mal socialmente; depois, essas expectativas e delegações foram estendidas para as instâncias políticas e, como era de se esperar, nenhuma das duas anteriores deu conta de suprir todas as demandas, transbordando o tema recentemente para as empresas e, por consequência, o papel do líder.
E já que mencionei as expectativas e responsabilidades delegadas às instituições, é importante mencionar as aspirações dos comportamentos humanos no decorrer dessas gerações. Por muitos séculos, o ato de casar e ter filhos era uma “efetivação” considerada previsível e promissora. Se compreendia como dever cumprido e, por consequência, atribuição de um suposto bem-estar social. Era comum ouvir os mais experientes de idade mencionando com orgulho que fulano tinha conseguido se casar e ter filhos, e um pesar na fala ao citar quem não tinha concluído tal feito.
Com o avanço dos séculos, o repertório se ampliou e abriu espaço para a frase: “Apesar de não ter casado e ter tido filhos, foi muito bem-sucedido na profissão e financeiramente, etc.” Por sua vez, as gerações evoluíram e agora vivemos a era em que muitos passaram a questionar os roteiros pré-definidos desses dois modelos de bem-estar social. Passou-se a observar exemplos práticos de que muitos se casaram e não foram felizes, outros tiveram filhos e os abandonaram, e os que tiveram “sucesso na hierarquia corporativa e no status social” podem ter ficado ricos, porém, sobrecarregados, infelizes, ansiosos ou depressivos.
E agora cá estamos nós, questionando o que é bem-estar e buscando loucamente pelo propósito, que para alguns já se concretizou e para outros ainda é algo tão abstrato, que inclusive a falta ou busca exaustiva por ele nos tempos atuais tem gerado um efeito de rebote: a angústia. Me comprometo, em outra edição, a explanar a respeito de propósito, mas por hora, era necessário trazê-los juntos nesse túnel do tempo de como esse tema antropologicamente se comportou e como os líderes passaram a ser recentemente e cada vez mais responsáveis por ele.
Se falamos agora da responsabilidade de líderes, falamos de pessoas, correto? E se esperamos que essas pessoas cuidem de outros, primariamente é importante termos em mente que, para serem genuínas e conscientes, é necessário perceber isso como uma escolha e não como consequência na carreira pela falta de opções, de valorização e recompensas em cargos solos. Compreendido isso como uma ação importante, creio que as empresas consigam ser ainda mais responsáveis ao estruturarem programas de “Pré-Natal de Líderes”, sim, estou me referindo ao cuidado de uma organização em planejar, engravidar e, principalmente, gestar líderes, não somente mapear potenciais e os intitularem a esses postos, fornecendo programas de desenvolvimento em fases pós a migração.
Aderir a programas dessa natureza é uma das formas de evitar que a escolha seja pela sedução do que o cargo oferece, mas materializar aos que são aspirantes, por meio de vivências, situações reais que possam experimentar comportamentos da função, tais como:
- Estar disponível para ouvir e direcionar o time, mas igualmente conseguir concluir sua própria agenda.
- Agir diante de incertezas e situações complexas, evitando a omissão.
- Tomar decisões difíceis e muitas vezes impopulares;
- Conciliar temas de negócios (performance, orçamento, etc.) e equilibrar a gestão empática.
- Lidar emocionalmente com as expectativas dos outros níveis (gestor, pares e times) a seu respeito.
- Agregar a cada evolução na carreira mais camadas de responsabilidades. A experimentação ajuda a concretizar a escolha e mitigar riscos para a carreira do profissional e envolvidos, assegurando melhor a evolução da maturidade do exercício da função.
Um líder consciente de seu papel passa a ser mais importante do que seu médico, como menciona o título, ao empregar no trabalho em e com você, situações da sua função, como: - Planejamento das atividades, orientando e te desenvolvendo em gestão de tempo, gerando previsibilidade de agenda para você conseguir implantar ou manter rotinas de atividades físicas.
- Sendo seu aliado na construção de uma apresentação técnica expositiva para outros profissionais, mas principalmente o treinando e gerando previsibilidade comportamentais de situações, que mitiguem quadros de ansiedade.
- Propiciando feedbacks técnicos e socioemocionais, oferecendo suporte para o desenvolvimento.
- Respeitando e valorizando seus recortes de diversidade, etc. Relações humanas são complexas, assim como o conceito de bem-estar, mas creio que ao repensar as formas no ambiente corporativo, possamos ter ganhos exponenciais para as empresas, que terão maiores chances de terem as pessoas certas nas posições certas, preservarem excelentes técnicos, garantirem legitimidade aos líderes de realizarem escolhas, terem uma boa fecundação e desenvolvimento. E o mais importante, termos liderados sendo cuidados de forma genuína e com novas referências aspiracionais e profissionais.
Heloísa Ramos é executiva com 15 anos de experiência em Gente & Gestão e ESG. Finalista do prêmio RH Mais Admirados do Brasil pelo Grupo Gestão RH; Colunista do Mundo RH; palestrante; co-autora do livro Mulheres do RH 2023 pela editora Leader; mentora voluntária de carreira para mulheres da ABRH, IVG e ONG Cruzando Histórias e madrinha do Instituto Amor em Mechas.