Equidade de gênero na indústria: um caminho para inovação e competitividade.
Roberta Silvestre – diretora de Recursos Humanos da Tetra Pak Brasil.
A indústria sobrevive da inovação, não de fazer mais do mesmo. Seja por meio de novos produtos ou serviços, criar diferenciação sempre foi uma máxima do setor. Nesse contexto, a pluralidade de pensamentos é essencial.
Até um passado recente, o setor industrial era dominado por homens, tanto na atuação operacional quanto nas principais tomadas de decisão. Hoje, felizmente, a presença feminina nesse ambiente está se tornando mais comum – e isso é um sinal positivo.
No entanto, ainda estamos longe da equidade de gênero. As mulheres continuam sendo minoria e, em muitas organizações, recebem salários menores, mesmo ocupando cargos equivalentes aos dos homens. Precisamos discutir essa realidade, não como um modismo ou apenas porque o tema está em destaque na agenda ESG, mas porque a questão reflete diretamente nos caminhos da indústria e no seu papel na sociedade.
No segmento de alimentos e bebidas, com o qual temos uma atuação próxima, vale destacar um ponto importante: de maneira geral, as mulheres desempenham um papel decisivo no momento das compras. Uma pesquisa recente da Neogrid e Opinion Box mostra que, para 66% dos brasileiros, o preço é o fator mais importante ao decidir por uma compra. O estudo revela ainda que 81% das mulheres são as mais atentas ao custo. Esses dados reforçam como ter mulheres em cargos de liderança estratégica pode ser um diferencial competitivo, já que essa representatividade pode trazer insights valiosos para alcançar o consumidor final de maneira mais assertiva.
Dados do Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram que a participação das mulheres em cargos de gestão no setor aumentou de 24% para 31,8% entre 2008 e 2021. No entanto, segundo uma pesquisa de 2023 do Fórum Econômico Mundial, seriam necessários 131 anos para alcançar a igualdade de gênero, caso o ritmo atual de progresso em áreas como economia, saúde, educação e participação política se mantenha.
O grande desafio da indústria está em romper paradigmas culturais que vão muito além de suas fronteiras. Ainda vemos mulheres sacrificando suas carreiras em prol dos cuidados com a família – uma dinâmica menos comum entre os homens. Persistem também preconceitos que dizem que “certas profissões não foram feitas para elas” ou que o ambiente industrial é “pesado demais” para as mulheres.
Quando uma mulher abandona sua carreira ou quando não criamos condições para que ela possa equilibrar trabalho e vida pessoal, a indústria como um todo perde. Perde em pluralidade, em novas perspectivas e, principalmente, na capacidade de inovação.
Um exemplo disso pode ser visto na engenharia, uma área crucial para o setor industrial. De acordo com dados do IBGE de 2021, apenas 21,6% dos estudantes de engenharia no Brasil eram mulheres. Por outro lado, currículos femininos frequentemente apresentam um número maior de qualificações, como graduações e pós-graduações, em comparação aos homens na mesma posição hierárquica. Esse é mais um reflexo do viés cultural que impõe exigências maiores às mulheres para que provem sua competência.
Então, como a indústria pode ajudar a transformar esse cenário?
Além de atrair e reter talentos femininos, é fundamental focar no empoderamento, garantindo que as mulheres se sintam confiantes em suas capacidades. Programas conjuntos com clientes, fornecedores e até mesmo iniciativas públicas podem ser um caminho para promover essa inclusão de forma estratégica e eficaz.
A indústria que souber aumentar a participação feminina em seu quadro terá uma vantagem competitiva inegável, tanto no presente quanto no futuro. As mulheres trazem novas perspectivas, contribuem para soluções mais criativas e, acima de tudo, ajudam a moldar um setor mais plural e inovador.