No alvorecer da era da informação, enfrentamos um paradoxo perturbador: enquanto a tecnologia nos proporciona meios sem precedentes para a comunicação e a expressão, vemos emergir forças que buscam restringir, controlar e censurar essas mesmas vozes. Como professor de Filosofia e Tecnologia, sinto-me compelido a levantar minha voz contra essa maré crescente de autoritarismo disfarçado de proteção e ordem.
A liberdade de expressão e crença, pilares fundamentais de qualquer sociedade verdadeiramente democrática, estão sob assédio. Em nome da defesa de uma ‘Democracia Defensiva’, testemunhamos a erosão desses direitos inalienáveis. Mas, pergunto, que democracia é essa que não suporta o peso da crítica, que se esconde atrás de leis e decretos para silenciar seus opositores?
A história nos ensina que os caminhos para a tirania são pavimentados com boas intenções e palavras sedutoras como ‘ordem’, ‘segurança’ e ‘harmonia social’. No entanto, essas palavras, quando mal interpretadas ou manipuladas, tornam-se ferramentas de opressão. A censura, seja ela direta ou disfarçada sob o eufemismo de ‘desmonetização’, por exemplo, é um ataque não apenas à liberdade individual, mas ao coração da própria sociedade.
Considere a natureza da informação em nossa era digital. As redes sociais, outrora celebradas como espaços de livre expressão e intercâmbio de ideias, estão agora sob o escrutínio de autoridades que buscam moldá-las segundo suas próprias ideologias. A retórica de transformar redes ‘antissociais’ em redes ‘sociais’ é uma cortina de fumaça, um truque linguístico para justificar a censura e a conformidade. Mas, pergunto, o que é uma rede social senão um reflexo da sociedade em si, com todas as suas complexidades, desacordos e diversidades?
A verdadeira socialização implica em confronto com o diferente, em aprender com o dissenso. Uma sociedade que silencia vozes discordantes não é uma comunidade, mas um coro uníssono de concordância forçada. A diversidade de opiniões, crenças e pensamentos é o que enriquece o tecido social, e qualquer tentativa de homogeneizar esse tecido é um ataque à própria essência da humanidade.
Além disso, a desmonetização de conteúdos na internet, sob a justificativa de combater a ‘Desordem Informacional’, é uma forma insidiosa de censura econômica. Ao privar criadores de conteúdo de sua justa remuneração, estamos não apenas violando seu direito ao trabalho, mas também empobrecendo o debate público. A liberdade de expressão não é apenas sobre poder falar, mas também sobre ser ouvido e sustentado.
Como um professor de Filosofia e Tecnologia, vejo com profunda preocupação essa tendência de restringir a liberdade em nome da proteção. A filosofia nos ensina a questionar, a duvidar e a buscar a verdade, enquanto a tecnologia nos oferece as ferramentas para disseminar essas buscas. Quando essas ferramentas são cooptadas para suprimir a liberdade, estamos falhando não apenas como sociedade, mas como espécie.
Portanto, conclamo a todos, cidadãos, estudantes, acadêmicos e pensadores, a resistir a essas tendências autoritárias. Devemos defender nossa liberdade de expressão e crença, não apenas como um direito, mas como um dever para com as gerações futuras. Não podemos permitir que o crepúsculo da liberdade se transforme em uma longa noite de opressão. A luta pela liberdade é contínua e necessária, e é uma luta que devemos empreender juntos.