Como preparar os profissionais do futuro?
Colunista Mundo RH, Fabrício Garcia, CEO da Qstione
Preparar indivíduos para desenvolver atividades que só serão solicitadas no futuro é, sem dúvida, um dos maiores desafios educacionais da atualidade. Nesse contexto, sabemos que as mudanças culturais e os anseios da sociedade são estruturas fluidas que influenciam e caracterizam o mercado de trabalho. Sendo assim, tentar prever o futuro é um exercício que envolve a consideração de muitas variáveis, tornando esse exercício de “futurologia” algo totalmente intangível.
Quando falamos dos profissionais do futuro, não se trata apenas das novas profissões que irão surgir, mas também das profissões tradicionais que sofrerão mudanças e passarão a atuar de forma diferente no futuro. Estamos falando de novas habilidades que entrarão no rol das profissões novas, além das tradicionais, e de antigas habilidades que se tornarão obsoletas no futuro.
Além disso, em grande parte devido às novas mídias sociais, a velocidade de circulação da informação tem aumentado vertiginosamente, acelerando o ritmo das mudanças sociais e culturais. Vivenciamos uma situação sociocultural em constante estado de transitoriedade. Ou seja, nossa sociedade está em constante mutação, como se estivesse em um eterno processo de desconstrução intelectual, sem continuidade, estabilidade e apego ao tradicionalismo.
Diante desse contexto tão desafiador, a preparação dos professores é um tema que mais uma vez emerge com muita força. No entanto, questiona-se se a melhor abordagem para preparar os professores está em tentar acompanhar o ritmo frenético das mudanças na sociedade moderna.
Provavelmente, a solução para determinar a melhor abordagem na formação de professores não reside na ideia de acompanhar as rápidas e constantes mudanças sociais, mas sim no ideal de preparação para a vida. Nossos professores precisam estar preparados para a vida, de modo a poderem, assim, preparar outros com esse mesmo ideal.
Seguindo essa lógica, nossos professores precisam ser preparados para desenvolver as habilidades cognitivas, socioemocionais e psicomotoras que servem de alicerce para a formação de indivíduos independentes, capazes de fazer escolhas mais acertadas na vida e adquirir novas habilidades de forma autodidata. Isso os habilitaria a se adaptar, mudar e transitar entre a aquisição de novas habilidades e profissões.
Precisamos entender a educação como o melhor caminho para a independência emocional e intelectual do indivíduo e o professor como um agente de promoção dessa liberdade individual, que só pode ser solidificada por meio da aquisição de habilidades fundamentais, tais como: a capacidade de interpretar textos; comunicar-se por meio da escrita e da fala; classificar informações; desenvolver soluções práticas e aplicar conceitos em contextos específicos, entre outras habilidades.
Vale ressaltar que a ausência dessas habilidades é, frequentemente, motivo de reclamações nos setores de Recursos Humanos das empresas brasileiras. Fala-se muito sobre as novas habilidades, mas muitas vezes negligencia-se as habilidades tradicionais que são pré-requisitos para adquirir novos conhecimentos e habilidades.
Por isso, a ideia de acompanhar as mudanças sociais e concentrar-se na aquisição de micro-habilidades específicas pode não ser o melhor caminho para a formação de professores. Preparar para a vida significa dar independência e liberdade de escolha às pessoas. É a personificação da ideia de que é melhor dar ao pescador a vara de pescar em vez do peixe. Nesse sentido, é essencial revisitar a educação clássica e beber da fonte que nutriu a cultura ocidental. Devemos formar professores com virtudes não apenas intelectuais, mas também morais. A integridade educacional que caracterizava a educação clássica deve ser reintegrada nos programas de formação de nossos professores.
Não consigo visualizar nada mais disruptivo e moderno, do ponto de vista educacional, do que a incorporação dos conceitos amplamente testados da educação clássica na educação contemporânea.