A nova prioridade dos trabalhadores brasileiros vai além do salário, com foco em treinamento contínuo e equilíbrio entre vida profissional e pessoal, como revelam pesquisas globais recentes.
A busca por melhores condições de trabalho não se limita mais a salários atrativos ou pacotes de benefícios robustos. Uma pesquisa global da Ipsos, encomendada pela Gi Group Holding, multinacional de recursos humanos, aponta que a prioridade dos trabalhadores está se transformando. No Brasil, o treinamento contínuo e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal se destacam como fatores decisivos para satisfação e engajamento no ambiente corporativo. A pesquisa, que abrangeu 12 países de três continentes, mostra que as expectativas estão evoluindo rapidamente, refletindo uma nova realidade do mercado de trabalho.
Entre os brasileiros, 80% dos entrevistados afirmaram que programas permanentes de capacitação são essenciais para seu contentamento profissional. O Brasil aparece em segundo lugar no ranking global de países que mais valorizam treinamentos, ficando atrás apenas da Índia, com 81%. Isso demonstra que, em economias emergentes, a atualização constante e a adaptação às novas tecnologias são vistas como fundamentais para a competitividade, mais até do que em países desenvolvidos como Itália (59%) e Reino Unido (58%).
Milena Pacheco, gerente de soluções da Tack TMI, divisão de treinamento da Gi Group Holding, reforça a importância estratégica de investir em treinamento contínuo: “Oferecer capacitação permanente não só atrai novos talentos, mas também retém aqueles que já fazem parte da organização. Além disso, desenvolver profissionais internamente pode ser mais econômico e menos arriscado do que buscar profissionais prontos no mercado, que podem ter dificuldades de adaptação à cultura organizacional.”
A importância do equilíbrio entre vida profissional e pessoal
Se, antes, o foco dos trabalhadores estava em promoções e cargos de liderança, o cenário mudou. Hoje, o equilíbrio entre vida profissional e pessoal é apontado como o principal fator de satisfação no trabalho, com uma média de 81% de concordância entre os entrevistados. Embora o salário ainda seja um elemento relevante, sua centralidade diminuiu. No Brasil, 85% dos profissionais ainda veem o salário como um fator importante, mas ele já não é exclusivo na decisão de aceitar ou manter um emprego.
Milena Pacheco acrescenta que, apesar de a remuneração nunca perder sua atratividade, os recrutadores precisam entender que ela não é mais o único diferencial. “O mercado exige mais. O pós-pandemia trouxe uma mudança nas prioridades dos trabalhadores. Eles valorizam muito mais o equilíbrio entre todos os pilares da vida, a segurança, a estabilidade e a possibilidade de atuar de forma técnica e especializada. O treinamento e desenvolvimento é uma ferramenta poderosa para alinhar essas expectativas e fortalecer a retenção de talentos, que hoje é um dos maiores desafios das empresas.”
Investir em treinamento é investir no futuro
A pesquisa destacou que, em um mercado de trabalho altamente competitivo, é essencial ter os melhores profissionais no time. E, para isso, as empresas precisam oferecer oportunidades de desenvolvimento e experiências enriquecedoras. “O treinamento e desenvolvimento não só melhora a performance individual, mas também proporciona à empresa uma vantagem competitiva significativa, ajudando a mitigar a rotatividade de funcionários e a manter equipes mais engajadas e motivadas”, destaca Pacheco.
Por fim, a gerente da Tack TMI conclui que, para prosperar no cenário atual, as organizações precisam investir em iniciativas que realinhem os valores dos colaboradores com os da empresa. Isso inclui proporcionar caminhos de carreira flexíveis, como as carreiras em Y, que permitem que os profissionais se especializem em áreas técnicas sem perder oportunidades de crescimento. “O treinamento contínuo vem para apoiar esse movimento e ajudar as empresas a enfrentar um dos grandes desafios do momento: a retenção de talentos.”
Neste contexto, o papel do RH é crucial. Cabe às lideranças identificar essas novas tendências e implementar estratégias de desenvolvimento que estejam em sintonia com as expectativas dos profissionais. Afinal, a retenção e o engajamento não são apenas sobre números – são sobre pessoas, e como elas se sentem dentro do ambiente corporativo.
Empresas que entendem essa nova dinâmica saem na frente, criando um ambiente que valoriza o aprendizado contínuo e o bem-estar, ao mesmo tempo em que oferecem a estabilidade necessária para que seus colaboradores cresçam e prosperem.