Transformações no RH: como a pandemia moldou o papel estratégico e os desafios dos profissionais em 2024.
Nos últimos anos, a área de Recursos Humanos (RH) tem enfrentado um dos períodos mais desafiadores de sua história. A pandemia de COVID-19 trouxe mudanças profundas nas relações de trabalho, forçando empresas e profissionais a se adaptarem rapidamente a uma nova realidade. Agora, em 2024, com a pandemia em segundo plano, as transformações continuam a moldar o ambiente corporativo, e o papel do RH, mais do que nunca, se torna essencial na condução dessas mudanças.
A Nova Realidade do Trabalho
A pesquisa “Engajamento do RH em 2024”, pelo Great People, realizada entre maio e junho deste ano, revela um panorama detalhado sobre a situação atual dos profissionais de RH no Brasil. Com 601 respondentes, a pesquisa reflete um cenário onde as mudanças iniciadas durante a pandemia ainda reverberam no dia a dia das organizações. Se antes de 2020 a pergunta “preciso ir ao escritório todos os dias?” era raramente feita, hoje ela se tornou comum e extremamente pertinente.
A pesquisa indica que 49,4% dos profissionais de RH trabalham presencialmente, enquanto 40,3% estão no modelo híbrido e 10,3% atuam de forma totalmente remota. Esse novo arranjo trouxe desafios significativos para a gestão de pessoas, especialmente no que diz respeito à saúde mental dos colaboradores e à requalificação de profissionais em um mercado cada vez mais impactado pela Inteligência Artificial (IA).
O Papel Transformador do RH
Durante a primeira onda da pandemia, entre 2020 e 2022, os líderes de RH assumiram um papel de protagonismo, muitas vezes ao lado dos CEOs, para guiar as empresas através de um período de incertezas. Esse período fortaleceu a percepção do RH como um agente transformador dentro das organizações. Contudo, à medida que a pandemia foi controlada, o poder e a influência do RH começaram a diminuir, embora o seu papel continue sendo crucial.
A pesquisa revela que, atualmente, mais de 50% dos profissionais de RH sentem que têm uma autonomia relativa em suas decisões, precisando alinhar suas ações com outras lideranças e seguir uma série de normas e processos. Apenas 31,6% afirmam ter uma elevada autonomia, o que evidencia uma certa perda de protagonismo em comparação aos primeiros anos da pandemia.
Os Desafios Estratégicos do RH
Uma das principais dificuldades apontadas pela pesquisa é a relação com a alta liderança das empresas. Embora 38,6% dos respondentes afirmem ter uma relação próxima com a liderança e 35,3% considerem essa relação muito próxima, apenas 46,9% dos profissionais de RH se sentem considerados nas principais reuniões de negócios. Isso indica que ainda há um caminho a ser percorrido para que o RH seja plenamente integrado às decisões estratégicas das organizações.
Além disso, a pesquisa aponta que o conceito de “RH Estratégico”, popularizado nas últimas décadas, ainda não é totalmente implementado em muitas empresas. Embora o RH tenha ganhado relevância, muitas organizações ainda o veem como um departamento focado em tarefas transacionais, em vez de uma área estratégica crucial para o sucesso do negócio.
Saúde Mental e Bem-Estar: Questões Centrais
Um dos aspectos mais alarmantes revelados pela pesquisa é o estado de bem-estar dos profissionais de RH. Mais de 60% dos respondentes avaliaram seu nível de bem-estar como médio, o que pode indicar um risco para o desengajamento e a desmotivação. Quando questionados sobre a felicidade no trabalho, a maioria dos profissionais de RH se encontra em uma zona mediana, com uma pontuação média de 3,7 em uma escala de 0 a 5.
Essa situação pode estar relacionada à pressão constante e ao alto nível de responsabilidade que os profissionais de RH enfrentam. Eles são responsáveis por cuidar do bem-estar dos funcionários, mas muitas vezes não recebem o mesmo cuidado por parte das organizações. Isso cria um ambiente de trabalho desafiador, onde o equilíbrio entre vida pessoal e profissional se torna cada vez mais difícil de alcançar.
Rotatividade e Perspectivas de Carreira
Outro dado relevante da pesquisa é a alta rotatividade entre os profissionais de RH. Quase 20% dos respondentes já estão buscando novas oportunidades de trabalho, enquanto 22,1% pretendem continuar em suas empresas atuais por apenas mais dois a cinco anos. No entanto, quando o foco é a carreira em RH, mais de 70% dos profissionais afirmam não ter intenção de deixar a área, o que mostra um apego à função, apesar das dificuldades enfrentadas.
Essa contradição pode ser explicada pela natureza do trabalho em RH. Embora seja uma área desafiadora, muitos profissionais sentem que seu trabalho tem um impacto positivo nas pessoas, o que é um grande motivador. Na pesquisa, mais de 90% dos respondentes afirmam que seu trabalho impacta positivamente as pessoas com quem trabalham, reforçando a ideia de que o RH é, em sua essência, uma área dedicada ao desenvolvimento humano.
O Futuro do RH
A pesquisa “Engajamento do RH em 2024” nos mostra que, apesar dos desafios, os profissionais de RH continuam comprometidos com suas funções e com o desenvolvimento das pessoas nas organizações. No entanto, a pesquisa também evidencia a necessidade de um maior reconhecimento e valorização desse papel dentro das empresas.
O futuro do RH depende da capacidade das organizações de entender a importância estratégica dessa área e de criar um ambiente onde os profissionais de RH possam exercer plenamente suas funções, com autonomia e apoio da alta liderança. Somente assim será possível enfrentar os desafios de um mundo pós-pandêmico e construir organizações mais saudáveis, éticas e humanas.