As convidadas falaram sobre suas trajetórias profissionais e desafios encontrados no mercado de trabalho
Consolidadas no mercado de trabalho e marcando uma importante presença no alto escalão das empresas, as mulheres têm cada vez mais o desejo de ocupar cargos de liderança. Pesquisa recente elaborada pela EgonZehnder, que contou com 7.000 entrevistadas no mundo todo, aponta que as jovens desejam cada vez mais estar no topo da hierarquia das companhias. Nos países emergentes, o índice tem ainda mais destaque: no Brasil, 92% delas querem conquistar esse espaço. Dados como esse embasaram a segunda edição do evento “Líderes e Filhas: Cultivando a Próxima Geração de Mulheres Líderes”, ocorrido nessa segunda-feira, 13 de março, no restaurante Cantaloup, em São Paulo.
“À medida que as meninas ficam mais maduras, as ambições vão se atenuando, isso talvez seja porque elas encontrem obstáculos, estereótipos e preconceitos no mercado de trabalho”, afirmou a executiva da EgonZehnder Ângela Pêgas na ocasião, ao explicar que o objetivo do encontro é justamente liquidar esses empecilhos, fomentando a busca de melhores caminhos e oportunidades para as gerações futuras.
Para inspirar as convidadas, a empresa suíça, especializada na identificação e no desenvolvimento de líderes, recrutou um time feminino poderoso no mundo dos negócios, esporte e ciência. Participaram do painel Bia Figueiredo, piloto de automobilismo brasileira, que atualmente compete na Stock Car; Cristina Junqueira, co-fundadora e VP de Branding e Desenvolvimento de Negócios do Nubank; Lygia da Veiga Pereira, professora-doutora titular de Genética Humana e chefe do Laboratório Nacional de Células Tronco Embrionárias da USP; e Priscila Cruz, fundadora e presidente-executiva do movimento Todos pela Educação. A mediação ficou a cargo da jornalista Izabella Camargo.
Durante pouco mais de uma hora, as convidadas falaram sobre suas trajetórias profissionais, os desafios encontrados, o apoio dos familiares, as inspirações valiosas que surgiram no caminho de cada uma delas e também da relação com os homens no mercado de trabalho. “Em 1994, quando comecei minha carreira, eram ainda mais raras as mulheres neste campo. A primeira que vi correndo no automobilismo foi a Suzane Carvalho, na Fórmula 3, e fiquei superempolgada com isso. E para mim isso foi uma baita surpresa positiva, ver que tinha alguém em quem eu poderia me inspirar. E aí fui seguindo, quebrando inúmeros tabus até chegar a uma categoria top internacional, a Fórmula Indy. E hoje é muito legal poder inspirar uma nova geração de meninas, tanto as que estão descobrindo o kart como as que estão praticando automobilismo no Brasil”, analisou Bia Figueiredo.
“Quando comecei minha carreira, há 20 anos, a gente escutava muito comentário feio, acontecia muita coisa feia, e a maneira de lidar com isso era ignorar, mudar de assunto. Hoje, estamos em outro momento, e temos total condição de rebater esses comentários, de dizer ‘olha, não achei graça nisso que você falou’ ou ‘não concordo com o que você está dizendo’. Levou um tempo, mas hoje a gente tem voz e consegue questionar. E isso abre espaço para as mulheres cada vez mais crescerem e assumirem cargos de liderança, algo que, quando comecei minha carreira, era muito difícil conseguir”, disse Cristina Junqueira.
Já Lygia Pereira contou que na academia a situação é um pouco diferente. “Dentro da área biológica, há muitas mulheres chefiando grupos de pesquisa. E esse campo tem uma vantagem, que é a flexibilidade de horário, o que deixa menos penosa a tarefa de se dividir entre os lados pessoal e profissional. Ou seja, o trabalho intelectual independe do lugar e do horário que você começa a desenvolvê-lo, o que ajuda na hora de a mulher se organizar para o trabalho, os filhos e as coisas de casa. Esse é um grande privilégio da academia. Quanto ao preconceito na minha área, nunca senti isso por ser mulher, talvez porque venho de uma família com muitos homens, então o universo masculino nunca me intimidou”, assinalou.
“Mas sinto que, na academia, ainda há espaço para as mulheres conquistar: a USP, por exemplo, em seus 80 anos de história, só teve uma reitora – mas, pelo menos, já teve uma reitora. O importante é que ninguém se ache menos por ser mulher. Você pode alcançar menos porque não tem capacidade, porque não quer, porque não tem vontade… Mas ser mulher jamais pode ser um fator limitante”, completou.
Priscila Cruz falou da importância da educação e lembrou também das vantagens das mulheres no meio profissional. “Quebramos alguma barreiras, temos uma voz suave, mudamos o tom. Tem uma questão de olhar, de cuidado com a sociedade, com o Brasil, com a escola, essa coisa do cuidar é muito feminino, e a gente tem de aproveitar. A mulher é muito boa para ouvir. Tem coisas que a mulher faz muito bem, outras que os homens fazem, tem coisas nas quais nos complementamos, outras em que nos igualamos”, assinalou. “Não dá para pensar em um país que seja bom para todos, com crescimento econômico, distribuição de renda, saúde, segurança pública e uma série de conquistas importantes que o Brasil precisa alcançar sem passar por uma educação de qualidade. E se pensar que a mulher ainda precisa conquistar o mercado de trabalho de maneira mais forte e que ela precisa se inserir como cidadã com voz ativa, o papel da educação é duplamente importante, é uma coisa estratégica”, completou.
Além do encontro realizado em São Paulo, a ação “Líderes & Filhas” ocorrerá em mais de 37 cidades dos cinco continentes. Em todos os lugares, o objetivo é o mesmo: mostrar a importância de incentivar e dar suporte para que as jovens mulheres explorem e desenvolvam seu potencial, sempre expondo que há desafios e obstáculos no caminho, mas também motivação e muitas oportunidades.