Maria Alejandra Nadruz é diretora de Recursos Humanos da Movidesk, empresa que atua com soluções de atendimento ao cliente
Quando muitos achavam que a produtividade e as relações podiam ser medidas pela presença física, veio a pandemia para romper paradigmas. O isolamento social forçado para evitar a propagação da doença obrigou empresas a fechar as portas e apostar no trabalho home office. Pela primeira vez, muitas organizações perceberam que, mesmo à distância, os colaboradores poderiam cumprir suas entregas, compartilhar ideias e seguir suas rotinas sem perdas – muito pelo contrário. Pesquisa feita pelo Gartner com profissionais de todo o mundo mostrou que, para 36% deles, a produtividade no home office aumentou, afirmando que a flexibilidade na jornada foi um facilitador.
O efeito positivo do trabalho remoto foi tamanho que, na retomada, muitas empresas estão considerando aumentar os dias de home office, implementando o chamado modelo híbrido. Nesse sistema, os colaboradores podem atuar de casa e do escritório em dias alternados. Dados de um levantamento encomendado pelo Google Cloud à consultoria IDC apontam que 43% dos das empresas já definiram que esse será o formato de atuação no retorno aos escritórios. Ou seja, muito mais do que uma tendência, essa solução mostra que veio para ficar.
Embora bastante positiva, a transformação do modelo tradicional para um sistema misto requer atenção e um trabalho primordial da área de People, responsável pela gestão de pessoas. Isso porque o novo cenário traz desafios relacionados à adaptabilidade dos profissionais e ao contato direto com eles.
Integração à distância
O novo estilo de trabalho mexeu em todas as pontas do RH, começando pelo Recrutamento e Seleção, que passou a ser inteiramente online. Durante a pandemia, muitas empresas eliminaram às barreiras da distância e contrataram profissionais de outras cidades e estados. Entrevistas, dinâmicas e testes precisaram ser adaptados ao modelo virtual. Entender e ressaltar as particularidades de cada região, como sotaque, cultura e outras características, foi fundamental para desenhar estratégias de inclusão.
A contratação à distância também contribuiu – e muito – com a diversidade, já que permite construir uma equipe muito mais plural, fomentando a inovação. De acordo com o relatório Getting to Equal 2019: Creating a Culture That Drives Innovation, da Accenture, empresas que contam com diversidade e inclusão em suas equipes são 11 vezes mais inovadoras, e seus colaboradores são 6 vezes mais criativos. Outra pesquisa, feita pela McKinsey, aponta que a diversidade de um time pode aumentar em até 15% a lucratividade de um negócio.
Foco nas pessoas
Antes de pensar em ferramentas e fórmulas para ampliar o engajamento dos colaboradores, a área de People precisa se centrar em enxergar pessoas como pessoas. Se essa mudança de posicionamento já era necessária no pré-pandemia, tornou-se ainda mais essencial com o modelo de trabalho remoto, que diminuiu consideravelmente as fronteiras entre a vida pessoal e a profissional. A proximidade cada vez mais difusa entre essas duas realidades, exige uma visão integral do ser humano. Alguém dotado de anseios, limitações e emoções, e não como uma máquina de produtividade.
Por conta disso, é ainda mais necessário que as organizações ofereçam acolhimento e diálogo aberto por meio de diferentes canais. Muitos líderes na área da Gestão de Pessoas ainda estão focados na digitalização, quando, na verdade, o caminho para o futuro está na humanização, descobrindo um conjunto de valores compartilhados e estimulando o senso de pertencimento. Só assim será possível impulsionar a motivação, a melhoria contínua, o crescimento de cada um e, consequentemente, da empresa como um todo.
Cuidando do bem-estar
A pandemia fez com que os casos de saúde emocional, como ansiedade e depressão, aumentassem consideravelmente. Nunca foi tão importante estar alerta aos pequenos sinais, prestar atenção e ouvir o outro. Conhecer os colaboradores, interpretar suas tendências comportamentais, compreender o modo de agir e pensar durante momentos de crise, demonstrar interesse na situação familiar de cada um, garantir que todos estejam seguros, são algumas atitudes que cabem ao RH. Um trabalhador feliz é 31% mais produtivo e três vezes mais criativo, como mostrou estudo da Universidade da Califórnia, realizado em parceria com a PwC.
Implementar ações como rodas de conversa e grupos de apoio online pode ser uma boa saída para oferecer suporte à saúde mental dos colaboradores. Além de ajudar a aliviar algumas angústias, esse tipo de atividade ajuda a construir e estreitar laços entre as equipes, mesmo que à distância.
Comunicação constante
A troca de ideias entre colaboradores, líderes e liderados, sempre foi a base para o alinhamento de processos e para a inovação. Escutar e opinar é mandatório para a evolução sustentável dos negócios. E se não dá para juntar todo mundo na mesma sala pelas barreiras físicas, cabe ao RH investir em novas ferramentas e soluções que permitam aproximar a todos.
Incentivar chamadas de vídeos, seja para reuniões ou para happy hours virtuais, entre todos os colegas é utilizar a tecnologia a favor da integração e da inclusão. Manter contato por aplicativos de mensagem, criar ambiente próprios para os colaboradores da empresa também ajuda a manter todo mundo engajado e bem-informado, seja dentro de casa ou na sede da organização. Aqui também vale a criatividade do RH para criar ações, premiações ou eventos que mantenham a equipe em contato sempre que possível.
Integrar todas essas pessoas e amarrar as pontas, criando conexões em um ambiente de laços, em grande parte invisíveis, exige uma grande reinvenção do setor de RH. Se o novo mundo que desenha é híbrido, a área também precisa ser.