A expansão do ensino profissional é o destaque do momento da educação brasileira
Colunista Mundo RH, Fabrício Garcia, CEO da Qstione
O censo escolar de 2023 aponta para um crescimento de 27,5% nas matrículas do ensino profissional, que inclui os cursos técnicos e profissionalizantes. A evolução do ensino profissional no Brasil, sem dúvida, é o grande destaque da educação brasileira nos últimos anos.
Por muito tempo, a educação profissional foi tratada com certo desdém por alguns setores da sociedade e pelo próprio setor educacional. A ideia da formação em cursos técnicos ou profissionalizantes era vista como um tipo de educação destinada a cidadãos de segunda classe, colocando os cursos superiores como a única saída honrosa para ingressar com força no mercado de trabalho.
O fato é que países desenvolvidos, como Alemanha e Inglaterra, não consideram a qualificação técnica como uma forma de formação inferior. Pelo contrário, na Alemanha, por exemplo, quase metade da força de trabalho é composta por indivíduos com formação técnica ou profissionalizante. A Alemanha instituiu um dos programas de educação profissional mais bem-sucedidos do mundo, o Sistema Dual, no qual os estudantes aprendem a teoria nas escolas profissionais e a prática é ensinada nas empresas.
No caso da Alemanha, a colaboração entre o setor privado e o governo possibilitou a formação de jovens altamente capacitados e plenamente integrados ao mercado de trabalho, o que resultou na queda significativa da taxa de desemprego. No Brasil, existem algumas iniciativas que seguem um caminho semelhante ao programa alemão, como é o caso do Sistema S, criado durante o governo de Getúlio Vargas, em 1942. Contudo, o número de jovens formados por instituições como o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio), o Sesc (Serviços Sociais do Comércio) e o Sesi (Serviços Sociais da Indústria), que fazem parte do Sistema S, ainda está aquém das demandas do mercado brasileiro.
O fato é que os cursos técnicos e profissionalizantes apresentam características que facilitam a inserção dos jovens no mercado de trabalho e, em alguns casos, podem também abrir caminho para a formação superior. São cursos mais curtos, com uma carga curricular focada nas aplicações práticas do conhecimento. Dessa forma, o estudante se prepara para atender às demandas imediatas das empresas e, por conseguinte, consegue se inserir rapidamente no mercado de trabalho.
A rápida inserção no mercado de trabalho também possibilita a formação de uma rede de contatos muito interessante para os jovens que passaram pelo ensino profissional — o famoso networking. Essa rede de contatos pode ser extremamente útil para o futuro profissional desses jovens. Além disso, eles passam a ter uma renda que, em muitos casos, serve para financiar o ensino superior no futuro. Assim, o jovem que passa pelo ensino profissional e posteriormente pelo ensino superior consegue avançar rapidamente na carreira.
A sociedade brasileira precisa olhar para o ensino profissional com outros olhos e incentivar nossos jovens a seguir o caminho traçado pelos cursos técnicos e profissionalizantes. A supervalorização social do ensino superior pode estar prejudicando o desenvolvimento profissional de muitos indivíduos e limitando o crescimento econômico do Brasil. Nesse contexto, a boa notícia é que o aumento do número de matrículas no ensino profissional indica uma mudança nesse cenário.
O grande desafio da educação profissional agora reside na melhoria dos cursos oferecidos e numa maior integração das instituições de ensino com as empresas e o mercado de forma geral.