Andrea Cavallari é diretora de Soluções e Tecnologias Emergentes para a América Latina na Red Hat
A tecnologia tem sido responsável por lançar grandes nomes no mercado. Steve Jobs, Bill Gates, Mark Zuckerberg, apenas para citar alguns, aparecem quase todos os dias nas manchetes mundo afora. Mas você é capaz de lembrar de alguma mulher que esteja à frente dessas grandes empresas? Embora haja grandes expoentes femininos ao longo da história do segmento, as mulheres sempre enfrentaram desafios para fincar seu lugar na tecnologia.
Pesquisa da Women in Tech, do Reino Unido, aponta que apenas um em cada seis especialistas em tecnologia no país é mulher e apenas um em cada dez está em cargos de liderança em TI. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 20% dos profissionais de TI representam a participação feminina. Nas universidades, elas representam apenas 25% dos graduados nas áreas de tecnologia nos últimos anos, segundo dados divulgados pelo Women in Data Science (WiDS).
Mudar esse cenário tem sido um trabalho árduo, mas as mulheres estão mostrando cada vez mais força e coragem para almejar postos de trabalho mais altos e posições de liderança. A inspiração pelo exemplo também contribui: ao ver uma mulher conquistando um importante cargo, outras se sentem motivadas e inspiradas a também trilhar esse caminho. Pouco a pouco, o tema vem ganhando espaço, com empresas e instituições de ensino desenvolvendo programas e iniciativas focadas em engajar mulheres no setor de tecnologia.
Essa transformação tem sido impulsionada pela abertura das companhias para o tema diversidade e inclusão. Entre os diversos públicos que estão englobados pelas políticas de D&I, as mulheres aparecem como uma das grandes prioridades do mercado. Muitas companhias já entenderam que diversidade traz vantagens competitivas e mantém os colaboradores engajados, despertando o sentimento de orgulho em pertencer a uma empresa plural, que valoriza todos os profissionais.
Despertando o protagonismo
Uma pesquisa global da consultoria KPMG, publicada no fim do ano passado, mostrou que a América Latina tem mais mulheres em posições de liderança em tecnologia do que países com uma agenda de diversidade muito mais avançada. De acordo com o levantamento, a participação de mulheres em posições seniores em tecnologia na região está atualmente em 16%. A porcentagem é significativamente maior do que os 4% de representatividade feminina nestas funções em países como o Reino Unido, e superior à média global de 11%.
Os números corroboram o discurso de que as mulheres não só podem como devem assumir um papel de maior protagonismo nas corporações. Para tanto, é preciso que as empresas pensem e apliquem no dia a dia estratégias de inclusão que beneficiem tanto o crescimento das profissionais femininas, como da organização como um todo. E não é preciso ir longe ou criar programas megalomaníacos para isso. Algumas iniciativas simples podem ser fundamentais para mudar o panorama do mercado:
- Transparência
Uma das primeiras ações a serem implementadas é o mapeamento de quantas mulheres existem na organização por cargos e áreas. Esses dados ajudam a gerar awareness, provocando a reflexão e conscientização sobre o tema. Compartilhar esta análise de forma frequente e transparente mostra aos colaboradores que a empresa está comprometida em melhorar a inclusão e fomentar o engajamento.
- Grupos de trabalho diversos
Outra ação simples se propõe a quebrar silos por gênero, mesclando os profissionais para projetos ou iniciativas internas. A prática visa fazer com que as pessoas se acostumem a ter a presença feminina e masculina sempre juntas, desmistificando o viés de que determinada área precisa ter a predominância de apenas um dos gêneros.
- Diminuir os vieses dos processos seletivos
O ideal é que os processos de seleção sejam transparentes considerando e respeitando a diversidade. Os recrutadores precisam tentar ao máximo se desprender de vieses conscientes e inconscientes, buscando avaliar unicamente as qualificações do profissional.
4) Estabelecer programas de formação internos
Ao invés de dizer que não há talentos capacitados no mercado, o ideal é investir em programas de formação de liderança interna, usando os talentos já existentes e moldando-os com os valores e a cultura da empresa. Desta forma, quando houver necessidade de contratação, a companhia terá talentos capacitados o suficiente para assumir a posição.
- Evitar distinções
Os reconhecimentos devem ser direcionados ao profissional que conquistou os bons resultados, independente de gênero. Quando uma mulher vê outra sendo reconhecida, automaticamente gera inspiração.
- Criar grupos de apoio
Muitas mulheres se sentem tolhidas ou tratadas de forma diferente dentro das organizações. Criar grupos de discussão apenas com profissionais femininas, a fim de oferecer um ambiente seguro que possibilite trocas, gera empatia e união.
- Garantir diversidade desde os níveis executivos
Muitas vezes vemos o alto escalão das organizações atuando como defensores dos temas de diversidade e inclusão, quando a direção é composta apenas por homens. É importante considerar a presença de mulheres em todos os níveis do ecossistema, inclusive nos cargos C-level e nos boards, para que a mensagem seja realmente levada a sério pelos associados, ao espelho da alta liderança.
É claro que a implementação dessas ações não acontecerá rapidamente, mas ditam o caminho para uma transformação profunda, verdadeira e de ponta a ponta nas organizações. Prover a inclusão feminina na indústria da tecnologia é uma demanda pendente há décadas e, se cada companhia, cada gestor e colaborador, fizer a sua parte, em breve teremos uma evolução positiva e muitos números a comemorar.
