O jornalista Edvaldo Pereira dos Santos, mistura os dois gêneros do jornalismo literário
Lançado no final de outubro, o livro “O Mentor – A Jornada Inspiradora de Roberto Shinyashiki, Um Homem Movido por Transformar a Vida das Pessoas” não se trata de uma biografia clássica, como bem afirma seu autor, o jornalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Edvaldo Pereira do Santos. Adepto do jornalismo literário, Edvaldo afirma que mesclou elementos de dois gêneros de escrita – a biografia e o perfil – para tornar ainda mais envolvente a trajetória do psiquiatra, palestrante e escritor de best-sellers no segmento de autoajuda.
Conforme Edvaldo, em uma biografia tradicional costuma-se relatar a vida inteira do biografado, com ênfase nos feitos importantes, de maneira linear, do nascimento até o presente. Já no perfil, o centro da narrativa são os acontecimentos presentes, com o intuito de traçar um retrato psicológico da personagem.
Na biografia sobre Shinyashiki, o autor explica que optou pela mistura dos dois gêneros principalmente porque o retratado ainda está ativo e continua escrevendo sua própria história. Neste sentido, é interessante mostrar não só o que ocorreu, os fatos que trouxeram a personagem principal até a atualidade, como também quem é essa pessoa hoje, o que ela pensa.
Trabalhando o gênero biográfico ou o perfil, Edvaldo destaca que procurou enfatizar em seu livro algo o que é caro ao jornalismo literário: a contextualização. “Há os fatos, os acontecimentos, mas de onde vem aquilo? O que gerou aquilo? O que contribuiu para aquela pessoa ser o que é? Então, eu busco oferecer uma compreensão. Existe a história, mas junto uma explicação para o leitor entender o sentido da história”, diz.
Tal riqueza de detalhes faz com que o leitor mergulhe mais a fundo na história que está sendo contada. Conforme o autor, os textos do jornalismo literário apelam muito aos sentidos, tornando-se muito semelhantes a cenas de filmes. Mas, as pessoas não funcionam como meros espectadores. “É como se elas entrassem na tela do cinema e vivenciassem os acontecimentos junto aos atores”, conta.
No que diz respeito ao livro sobre Shinyashiki, este paralelo com o cinema pode ser exemplificado pelo início do primeiro capítulo da biografia, no qual o autor descreve um evento promovido pelo palestrante especialista em autoajuda no hotel Maksoud Plaza, na cidade de São Paulo. Trata-se do começo da história sobre a vida de Shinyashiki, mas a atenção é direcionada ao local em que ocorre o evento, às pessoas que estão chegando para prestigiá-lo, e nas razões que as levaram até lá. “A ideia é presentificar a história”, destaca Edvaldo.
Outro ponto importante para o texto do jornalismo literário, seja perfil ou biografia, a fim de aproximar mais o leitor a obra, segundo Edvaldo, é a centralização na figura humana não apenas do protagonista, mas de todos que estão à volta dele. Conforme o autor, o livro a respeito de Shinyashiki envolve “todas as pessoas que participaram da vida do psiquiatra de alguma forma: amigos, família, colegas de trabalho etc.”.
Por meio dessas diversas perspectivas, a intenção é fazer o retrato mais fiel possível do biografado. “É uma narrativa para tentar compreender aquela pessoa e o ser humano possui luzes e sombras, altos e baixos”, enfatiza o autor. Neste sentindo, a biografia sobre Shinyashiki também relata episódios negativos da história do palestrante renomado, como a ocasião em que quase levou sua editora à falência.
Conforme Edvaldo, o objetivo de um relato biográfico como o que se propôs é traçar o perfil não apenas da figura pública, mas da figura pessoal. No livro, por exemplo, há uma cena em que o autor descreve a casa de Shinyashiki em detalhes, a conversa com a esposa, a fim de revelar a intimidade do biografado, retratando-o melhor, e tornando mais forte a conexão com o leitor. A intenção não é elevar a pessoa e nem criticá-la, mas tentar compreendê-la, saber como ela viveu os desafios que surgiram, ou seja, “onde ela errou, acertou, cresceu, apanhou”.
Para isso, Edvaldo empregou um método de organização narrativa muito caro aos grandes cineastas da atualidade: a jornada do herói. Método que consiste em mostrar a sequência de acontecimentos dramáticos vividos pela protagonista da história e as formas como ele encontrou para superá-los.
Arquétipo desenvolvido pelo psicanalista Carl Gustav Jung, o mentor também é um modelo de ação e comportamento encontrado na jornada do herói e no livro, Roberto Shinyashiki encarna essa figura, que guia, ensina o herói sobre como trilhar a sua jornada. “O Roberto vive pelos outros, ele quer potencializar a capacidade das pessoas, seja no âmbito puramente profissional ou da vida pessoa. Ele é a grande figura do mentor”, afirma.