A história nos traz exemplos de líderes que mudaram o mundo não pela força, mas sim pela demonstração de humanidade
Fernando Ladeira – sócio e vice-presidente da Falconi para soluções de Gente
Por diversas vezes, a complexidade e os desafios da rotina profissional evidenciam as nossas dificuldades e nos expõem em momentos de riscos e incerteza. Culturalmente, demonstrar vulnerabilidades no ambiente de trabalho pode ser visto como fraqueza ou despreparo — visão equivocada de quem o faz. No entanto, uma cultura organizacional saudável pode promover a abertura e o diálogo, onde comportamentos vulneráveis não sejam encarados como fragilidade, mas sim valorizados.
Não há homogeneidade entre as organizações neste tema. O que existe é a cultura, que vem da liderança. Se o líder tem respostas para todas as perguntas, centraliza a tomada de decisão, não escuta o time e assume um papel de superioridade, não há cultura de vulnerabilidade. Assim, também não há segurança psicológica para que todos se sintam confortáveis para expor suas ideias. E isso mina a capacidade de colaboração e inovação.
A boa notícia é que a cultura pode evoluir. E ao contrário do que muitos pensam, só existe uma cultura de resultados de fato, quando há confiança. E para haver confiança, deve haver vulnerabilidade. É um ciclo virtuoso que aprendemos com Patrick Lencioni, autor norte-americano referência quando falamos de liderança e trabalho em equipe: confiança gera abertura, que leva ao conflito de ideias, que gera comprometimento do grupo. O comprometimento leva à autorresponsabilidade e, assim, aos resultados.
É essencial lembrar que todos sentimos dor, medo, angústia, preocupação — e cansaço. Uns mais, outros menos. Dessa forma, a vulnerabilidade é a chave para destravar a confiança mútua, pois nos aproxima como pessoas. Nos faz mostrar para quem quer que seja, que apesar de cargos, status e dinheiro, todos somos seres humanos. E isso aproxima. O desafio é saber demonstrar isso em um ambiente corporativo de poder e competição. E como nos ensina a autora Brené Brown, é preciso coragem para liderar.
E aí entram os exemplos, as atitudes. Não são palavras que levam as pessoas a mudarem o comportamento. Elas ajudam, claro. Mas sem o exemplo e a atitude coerentes, são só palavras. Escada se lava de cima para baixo, e o comportamento coletivo nas empresas também. Digo isso porque a forma de agir dos líderes em uma organização influencia diretamente o comportamento dos funcionários em todos os níveis hierárquicos.
A história nos traz exemplos de líderes que mudaram o mundo não pela força, mas sim pela demonstração de humanidade. Mahatma Ghandi e Nelson Mandela, por exemplo, tiveram grande impacto no tema e são grandes inspirações como líderes. Mas o mundo corporativo também está recheado de exemplos. Sam Walton, empresário fundador do varejista Wall Mart, visitava lojas rotineiramente. Não só para disseminar a cultura da empresa, mas para aprender com as pessoas que estavam na ponta e com os clientes.
Eu, com toda a minha experiência trabalhando com cultura organizacional e embasado em diversos exemplos, públicos ou não, posso afirmar que o comportamento humilde e vulnerável da liderança faz a diferença entre o sucesso e o fracasso no longo prazo.
Já vi muitas organizações fracassarem nesse sentido: colocam valores pretendidos em paredes, manuais, fundos de tela e boletins, mas o comportamento praticado não condiz com o que se espera. Logo, é fundamental manter uma cultura organizacional autêntica, transparente e real, onde os valores declarados são refletidos nos comportamentos e a demonstração de vulnerabilidades é vista como um sinal de força e confiança.