Armando Lourenzo é Doutor e mestre em administração pela FEA/USP e diretor da Universidade Corporativa da consultoria EY
O mundo do trabalho caminha para uma sociedade de serviços e, em muitos países, esse status já foi alcançado. Nesse novo contexto, as empresas de serviços têm uma participação importante no PIB e na geração de empregos. No entanto, uma característica delas é a dificuldade em separar as empresas das pessoas. Em termos práticos, isto significa que a educação tem um impacto significativo em seus negócios.
O aumento da competitividade, a velocidade das mudanças, a economia compartilhada, a transformação digital dos negócios e a diversidade empresarial apontam que, para as empresas crescerem de forma sustentável, devem ter entre seus colaboradores pessoas qualificadas para a execução da estratégia empresarial. E duas delas se mostram mais relevantes nos tempos atuais: adaptabilidade e learning agility.
A reflexão sobre a educação corporativa de qualidade no Brasil passa pela discussão das possíveis tendências:
1 – Definir critérios de elegibilidade ligados à carreira para o financiamento dos profissionais nos cursos abertos;
2 – Estabelecer incentivos para os profissionais que exerçam o autodesenvolvimento;
3 – Implementar universidades corporativas;
4 – Modelar ações de desenvolvimento com práticas inovadoras de educação;
5 – Integrar a educação corporativa e sistemas de gestão de conhecimentos;
6 – Enfatizar a utilização de grupos de conhecimento e aprendizado colaborativo;
7 – Aumentar a utilização de ações não formais de desenvolvimento;
8 – Incorporar a gestão de valores na educação corporativa;
9 – Incentivar a formação de profissionais especialistas na área de educação corporativa;
10 – Aprimorar os sistemas de avaliação das ações de desenvolvimento;
11 – Incorporar o conceito de educação mediada por tecnologia;
12 – Adequar a linguagem de desenvolvimento de competências junto as novas tecnologias de educação.
Historicamente, a educação tradicional sempre foi focada na atividade de ensino, com o professor transmitindo o conteúdo mesmo sem ter a certeza de que o aluno aplicaria os conhecimentos nas organizações ou na sociedade. Anos depois, essa dinâmica deu lugar ao aprendizado.
A educação corporativa está inserida na educação tradicional. Mas como desenhar soluções educacionais que agreguem valor às corporações? No modelo formal, as salas de aula são compostas por várias pessoas com experiências diferentes entre elas. Para umas, o conteúdo pode ser desinteressante; para outras, o conhecimento transmitido pode ser visto como uma novidade útil e aplicável. Ambas poderão gerar uma dispersão dos alunos, independentemente das metodologias aplicadas.
Em meio a esses desafios, é vital que os especialistas utilizem soluções como micro learning, realidade virtual, inteligência artificial, realidade aumentada e ecossistemas de conhecimentos, entre outras.
As universidades corporativas (UCs) têm de assumir um papel de protagonismo e suportar a execução das estratégias, de modo a gerar impacto positivo nos negócios ou fazer parte da formulação de estratégias. É necessário um novo posicionamento por parte das áreas de desenvolvimento de pessoas, que devem abordar o tema de forma diferenciada, demonstrando que estão conectadas ao negócio. E as empresas devem conectar seus negócios às suas respectivas UCs, que por sua vez devem mudar suas abordagens educacionais junto aos facilitadores e alunos.
De modo geral, a jornada a ser seguida é composta das seguintes partes:
1 – Conectar a UCs ao negócio: integração com a governança corporativa, proximidade das áreas de negócios e patrocínio da liderança;
2 – Aperfeiçoar as abordagens de aprendizado com foco em efetividade e KPIs estratégicos;
3 – Comunicar intensamente com lastro em resultados concretos.
As UCs têm como objetivos centrais a qualificação dos profissionais, customizada para a realidade das empresas, e acelerar suas carreiras. Além disso, elas trazem benefícios para as organizações, como o aumento da atração de talentos, maior engajamento, redução do turnover e colaboração na execução das estratégias. Para as empresas, a preocupação com a real aplicação das competências desenvolvidas no trabalho e o impacto nos negócios são os aspectos mais relevantes.
As atividades de desenvolvimento flexíveis e não formais serão o futuro da educação, dando espaço a técnicas como aprendizado pela experiência, grupos de discussão de conhecimentos, trilhas flexíveis de aprendizagem, work based learning, hipercustomização dos conteúdos e problem based learning.
A área responsável pela educação das pessoas nas empresas deverá modelar seus processos com técnicas emergentes de ensinamentos e qualificar seus profissionais para que se tornem especialistas no assunto, criando a figura do Learning Specialist, profissional que atua de modo próximo das áreas de negócio ou funcionais.