Tenho refletido muito sobre os aprendizados da “nova realidade”, ou novo normal. Nesse período de pandemia, passei por algumas situações para as quais, mesmo com 34 anos de carreira, não tive repertório. Por isso, me impulsionei a buscar, e encontrar, novos caminhos.
Tive de fazer isso algumas vezes na minha vida, porque já vivi muitas outras crises, como confisco de poupança, crise cambial e do petróleo, guerras, impeachment e mais uma infinidade de outros momentos que nem chegaram a receber um nome específico.
E, trabalhando em RH, essas situações sempre me colocaram no centro nervoso de um furacão amalgamado por demissões, corte de custos, suspensão de contratações, eliminação de horas extras, congelamento de salário, reorganização e apertos!
Agora, com a pandemia da Covid-19, do dia para a noite tivemos que aprender, literalmente, novos mecanismos de gestão, ampliar ao máximo o trabalho remoto e ganhar intimidade e domínio de plataformas até então concentradas em alguns departamentos da empresa. Nos acostumamos com uma enxurrada de lives e de treinamentos online, tentando, na medida do possível manter e ganhar espaço.
Diante desse futuro desconhecido, as empresas, hoje, criam protocolos para permitir colaboradores trabalhando de casa, em tempo integral. E aceitam as fragilidades que o home office tem revelado: criança falando, telefone ou interfone que toca durante uma call, marteladas no apartamento de cima, aspirador no apartamento de baixo, reuniões do companheiro que está no mesmo ambiente, enfim…home office!
E o que aprendi com tudo isso?
Algo que talvez já fosse óbvio, mas que ficava escondido, pouco evidente. Confiança é tudo! Confiança é a nossa base, nosso ponto de partida e o pano de fundo. Sem ela, não poderíamos supor o trabalho longe dos olhos da liderança, jamais.
Descobri que o comando e o controle são escolhas que empobrecem a autonomia. E que as pessoas conquistam a autonomia – e o empowerment! – para que, de fato, tenham o poder de exercê-la, não como apenas mais uma capacidade adquirida.
Também aprendi que exercemos o controle porque é mais confortável para nós. E eu digo confortável, porque percebi que quanto mais a confiança se mostra e ganha espaço, mais produtividade temos.
É fato que neste home office estamos trabalhando mais. Mas também estamos exercendo esse nosso engajamento porque, de alguma maneira, queremos. Nos engajamos porque fazemos parte, e queremos que o resultado venha, que dê certo. Mas tentar achar o equilíbrio também é importante.
E, nesse contexto, notei que menos é mais. Nada de salto alto, terninho ou camisa de seda para mostrar que trabalha bem. O essencial, na verdade, não tem preço.
Outro aprendizado importante é que o colega do lado faz falta. Também faz falta a integração, o cafezinho, as rodas de conversas banais, os abraços apertados, o erro ao contar os beijos em cariocas, paulistas e mineiros…e ainda não sabemos quando vamos nos recuperar dessas saudades.
Não sabemos nem quando poderemos voltar a beijar, abraçar ou simplesmente dar um bom e forte aperto de mão. O que sabemos é que tudo será diferente – para a melhor – se soubermos valorizar as pequenas coisas, identificar o que nos é mais caro e cultivar, como a uma flor delicada, as nossas relações, as nossas vidas e as nossas emoções.
Para terminar essa minha reflexão sobre o período que estamos atravessando e todos os aprendizados que ele está gerando, quero deixar uma visão minha sobre tudo isso: as emoções nos trouxeram até aqui e é por elas, e com elas, que vamos sobreviver a todo esse vendaval. Então, que tenhamos a capacidade de estabelecer emoções positivas, construtivas e enriquecedoras que, acima de tudo e por tudo isso, nos permitam ser pessoas melhores neste novo normal. Estamos juntos nessa!
Por Gisele Scalo – Diretora de Recursos Humanos na SONDA