Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade
Um a cada cinco profissionais de grandes corporações sofre de burnout no Brasil, revela a pesquisa inédita apresentada este mês de outubro/2022, no Congresso Brasileiro de Psiquiatria, pela empresa Gattaz Health & Results, liderada pelo presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq – USP), Wagner Gattaz.
Os índices de burnout no Brasil já eram alarmantes antes da pandemia e a COVID-19 só fez intensificar este cenário, colocando de vez o assunto nos trending topics das áreas da Saúde do Trabalho e Recursos Humanos. O alerta foi ligado!
Muitas empresas introduziram programas de prevenção e tratamento da saúde mental, sendo as plataformas de mindfulness e psicoterapia as mais frequentes iniciativas implementadas para tentar dar conta da questão.
Estas são iniciativas válidas e valiosas, mas é importante caminhar passo a passo com a decisão de pensar o que é preciso transformar nos contextos de trabalho e na cultura organizacional. Afinal, não esqueçamos que o burnout passou a ser considerada doença ocupacional em 1º de janeiro deste ano, após a sua inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Como deixa claro a pesquisa da Gattaz Health & Results, os principais fatores de risco para o quadro de burnout são situações de comunicação deficiente, como falta de feedback adequado; baixa autonomia do funcionário; baixo apoio social, como conflitos entre chefes e colegas; um número elevado de demandas e uma pressão relacionada ao tempo, por exemplo, com o simultâneo aumento das responsabilidades.
E vale dizer: no pós pandemia, com equipes bem enxutas em função dos cortes necessários para a sobrevivência dos negócios – não foi fácil para ninguém – esta tem sido a realidade, acredito eu, da maioria das organizações, senão todas, em algum grau.
Publicada no último dia 28 de agosto último, as novas diretrizes da OMS sobre saúde mental no trabalho recomendam que riscos para a saúde mental no ambiente de trabalho sejam enfrentados, como cargas de trabalho excessivas, comportamentos negativos e outros fatores que criam angústia. Pela primeira vez, também foi recomendado o treinamento de gerentes, com o objetivo de promover a construção de ambientes de trabalho saudáveis.
A pesquisa, apresentada no 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, traz ainda uma informação relevante: a relação entre o “índice de distância do poder” e a síndrome de burnout. O índice de distância de poder se refere à relação entre escalões superiores e inferiores e como estes últimos reagem aos primeiros. É um mecanismo de mensuração sobre a aceitação de poder estabelecida entre os indivíduos com mais e aqueles com menos poder, dizendo muito sobre a saúde destas relações e a cultura organizacional. A pesquisa revela que quanto menor o índice de distância de poder, menor a taxa da síndrome e mais acolhedor e humano é o ambiente e suas relações.
Essa correlação nos dá uma pista importante: ambientes nos quais as pessoas podem opinar sobre decisões que as afetam, compartilhar o controle, desfrutar de real autonomia e estar ativamente engajados, tendo sua voz considerada nas decisões, são promotores de saúde mental! Ou seja, falando curto, mas, não grosso, o modelo Comando e Controle é uma aposta furada nos tempos atuais. E o preço a se pagar pode ser caro e traumático.
Mas, se você ou sua empresa ainda pensam em gente apenas como número e funcionam no paradigma industrial, onde pessoas são engrenagens de uma máquina, vai aí um dado para reflexão: Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade¹, o que custa à economia global quase um trilhão de dólares.
Uma realidade que precisa ser urgentemente mudada.
Mãos, cérebros e corações à esta obra!
Jacqueline Resch é consultora e sócia-diretora da RESCH RH
