Com perfis diversos e histórias reais de superação, a pós-graduação stricto sensu ganha força como ferramenta de inclusão social, valorização profissional e transformação no mercado de trabalho.
O avanço da pós-graduação no Brasil está rompendo barreiras históricas e se consolidando como um potente instrumento de mobilidade social, inclusão e mudança de trajetórias profissionais. Mais do que um título acadêmico, os programas de mestrado e doutorado têm representado, cada vez mais, o acesso a espaços de decisão, reconhecimento e impacto social — principalmente para profissionais que antes não se viam pertencentes a esse universo.
É o que revela um estudo recente do Instituto de Estudos Avançados da USP, que aponta o impacto direto dos programas stricto sensu em comunidades vulneráveis, por meio da ampliação do acesso ao conhecimento, à ciência e à sistematização da experiência prática.
No centro dessa transformação está Isa Sara, educadora, mentora acadêmica e fundadora do método Mestrado Aprovado, voltado à preparação de candidatos com perfis diversos para os processos seletivos de pós-graduação. “O mestrado é uma ferramenta concreta de inclusão. Não é só sobre um diploma — é sobre acessar novos espaços, ocupar lugares de fala e redesenhar possibilidades de futuro”, afirma.
Quem pode fazer mestrado? Todo mundo — mas nem todos se veem assim
Isa desafia uma percepção ainda comum: a de que a pós-graduação é voltada apenas a jovens pesquisadores acadêmicos com perfis técnicos. “Hoje, vemos gestores, educadores, especialistas experientes que encontram na pós uma forma de potencializar suas atuações. Eles não estão começando do zero — estão sistematizando saberes acumulados ao longo de décadas”, explica.
Ela mesma é exemplo dessa mudança. Vinda da Bahia, Isa se mudou para Brasília em busca de oportunidades. Em condições modestas, trilhou sua jornada acadêmica: do mestrado ao doutorado, com parte da pesquisa realizada na Europa. “Essa vivência foi um divisor de águas. Quando percebi o quanto minha vida havia mudado com a educação, entendi que precisava ajudar mais pessoas a viverem o mesmo.”
Uma metodologia para democratizar o acesso à pós
Foi dessa motivação que nasceu o Mestrado Aprovado, uma metodologia que já ajudou milhares de brasileiros a ingressar em programas de pós-graduação em instituições públicas e privadas. O foco está em preparar emocional e tecnicamente os candidatos — especialmente aqueles que enfrentam desafios como falta de familiaridade com a escrita acadêmica, acesso limitado à tecnologia e insegurança pessoal.
“Antes de qualquer aula, é preciso romper a crença de que certos espaços não são para eles. Muitos não se veem como possíveis mestres ou doutores. Meu trabalho é mostrar que eles pertencem, que suas trajetórias são valiosas. O conhecimento técnico se ensina; a confiança, construímos juntos”, diz.
Histórias que transformam realidades
Isa se emociona ao lembrar histórias como a de Silvane Friebel, ex-aluna e hoje doutoranda: “Ela começou cheia de dúvidas, acreditou em si, se preparou e hoje trilha uma carreira brilhante. A reencontrei em um congresso e me emocionei — ela é símbolo de como a pós pode mudar vidas.”
Outro exemplo citado é o de Gisvaldo, filho de ribeirinhos da Bahia. “O mestrado o transformou. Ele passou a atuar em novas frentes, ampliou sua voz na comunidade e gera impacto real. São casos que mostram que pós-graduação também é sobre justiça social.”
Desafios persistem: tecnologia, escrita e acolhimento
Apesar dos avanços, Isa aponta entraves importantes. “Muitos candidatos têm dificuldade com tecnologias básicas e não foram treinados para escrever projetos ou artigos científicos. São profissionais competentes, mas afastados da linguagem acadêmica — isso precisa mudar.”
Ela reforça a importância de oferecer suporte emocional, metodológico e técnico desde o início, criando uma ponte real entre o mundo prático e o universo acadêmico. “O RH das empresas pode ser um grande aliado nesse processo, oferecendo incentivos à pós-graduação e reconhecendo o valor da diversidade de saberes que ela traz.”
A pós-graduação está mudando — e o perfil do sucesso também
Para Isa, o ambiente acadêmico está passando por uma revolução silenciosa. “Não se trata mais apenas de quem domina outra língua ou tem dezenas de artigos publicados. O diferencial hoje é saber gerar impacto real. A valorização das habilidades socioemocionais e da experiência de vida está crescendo, inclusive na academia.”
Ela conclui com um alerta para o mundo corporativo: “O sucesso não está mais restrito ao raciocínio lógico. Hoje, ele envolve colaboração, diálogo, pensamento crítico e propósito. E tudo isso pode — e deve — ser potencializado pela pós-graduação.”