Transformação cultural na Microsoft: Aprendizados e estratégias
Colunista Mundo RH, Márcio Alencar, diretor de Estratégia Digital, Marketing e Negócios da Alelo
Em janeiro, durante a NRF – National Retail Federation, maior evento do varejo mundial, tive o privilégio de conhecer o case da Microsoft sobre a transformação de sua cultura organizacional.
Em um encontro promovido pela BTR Varese, Irada Sadykhova, Diretora Sênior de Desenvolvimento Organizacional da empresa, nos brindou com 10 aprendizados desse processo.
- Honre seu passado; defina seu futuro
Há pouco mais de uma década, a Microsoft enfrentava um momento difícil. O Windows 8 não fez o sucesso esperado, o Bing não decolava e, no mobile, a empresa perdia para Apple e Samsung. Esses e outros problemas derrubaram o preço das ações.
Steve Ballmer, o então CEO, deixou o cargo e foi substituído por Satya Nadella, que promoveu uma série de mudanças para reverter a situação. Ele começou por resgatar um dos principais atributos da Microsoft: a inovação.
Relembrar quem você foi, quem é e como chegou até aqui fortalece a entrega futura. Uma organização precisa estar em movimento, se adaptando e se desenvolvendo, mas sem perder a essência do que a fez prosperar.
- Simples, mas estratégico
Ter raízes no passado, contudo, não significa desvalorizar o presente e, muito menos, ignorar o futuro. Uma empresa moderna precisa ser orientada para o crescimento e construir uma cultura capaz de buscar e aplicar inputs de clientes e colaboradores.
Essa escuta atenta pode e deve ser usada como fonte de estratégia para o negócio. Irada resumiu essa postura da Microsoft com uma frase de Satya Nadella: “Não queremos ser uma organização que ‘sabe tudo’, mas uma organização que ‘aprende tudo’”.
A busca incansável por tornar a vida do cliente mais fácil e o envolvimento de toda a empresa nessa missão, do estagiário ao presidente, acelera a geração de valor e a relevância do negócio e está diretamente ligada à mentalidade de crescimento.
- Não dá para fingir
Uma cultura não se finge, se forja. A transformação da cultura organizacional leva meses, muitas vezes anos. As evoluções culturais demandam tempo e não são uma responsabilidade apenas do CEO ou dos C-levels.
A cultura é um ativo da organização que deve ser visto e revisto permanentemente e tratado como tema estratégico. Afinal, é por meio de como as pessoas pensam e agem que a organização poderá se tornar perene e maior do que seus próprios fundadores – algo de que Simon Sinek trata no livro O Jogo Infinito.
- Tenha uma missão orientada pelo propósito
Na Alelo estamos passando pelo processo de ter clareza sobre nosso propósito, de definir para aonde estamos indo, qual nosso objetivo e missão. A missão deriva do propósito, da visão de como chegaremos aonde desejamos e quais entregas queremos fazer para os nossos clientes, colaboradores, acionistas e sociedade.
Assim como a Microsoft, acreditamos que o propósito move as pessoas, guiando-as para uma direção em que não há dúvidas sobre o papel que o negócio quer exercer no macro e micro mercados.
- Faça mudanças simbólicas, pequenas ou grandes
Crescimento e desenvolvimento organizacional não demandam apenas rapidez, mas intencionalidade. Ou seja, fazer as mudanças necessárias, grandes ou pequenas, que gerem capacidade de adaptação, de reação aos desafios impostos pelo mercado e que movimentem as pessoas na mesma direção, evitando o desperdício de energia.
A velocidade aliada à capacidade de reação a pequenas, médias ou grandes mudanças é muito importante para a organização que deseja ter uma cultura forte.
- Faça como você é
Qualquer produto/serviço que uma empresa ofereça deve ter seu DNA. A Microsoft tem soluções que geram a percepção de singularidade, o que nem sempre é possível para empresas de todos os segmentos, ainda mais em um mercado tão diversificado.
Porém, o fato de eles tratarem a tecnologia como um instrumento para promover o bem e construir projetos ousados, dentro e fora da companhia, move as pessoas, consolida sua cultura e inspira entregas relevantes.
Além disso, Irada trouxe o tripé de valores inegociáveis que guiam a companhia e compõem uma cultura organizacional forte: respeito, integridade e responsabilidade. Como Satya Nadella afirma em sua biografia, “nossos produtos podem ir e vir, mas nossos valores são atemporais”.
- Comunique, comunique, comunique
A comunicação esteve no centro do processo de transformação da cultura organizacional da Microsoft e é elemento fundamental de qualquer cultura forte. Uma comunicação incansável, multilateral, multiformato, em todos níveis e que não deixe dúvidas.
A ansiedade e a incerteza, combustíveis dos momentos de crise, são produtos da dúvida. Essa, por sua vez, só existe quando a comunicação não é transparente, objetiva e assertiva acerca do que está sendo ou não feito e do porquê.
- Deixe a tecnologia acelerar a mudança
Costumamos ser cautelosos e (às vezes, com razão) um tanto desconfiados das ferramentas digitais, mas isso não deve nos impedir de fazer da tecnologia um catalisador da transformação e da evolução de negócios. Eleger a tecnologia como um atributo da cultura organizacional é essencial no contexto de rápidas e constantes mudanças em que vivemos.
- Todos os remos na água
A colaboração e o aprendizado coletivo são atributos muito valorizados na cultura da Microsoft. Em uma organização forte não existem super-heróis. As coisas são resolvidas a partir da inteligência coletiva. Ainda que alguns liderem esse processo, o resultado é sempre do conjunto.
Para ilustrar esse ponto, Irada trouxe como exemplo o trabalho de uma equipe de remo. Se o remador da proa e o da popa não estiverem em sincronia os demais não vão atingir a velocidade máxima. É superimportante todos estarem no mesmo ritmo, na mesma sintonia, garantindo que o time aprenda junto e que o resultado coletivo seja mais importante que o individual.
- Permaneça humilde e mantenha o rumo
Muita gente encara a humildade como algo menor, ligado à subserviência ou sujeição. Mas humildade é ter a presença de espírito de reconhecer que você é pequeno diante da imensidão do mundo e do mercado.
Quando você sabe quem é, conhece suas competências, forças e fragilidades, e tem a real dimensão do papel que exerce, fica mais fácil se manter no rumo, não importa o que aconteça.
Em suma, a cultura organizacional molda qualquer circunstância. Quando ela verdadeiramente é forte, o CEO pode mudar quantas vezes forem necessárias e a cultura permanecerá a mesma. A Alelo é um bom exemplo disso: uma empresa de apenas 20 anos, que teve alguns presidentes, e desde então tem visto sua cultura evoluir constantemente.
Que a transformação cultural da Microsoft inspire você e sua empresa a cultivar conexões mais genuínas, fortes e transparentes com seus stakeholders.