A influência das mulheres fortes na minha vida: uma reflexão sobre liderança e sensibilidade
Tiago Hayashida, Gerente Executivo de Gestão e Pessoas na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE
No mês em que comemoramos o Dia Internacional das Mulheres fui desafiado a escrever sobre equidade de gênero. Entretanto, o fato de não fazer parte do grupo feminino se impôs como uma barreira para mim. Como falar sobre as mulheres sem ter experimentado as belezas e as dificuldades de ser mulher? Ainda mais num país tão desigual como o Brasil.
Refletindo sobre a questão, me dei conta de que poderia falar sobre o tema de outro lugar. Das minhas experiências com o universo feminino, uma vez que a presença de mulheres fortes na minha vida tem sido uma constante.
Apesar da previsibilidade, tudo começa com minha mãe, a mulher mais forte que já conheci. Conhecendo sua história reconheço que teve uma infância difícil, talvez muito mais difícil do que a maioria das pessoas que dizem que tiveram uma infância difícil. Mas ela nunca reclamou disso.
A sua força se apresenta na forma de encarar as dificuldades da vida. Sem lamentos, com pragmatismo e energia. Em alguns momentos a considerei demasiadamente dura, até fria, mas hoje admiro o modelo e tento replicá-lo. Pela observação das sutilezas do dia a dia consegui perceber que, por trás de toda aquela fortaleza, existe enorme sensibilidade e um enorme coração.
Ela representa muito bem o que a psicóloga Edith Eva Eger coloca no seu brilhante livro “The Choice”, traduzido para o português com o infeliz título de “A Bailarina de Auschwitz”: “Existe uma diferença entre ser vítima e se fazer de vítima. Somos todos suscetíveis a nos tornar vítimas de alguma maneira. Todos sofremos algum tipo de aflição, desgraça ou abuso causado por pessoas ou circunstâncias sobre as quais não temos controle. Isso é ser vítima. É algo que vem de fora. Em contrapartida, o complexo de vítima vem de dentro. Ninguém pode fazer você se sentir inferior a não ser você mesmo. Nós nos tornamos vítimas não pelo que acontece conosco, mas quando escolhemos nos agarrar ao sofrimento.”
Talvez por ter sido criado por uma mulher forte, minhas escolhas – e o destino, se é que ele existe – me colocaram sempre ao lado de outras mulheres assim. Esposa, filha e irmã com essas características. Na vida profissional convivo com superiores, pares e colegas de equipe que também podem ser consideradas exemplos de mulheres fortes.
Feita essa introdução, trago o ponto central que gostaria de tratar nesse artigo. O efeito que a convivência com essas mulheres teve na minha vida.
Na juventude, talvez como a maior parte dos garotos daquela geração, admirava a atitude do macho alfa. Ser dominante e confiante era a regra, líder do grupo. A agressividade era algo positivo, admirado. Tentei seguir esse modelo durante um bom tempo, inclusive na vida adulta. Hoje olho para trás com certo constrangimento, mas faz parte da minha história.
Nesse período, o conflito era a principal ferramenta a ser utilizada. Todos eram oponentes. E é nesse ponto que a presença dessas mulheres começou a me moldar. Com o refinamento do olhar que somente a maturidade proporciona, percebi outras formas de atuar, muito mais assertivas e satisfatórias do que o conflito.
Percebi que forte é aquele que demonstra fraqueza e que tem coragem de enfrentar aquilo que o amedronta. Percebi que por detrás de um posicionamento duro pode se esconder um grande afeto. Percebi que o vitorioso nem sempre é aquele que impõe seu ponto de vista, mas sim aquele que consegue transmitir verdade na sua posição. Percebi que as pessoas não mudam perante a força, mas sim perante o acolhimento. Percebi que cuidado é amor.
Realmente acredito que as mulheres tratam os problemas de forma diferente dos homens. A neurociência já explora o tema e comprova que as conexões entre os cérebros masculino e feminino se dão de formas diferentes. Talvez por esse motivo as lideranças mundiais que tiveram mais sucesso recentemente – na minha escala de valores, claro – tenham sido mulheres. Admiro muito os trabalhos da Angela Merkel, Ex-Chanceler da Alemanha, e da Jacinta Ardern, Ex-Primeira Ministra da Nova Zelândia.
Será que se tivéssemos mais lideranças mundiais femininas os problemas globais que enfrentamos nesse momento estariam no alarmante patamar atual? Fica a reflexão para vocês, cara leitora e ilustre leitor.
Finalmente, eu lhes desejo um mundo com mais Angelas, Jacintas, Marys, Juliannas, Laises, Amandas, Roseanes, Talitas, Flávias, Carolines, Priscilas, Madalenas, Julianas, Fabianas… e todas aquelas que orbitam minha vida e me fazem melhor a cada dia.