Por José Augusto Figueiredo, Country Head do Grupo Adecco
O exercício de imaginar o futuro da liderança empresarial depois do que passamos em 2020 traduz-se em uma grande aventura! Tantos paradigmas foram superados e aprendizados emergem a todo instante, ainda em um momento de grande incerteza. Na essência, mudamos nosso comportamento em como consumir, interagir e principalmente em como liderar. Como liderar, por exemplo, com equipes trabalhando de forma remota? Como sustentar uma cultura onde não há interações sociais? O que é temporário e o que é definitivo? Ou em uma última análise, como saber se as pessoas estão realmente trabalhando?
Percebemos essas questões na pauta de muitos líderes ao longo de 2020. Importante salientar que a liderança aqui retratada não é um atributo exclusivo de CEOs ou “chefes”. Nem um dom nato que não possa ser aprendido. A liderança é sim um fenômeno humano, pleno em diversidade, descolado de hierarquia, fundamentado em mobilizar pessoas e recursos para caminharem a serviço de um propósito. E neste sentido, o primeiro chamado aos líderes e organizações neste momento é relativo ao propósito.
Por que e para que estamos juntos neste empreendimento? O trabalho remoto proporcionou muita autonomia as pessoas e viabilizou entregas com criatividade e dedicação. No longo prazo, o combustível para este empoderamento residirá no significado ao qual as pessoas atribuirão ao trabalho, ou seja, ao propósito. Outra pauta na agenda dos líderes no curto prazo é a comunicação. Esta foi extremamente amplificada pela capacidade de atingir um público muito maior através de canais digitais. A forma e qualidade do conteúdo passam a fazer grande diferença na imagem percebida pelas pessoas. Pequenas expressões criam cultura!
O tradicional estereótipo do líder super herói definitivamente cai em desuso. O líder sente, sofre e chora como todos os humanos. A capacidade de lidar com sua vulnerabilidade passa ser uma competência invejável e saudável. A digitalização dos negócios e processos entram devastadoramente na agenda, e a reboque, a gestão ágil com suas metodologias (scrum, sprints e squads) passam a fazer parte do fluxo organizacional. A transformação do contexto impacta diretamente nos resultados gerados por diferentes estilos de liderança. Caberá ao líder no exercício do seu autoconhecimento desfocar-se do seu ego e necessidades internas para focar no seu entorno ou externo a si mesmo. Felizmente, este exercício ainda é atemporal!
Nesta linha lógica da evolução há evidências de que o olhar para o outro e justiça social devem se fortalecer nos próximos cinco a dez anos. O amadurecimento dos ecossistemas e consolidação dos supply chains globais devem elevar a competição para esferas de maior cooperação e parcerias. A inovação deverá ser mais aberta, sem fronteiras e o principal caminho para a transformação do negócio. As soluções para os clientes seguirão mais completas na forma de plataformas.
As relações de propriedade estarão mais ponderadas pelo “usufruir” versus “possuir”, o que deve disruptar e criar muitos negócios. E de uma forma geral, aquilo que entendemos hoje como ESG deverá se consolidar como base do modelo de gestão de qualquer empreendimento.
Neste sentido, e com muito otimismo, este provável futuro deverá requerer dos líderes diferentes competências emocionais, muita sensibilidade, escuta, alta capacidade de expressão e uma gestão ambidestra capaz de lidar com multiplicidade de culturas (ao mesmo tempo) e com fronteiras invisíveis, além de equilibrar o corporativo, o humano e o social.