Tomás Ferrari, CEO e fundador da GeekHunter, empresa especializada no recrutamento de profissionais de tecnologia
A competição por profissionais de tecnologia há anos é acirrada, pois a oferta e a demanda é completamente desbalanceada, ou seja, falta mão de obra qualificada para o grande volume de oportunidades que existem no mercado. Isso já acontecia antes da pandemia, mas hoje essa diferença se tornou ainda mais acentuada. Antes a demanda por equipes de programadores estava quase que atrelada apenas a empresas de tecnologia intensiva. Na nova realidade, com o distanciamento social e o trabalho remoto, muitas companhias de setores tradicionais também precisaram se digitalizar e investir em mão de obra para ajudar nessa transformação digital.
Levantamento feito pela GeekHunter, marketplace especializado no recrutamento de profissionais de TI, mostra que o crescimento na abertura de vagas no primeiro semestre de 2021 foi de 185%, em comparação ao mesmo período do ano passado. Mas a oferta não acompanhou o mesmo ritmo.
Diante da falta de desenvolvedores para suprir a demanda do mercado, as empresas estão tendo que mudar suas estratégias de contratação, atração e retenção de talentos. Uma das mudanças que vemos é a abertura de mais oportunidades para perfis com menos experiência ou em início de carreira.
A mesma pesquisa, feita com mais de 400 empresas, aponta que houve um aumento de 173% nas oportunidades para profissionais juniores, que têm até dois anos de experiência, e de 344% para plenos, com dois a seis anos. As vagas para desenvolvedores mais experientes, com mais de seis anos de carreira, tiveram um crescimento menor em 2021, de 131%.
A contratação de profissionais juniores, principalmente de primeiro emprego, é uma grande tendência que as empresas começam a enxergar como oportunidade. Além do relevante propósito social de contribuir com uma grande problemática de mercado, empresas fortalecem suas marcas empregadoras frente a todas gerações de desenvolvedores, desde os mais juniores até os mais seniores, construindo assim, uma sólida estratégia de atração e retenção de talentos.
Trabalho remoto
Outra tendência intensificada pela pandemia é o trabalho remoto. Apesar de ter sido uma imposição por conta da crise sanitária, o modelo remoto ampliou a competição, pois deixou de ser local e passou a ser global, incluindo a contratação por empresas de qualquer lugar do mundo. Por outro lado, também trouxe a oportunidade de aumentar as chances de contratação de bons profissionais independentemente do local de atuação.
Hoje, oferecer a possibilidade de trabalhar remoto já não é uma questão de escolha das empresas, é uma escolha dos candidatos, que estão abertos a essas oportunidades. Se a empresa não se adapta a esse novo cenário, ela eleva o seu desafio de atrair grandes talentos e fica extremamente limitada a um pequeno público que está disponível para vagas presenciais. Por isso, mesmo com o avanço da vacinação e o fim das restrições de distanciamento social, esta modalidade veio para ficar.
Habilidades interpessoais
A terceira mudança que observamos é a forma como as empresas avaliam o profissional de tecnologia. Quando olhamos para o mercado de contratação tradicional, o recrutador busca avaliar as características técnicas necessárias para determinada função. Mas, quando falamos do setor de TI, não adianta olhar especificamente apenas para a parte técnica, porque a tecnologia que a empresa avalia hoje poderá já não ser mais utilizada amanhã.
Com isso, as empresas estão saindo de uma linha de contratar profissionais pelo conhecimento específico de uma tecnologia e valorizando a contratação daqueles com habilidades de adaptabilidade e características de qualidade interpessoais que se encaixam com o que elas estão buscando.
O RH precisa analisar se o candidato tem boa comunicação verbal e interpessoal, se está apto a resolver problemas e, principalmente, se tem alta adaptabilidade, pois isso está ligado às mudanças de tecnologia recorrentes na empresa e que esse profissional precisará se adaptar rapidamente. Em resumo, este é o típico bom profissional que as companhias precisam, aquele que vai aprender e desaprender muito rápido.