Não basta, porém, apenas atrair novos funcionários. É preciso focar na sua permanência
Wellington Silvério – Diretor de Recursos Humanos para América Latina na John Deere
Nos últimos meses, notícias de layoffs de gigantes da tecnologia tomaram a mídia. No Brasil, foram mapeadas 44 demissões em massa de 38 empresas de tecnologia, segundo o site Layoffs.fyi. Em dados concretos, são cerca de 35 mil demissões no país. Na contramão, profissionais de tech parecem ser cada vez mais disputados. Em 2022, houve um aumento de quase 28% na oferta de vagas para estes profissionais. Mas onde estão essas vagas? Certamente, no agro.
De acordo com a consultoria de carreiras LHH, os setores mais propensos a contratar no momento são os mais tradicionais, como indústria e bens de consumo B2B. No caso do agronegócio, o desenvolvimento de tecnologias está a todo vapor e o mercado está sedento por talentos. Para se ter uma ideia, a agricultura digital promete movimentar até oito bilhões de dólares até 2026, de acordo com a 360 Research & Reports. O agronegócio brasileiro cada vez mais busca por soluções tecnológicas, que incluem, além da automação, o uso da inteligência artificial como forma de aumentar a produtividade no campo e desenvolver processos mais sustentáveis.
Essa digitalização impulsiona a contratação de profissionais de tecnologia para o setor, seja no desenvolvimento e criação de novas soluções em grandes companhias, ou na execução destas tecnologias no campo ao lado do produtor rural. Na John Deere, temos a expectativa de aumentar em 25% o número de vagas focadas em talentos tech. Entre 2022 e 2023, foram 188 vagas abertas na América Latina, sendo 104 no Brasil.
No entanto, o agronegócio segue carente de mão de obra especializada. Apesar de, na teoria, os layoffs terem “disponibilizado” vários trabalhadores, o agro ainda custa a atrair talentos de tecnologia. Ainda há um certo distanciamento entre os setores, o que impede que esses profissionais tenham conhecimento sobre ou mesmo cogitem as vagas oferecidas. Com a demanda crescendo cada vez mais, cabe aos setores de recursos humanos de companhias do agronegócio correrem atrás para se aproximar e reter esses talentos do mercado.
E como fazê-lo? Estando presente para o público de tecnologia – por meio de participações em feiras e eventos junto a grandes nomes do segmento tech, de ações digitais e canais de comunicação, entre várias outras ações possíveis. Ter uma marca presente na mente das pessoas ajuda na seleção de empresas, cujo processo seletivo os profissionais gostariam de participar.
A John Deere aderiu a algumas iniciativas para intensificar esse processo. Além de parcerias com universidades para levar alunos à Agrishow, uma das maiores feiras agrícolas do mundo, lançamos o Women Can Code, programa de capacitação voltado para mulheres na tecnologia, e diversas outras iniciativas focadas em diversidade, equidade e inclusão, que somadas ao modelo híbrido de trabalho, nos posiciona como uma empresa atraente a todos os tipos de talentos.
Não basta, porém, apenas atrair novos funcionários. É preciso focar na sua permanência. Na John Deere, trabalhamos para fornecer um ambiente em que nossos funcionários se sintam acolhidos e, ao mesmo tempo, estimulados – tanto pela identificação e promoção de potenciais talentos quanto na promoção da trilha de desenvolvimento dos nossos profissionais. Promovemos, também, encontros de tecnologia voltados para os times internos, estimulando a troca de conhecimento e capacitação.
A John Deere tem trabalhado um novo mindset, o pensamento Ágil e sua metodologia Agile, que propõe a mudança de mentalidade e a utilização de formas de trabalho multifuncionais e ferramentas digitais para aperfeiçoar o desenvolvimento de projetos. A transformação digital e organizacional não é apenas sobre tornar o mundo cada vez mais tecnológico e as pessoas capacitadas para lidarem com toda essa inovação, mas sobre ser humano e a real capacidade de elevar e consolidar a empatia entre seres, assegurar a perpetuação de organizações cada vez mais transformadas e alicerçadas em relações de respeito mútuo e consideração, carinho e observar pessoas a sua volta.
Para abraçar de vez a transformação empática nas organizações é necessário propor soluções ágeis, inovadoras e colaborativas, e ter um ambiente diverso e inclusivo. A combinação de diferentes perfis de pessoas, culturas e experiências agrega valor, melhora a convivência, permite a troca e o aprendizado e, também, reflete em resultados positivos para o negócio. O ambiente empático é o ponto de partida para atrair e reter atuais e novos talentos na empresa e deve ser o principal motivador para o êxito das organizações.
Ao desenvolver uma estratégia sólida para a permanência desses funcionários, as empresas do setor podem atrair e manter esses talentos, garantindo um ecossistema de agricultura digital robusto e promissor. Em síntese, a conjugação da inovação, capacitação e longevidade impulsiona a participação ativa dos talentos de tecnologia na transformação digital do campo, contribuindo para um futuro agrícola mais eficiente, sustentável e tecnologicamente avançado.