No Portal do Franchising (ABF), os números de cadastros e sessões seguem em declínio desde 2019, acompanhando a tendência global
E então você vai pesquisar sobre franchising cheio de vontade de empreender e se depara com números menos atraentes do que aqueles de alguns anos atrás. Vamos ao panorama real
De acordo com a base de dados do Google, o volume de buscas pelo termo “franquias” no mundo alcançou seu menor patamar desde 2004. Estudos apresentados na última convenção da Associação Internacional de Franchising indicam um futuro de recessão, com queda na ordem de 37% em número de interessados em franquias e, também, no número de contratos assinados em 2022.
Um levantamento recente da FRANdata indica uma queda contínua no número de unidades franqueadas no mundo desde 2017. No Portal do Franchising (ABF), os números de cadastros e sessões seguem em declínio desde 2019, acompanhando a tendência global.
Isso significa que a popularidade do termo e do ecossistema têm diminuído? Olhando de forma isolada, sim. Mas a análise deve ser mais ampla.
Como especialista no segmento, e experiência profunda na condução deste modelo, posso afirmar: isso não é ruim, mas apenas uma necessária correção de rota que revela a necessidade latente de uma transformação de percepção da aplicação deste formato no mercado atual, cada vez mais dinâmico, desafiador, complexo e digital.
Trabalho no setor de franquias há mais de 15 anos e já vi de perto o auge do modelo no Brasil. Havia um tempo que ser franqueado ou franqueador era sinônimo de status e sucesso. Entretanto, como tudo na vida, o “boom” parece ter passado.
E agora? Nada mais do que o esperado: permanecem os melhores, mais pragmáticos e que se apoiam em dados e estratégia, com gestão adequada, narrativa alinhada e coerente à missão da marca e cultura organizacional bem definida. Ficarão, grosso modo, os bons.
O que acontece, na verdade, é que o mercado continua aberto às boas práticas e ideias no segmento, apenas não é mais aquele mar azul infinito. Só que, felizmente, há muitas partes com águas claras para nadar, mas nem todos terão acesso, imagino. Na minha análise, esta suposta crise do modelo pode ser associada à diversos fatores:
Hype do lançamento ou globalização de um modelo inovador de negócio no qual o mundo não estava acostumado, que pode ter gerado uma “corrida pelo ouro” nos seus anos iniciais.
Como em todo bom modelo, acompanham os aventureiros. Empresários sem preparo, buscando uma fatia no bolo, acabam povoando o ecossistema e prejudicando a reputação de quem trabalha sério. Esse prejuízo de imagem tem consequências de longo prazo que parecem ter chegado.
. Franquias vendem um segredo de negócio ou know-how difícil de ser replicado. Com a transformação digital e democratização do acesso à internet, informações e know-how sobre tudo estão disponíveis gratuitamente no Youtube. Talvez, os segredos de algumas franquias já não sejam tão mais secretos assim.
Instabilidade econômica global. Juros, inflação e Covid esfriaram o ímpeto empreendedor global.
Negócios digitais (startups) se tornaram muito atrativos nos últimos anos pelo suposto retorno meteórico (o que já se nota na atual conjuntura que não é bem assim). Afinal, quem não ficou seduzido a virar unicórnio?
Por fim, entendo que toda crise traz oportunidade de uma transformação. É hora de o sistema rever seus conceitos, sua maneira de se relacionar com o franqueado e reavaliar seus modelos de negócio depois dessa “cambalhota” que o mundo deu nos últimos anos.
Fazendo uma analogia à química/física, as franquias estavam em um estado sólido como gelo em uma forma (padrões estabelecidos, produtos que davam certo, linha de produção, processos, preços), mas o ambiente esquentou/agitou e o gelo virou água.
As franquias estão como água e precisam encontrar sua nova forma sólida, com novos processos, novos padrões e novas razões de ser e se relacionar com seus investidores/franqueados. O franchising 1.0 já não é atrativo mais. Te provoco então a pensar: qual será a versão 2.0 ideal desse ecossistema?
Dimitri Rodrigues é mestre pela Fundação Dom Cabral e CEO da rede Depyl Action. Executivo Data-Driven e com vasta experiência em empreendedorismo e gestão, foi eleito cinco anos consecutivos o melhor franqueador do Brasil no segmento de alimentação saudável (PEGN/Grupo Abril).