Por Silvana Mello, especialista em Desenvolvimento Humano da Talent Creative Solutions
Uma boa parte dos indicadores estatísticos que se referem à mulher nas organizações e na sociedade retratam uma realidade de diminuição e desigualdade fruto do processo de socialização e estereótipos que foram sendo criados ao longo do tempo, muito fáceis de serem reconhecidos: “mulheres não são boas em matemática”; mulheres não se interessam por tecnologia”; “mulheres cuidam da casa e dos filhos”. Estes mitos criados ao longo da história vêm sendo derrubados, paulatinamente, na medida do progresso de cada cultura/país.
Talvez poucas pessoas saibam, mas a mulher só teve direito ao voto no Brasil no ano de 1932, muito diferente por exemplo da Nova Zelândia que instituiu o direito ao voto feminino (votar e ser votada) há mais de 125 anos. Então a presença feminina nas organizações depende muito do progresso cultural, econômico e político de cada região, tema que atravessa gerações.
De 186 países considerados pela ONU, o Brasil ocupa o 161º no ranking de presença feminina no Poder Executivo. Na lista dos 10 primeiros países estão: Nova Zelândia, Chile, Reino Unido, Suíça, Ilhas Marshall, Myanmar, Islândia, Noruega, Peru e Alemanha. Por “poder executivo” entende-se posições de chefias de governo e ministérios. Considerando os 10 primeiros países, a média está em 28,5%, o que também é muito baixo.
No Brasil, onde temos 51,5% de mulheres e 48,5 % de homens há ainda um GAP salarial na faixa de 70% em relação aos homens.
Diante de tantos indicadores reais, como a presença feminina pode fazer a diferença na liderança das empresas?
De acordo com o The World Economic Fórum, apoiar a paridade de gêneros é fundamental para garantir sociedades fortes, coesas e resilientes em todo o mundo. Então, em primeiro lugar é preciso contratar mulheres para posições de liderança, não somente em áreas mais femininas, mas em posições de comando estratégico.
Em segundo lugar é importante derrubar velhos mitos, em vários estudos foi comprovado que a presença feminina traz resultados. De acordo com um estudo do Peterson Institute for International Economics que investiga o impacto da diversidade de gêneros nas organizações, as empresas que têm mais mulheres em posições de comando são mais rentáveis. O estudo, que analisou 21.980 empresas em 91 países, mostra que o desempenho das empresas melhora quanto maior é a proporção de mulheres em posições de liderança corporativa. A diferença não é pequena: empresas com pelo menos 30% de presença feminina em cargos executivos seniores têm lucro 15% maior do que aquelas cuja presença é menor.
Em terceiro lugar é preciso entender que a liderança feminina traz alguns componentes emocionais que equilibram os ambientes. E isto não é uma falácia!! De acordo um estudo realizado com 55 mil profissionais de diversos níveis pela Hay Group, mulheres tem mais inteligência emocional do que homens. Este resultado foi respaldado pelo respeitado Inventário de competências Emocionais e Sociais de Daniel Goleman. A maior diferença (nos 12 fatores pesquisados) foi no autoconhecimento.
E por último, a presença feminina nas empresas não significa que o feminino é pior ou melhor que o masculino, apenas são complementares. O neurocientista Oscar Marín que dirige o Kings College de Londres afirma que os cérebros de mulher e homem são diferentes, mas isto não tem nada a ver com capacidade.
Concluindo, a presença feminina na liderança das empresas, é relevante, traz resultados financeiros, é positiva e necessária.
As líderes femininas que estão dentro das organizações em posições de comando precisam trabalhar em alguns pilares:
- O desafio da equidade de gêneros é de todos, não só das mulheres. É preciso ter um olhar inclusivo para este tema, independente do gênero todos precisam uns dos outros.
- É necessário ampliar o autoconhecimento para poder se destacar em áreas onde o seu talento pode ser um diferencial.
- Importante assumir riscos e se posicionar, principalmente em situações de pouco conforto. Aquela apresentação executiva difícil, naquela sala cheia de homens vestidos de terno preto precisa ser enfrentada.
- Derrubar o mito dicotômico de que a mulher que cresce profissionalmente não pode ser mãe, não pode ter uma família…etc. A mulher pode ser o que ela quiser.
- Fundamental se apropriar das suas próprias competências, mesmo que o ambiente seja masculino. A mulher é naturalmente intuitiva e cuidadosa, mas no exercício de se adaptar pode se masculinizar desnecessariamente, perdendo sua identidade.
- Praticar a sororidade, apoiando outras mulheres, criando uma corrente positiva de equidade e equilíbrio.
- Ser mais estratégica. Como a mulher equilibra muitos pratos ao mesmo tempo, pode se mergulhar em listas de tarefas e diminuindo sua atenção às ações mais estratégicas.
- É vital fazer networking e divulgar suas conquistas e realizações.
- Por último, a mulher precisa acreditar nela mesma, no seu potencial e deixar de ser perfeccionista. Muitos estudos demonstram que a mulher só concorre a alguma posição quando tem 100% dos requisitos, muito diferente dos homens que concorrem mesmo tendo 60% dos requisitos.
Fecho este artigo com a frase de Simone Beauvoir, uma mulher muito à frente de seu tempo, uma escritora francesa e ativista que escreveu o livro “O segundo sexo”, na década de 40.
“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.”