91% dos executivos têm a percepção de que seus líderes se preocupam com o bem-estar de seus funcionários
Paula Gallo é chief human resources officer da Conexa
Atualmente, um dos maiores desafios dos RHs das empresas é fazer com que o C-level entenda a relevância do seu papel estratégico, que vai muito além da atração e retenção de talentos. É responsabilidade da área cuidar efetivamente do bem-estar dos colaboradores, incluindo a saúde física, mental e social, sobretudo no contexto da pandemia. Nesse sentido, é urgente que as lideranças de RH se aproximem do C-level, participe das reuniões estratégicas e contribua com as tomadas de decisão.
Do ponto de vista de negócios, cuidar das pessoas precisa estar no radar de grandes corporações, pequenas e médias empresas (PMEs). Os problemas sociais e de saúde dos colaboradores impactam a agenda ESG (Environmental, social and Governance), a produtividade e, consequentemente, os resultados das organizações. O tema é tão relevante que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente por causa de depressão e ansiedade, custando à economia global quase US$ 1 trilhão.
A pesquisa “O papel do C-level no bem-estar”, realizada esse ano pela consultoria Deloitte, nos EUA, Canadá, Austrália e Reino Unido, com 2.100 colaboradores de empresas desses países, mostra como o C-level está desconectado da real percepção dos colaboradores sobre os cuidados com a saúde física e mental. O estudo aponta que 91% dos executivos têm a percepção de que seus líderes se preocupam com o bem-estar de seus funcionários, mas apenas 56% dos colaboradores avaliam que o C-level se dedica a essa pauta. É uma lacuna importante e que precisa ser endereçada.
No Brasil, o aumento da procura por serviços de telemedicina e telepsicologia tem crescido exponencialmente. Na Conexa, por exemplo, passou de 32,8 mil atendimentos em 2019 para 600 mil em 2022, sendo 120 mil de telepsicologia. Isso demonstra que as empresas têm dado apoio aos cuidados de saúde de suas equipes. Bons indicadores de saúde e ações periódicas de mobilização do C-level contribuem com os KPIs de turnover e absenteísmo. Além do engajamento, é papel da liderança propor o redesenho de programas relacionados a desempenho, remuneração e desenvolvimento de soft skills, sempre com foco na saúde mental dos colaboradores.
Por entender a importância de a equipe de gente e cultura estar intimamente ligada às tomadas de decisão, a Conexa aproveitou minha experiência na área de negócios em saúde e me trouxe de forma estratégica para a posição de chief human resources officer (CHRO), e hoje o RH está presente em todas as áreas de negócios da empresa. Temos 20% da agenda do C-level voltada para o bem-estar corporativo, tendo o CEO ligado intimamente à causa. Mas, infelizmente somos exceção.
Nossas ações já resultaram em redução de turnover, com uma rotatividade de apenas 1,9% em setembro deste ano; retenção de talentos, com 42% dos colaboradores com mais de um ano na empresa; e melhora do clima organizacional, onde 92% concorda que recebe acolhimento adequado do líder imediato quando passa por uma situação relacionada à saúde mental.
Mais do que nunca é preciso quebrar os estigmas sobre o RH e a saúde mental. Estamos todos no mesmo time. Se não mudarmos as crenças, não mudaremos as escolhas. É fato que pessoas mais felizes e menos doentes geram mais resultados. No fim, é tudo sobre pessoas. E que bom.