A chave para o alcance de todos os nossos objetivos é a determinação, a organização e o respeito
2018, século XXI. Vivemos em uma era extremamente tecnológica, com avanços na ciência, nas indústrias, nos padrões de comportamento, no mercado de trabalho…. Sobre este último tema, um dos assuntos que mais tem pautado discussões é o empoderamento feminino e o aumento da presença da mulher no mercado de trabalho, sobretudo no que diz respeito à ocupação de cargos de liderança. Embora tenhamos presenciado uma crescente evolução neste aspecto, ainda há muito espaço para ser conquistado.
Como executiva em um mercado predominantemente masculino – operações e serviços de cruzeiros marítimos- com inúmeras tradições e protocolos, superei muitos desafios. O maior deles, certamente, foi a conquista da admiração e do respeito dos inúmeros comandantes de navios, oficiais e outros líderes deste setor, que passaram a me enxergar não apenas como uma mulher, mas como uma profissional tão competente quanto eles, com conhecimento e sabedoria para discutir o trabalho e as tomadas de decisão de igual para igual.
Ingressei no segmento de cruzeiros em 1997, quando um amigo me convidou para representar a MSC Cruzeiros no Brasil. Éramos em apenas seis pessoas e o setor não tinha tanta representatividade. Na época, trouxemos o primeiro transatlântico da companhia para cá e embarcamos cerca de cinco mil hóspedes. Para se ter uma ideia, Santos não tinha um terminal de passageiros, gerenciávamos as operações nos armazéns dos navios de carga. Além disso, há pouco mais de 20 anos, não havia mulheres nesta função. Eu vivia no porto e, em uma indústria extremamente hierárquica, reportava e debatia diariamente com muitos homens, oficiais, representantes governamentais, gestores das operações portuárias etc. Hoje, esse cenário já mudou e o segmento está mais aberto a nós.
Poucos anos depois, em 2002, a armadora decidiu abrir um escritório próprio no país e fui convidada para liderar essa operação.
Com 39 anos, engravidei. Naquele momento, com o crescimento da empresa, nosso CEO investiu na contratação de um diretor Geral, um diretor Comercial e de Marketing, e eu fui nomeada diretora de Operações. Para os novos executivos, era um momento de transição e adaptação. Por este motivo, trabalhei durante os nove meses de gestação e, após o nascimento do meu filho, passei a enfrentar um novo desafio – o de conciliar a vida pessoal com a profissional.
Por muitas e muitas vezes, trouxe meu filho para o escritório. Ele deu os primeiros passos a bordo de um transatlântico e, hoje, com 11 anos, é completamente apaixonado pelo mar. Preocupada em ser uma mãe presente, mesmo em meio a uma agenda bastante concorrida, entre viagens e reuniões, eu e meu marido sempre procuramos nos dividir nas tarefas para acompanharmos o desenvolvimento do nosso filho, seja para levá-lo a atividades diárias, auxiliá-lo nas tarefas escolares e também conseguirmos um momento de lazer.
Acredito que a chave para o alcance de todos os nossos objetivos é a determinação, a organização e o respeito. Com esses princípios, consegui ser presente como mãe e esposa, e, profissionalmente, construí uma carreira sólida, conquistei meu espaço. Contribuí com o desenvolvimento deste mercado e também com a consolidação da MSC Cruzeiros, que, hoje, é líder absoluta no país. Se há 20 anos embarcávamos cerca de cinco mil pessoas, hoje, embarcamos mais de 200 mil.
Sob minha direção, estão 50% dos colaboradores da armadora aqui no Brasil. Divididos em vários departamentos, somos responsáveis por toda avaliação e articulação dos assuntos relacionados à infraestrutura de portos, novos destinos, planejamento das excursões em cada um dos locais onde nossos transatlânticos fazem escalas na América do Sul, acordos com companhias aéreas, organização de eventos corporativos e fretamentos, atendimento ao cliente e agentes de viagens, logística de embarques e desembarques, entre outros.
Em uma rápida análise de minha trajetória, sinto muito orgulho por ter sido uma das primeiras mulheres a atuar no segmento portuário de cruzeiros no país e, com isso, ter aberto a porta para muitas outras. Na comemoração de 15 anos da armadora em águas nacionais, sete colaboradores foram premiados pelos anos de dedicação. Nesse dia, tive a honra de subir ao palco com mais seis mulheres – esse foi um dos grandes marcos que vivi como mulher nesta indústria. Entre outras conquistas, também fui a única mulher convidada a participar da primeira audiência pública do setor. Além disso, no ano passado, fui a primeira brasileira a ser madrinha da cerimônia da moeda de um novo transatlântico, solenidade que faz parte de uma tradição secular na indústria marítima. Na ocasião, duas moedas são colocadas no casco da embarcação em construção como sinal de benção e boa sorte.
Para encerrar, almejo continuar inspirando muitas mulheres a persistirem e conquistarem seu espaço, seus sonhos. Estamos ainda mais qualificadas e temos, ao meu ver, uma vantagem competitiva, que é a facilidade de gerenciar, com maestria, os desafios pessoais e profissionais. Há muito espaço ainda para ser conquistado e acredito que estamos na rota certa.
Por Marcia Leite, Diretora de Operações da MSC Cruzeiros