A Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018, também conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), regula as atividades de tratamento de dados pessoais. Sua publicação atraiu os olhos e o foco de todos, pois resvala na proteção de dados em um momento no qual essa temática ganha cada vez mais relevância no cenário internacional, impactando, inclusive, relações diplomáticas e políticas entre grandes países.
A preocupação com a proteção dos dados, por sua vez, assume ares de protagonismo, deixando outros aspectos em segundo plano, como é o caso da inovação e melhoria de processos. Nesse sentido, devemos nos perguntar: no atual cenário de transformação digital, estamos realmente dando a devida importância para todo o panorama por ela constituído?
Conforme matéria publicada no portal Security Report:
Um recente levantamento realizado pela Vanson Bourne […] estudou o progresso da transformação digital em empresas em todo mundo, inclusive no Brasil. O estudo mostrou que apenas 6% das empresas brasileiras podem ser consideradas como líderes digitais, ou seja, que têm a digitalização enraizada no negócio. (MACHADO, 2019, não paginado)
Devemos reconhecer, então, que a transformação digital é um caminho que ainda precisa ser percorrido por grande parte das empresas brasileiras. Nesse sentido, este artigo propõe uma reflexão sobre formas mais adequadas de percorrer esse trajeto, tão urgente quanto necessário.
Todos os esforços se destinam apenas a aperfeiçoar essa transformação, em uma tentativa de superar, de modo definitivo, o âmbito analógico das tecnologias. Isso pode ser comprovado quando observamos os incansáveis investimentos de grandes empresas em Big Data, Inteligência Artificial (IA) e a denominada Internet das Coisas (IOT).
Embora sejam vertentes que mereçam a atenção, focar apenas nelas revela uma visão limitada das transformações digitais, já que esse contexto implica, sobretudo, pensar em outros recursos, como as pessoas e os processos, fundamentais para a obtenção de produtos e resultados.
O que se nota é uma preocupação generalizada com as tecnologias, mas a falta da devida atenção à melhoria dos processos. É preciso, antes de tudo, compreender a cadeia de valor das companhias, e o funcionamento da gestão dessas mudanças. É no centro delas que estão as pessoas.
Devemos nos munir de uma visão clara e abrangente do processo atual, para que seja possível identificar falhas e oportunidades no processo de uma empresa. Com a definição de uma cadeia e o mapeamento dos processos, então, pode-se empreender uma busca, no mercado, por soluções. Essas soluções, a depender do core business da empresa, podem ser sustentadas por Big Data, IOT, blockchain, entre outros serviços e recursos.
Como exemplo, citamos uma feira tecnológica realizada na cidade de São Paulo, na qual uma empresa expôs o uso tecnológico adotado para virtualização de contratos – o que é diferente de digitalização, já que envolve um sistema de leitura de campos específicos dos contratos, com a identificação dos participantes, cláusulas e demais campos relevantes mapeados. Esse processo, por fim, envolve o registro dos contratos na blockchain pública. No entanto, ele pode começar com a robotização e expandir para a Inteligência Artificial, por exemplo. Mas isso só faz sentido quando falamos de contratos, uma atividade manual. Ao abordar um processo para logística, e-commerce, força de vendas ou operações isso não aconteceria com tanta facilidade.
Em outras palavras, caso o processo não esteja claramente definido nesse sentido, com funcionamento, benefícios, objetivos e propósitos bem delimitados, dificulta-se a identificação das falhas e das oportunidades, o que deve ser o ponto de partida. É com base nesses dados que a empresa cria o baseline, conseguindo, então, estabelecer uma visão clara e reconhecer qual ferramenta de mercado oferece o apoio necessário.
Cabe destacar que essa transformação é cíclica e não se encerra em si mesma. Isso porque, quando executamos uma atuação sobre determinado processo, providenciamos sua normatização e estruturação, transformando-o digitalmente. Nesse panorama, o processo deve ser sempre monitorado, até que dê início ao próximo processo.
Desenvolver um produto é apenas parte do processo e não basta para garantir seu sucesso. É necessário compreender seu real propósito dentro do mercado, quais melhorias ele busca ou de que forma pode agregar valor.
Portanto, fica claro que a transformação digital importa tanto quanto o conhecimento produzido pelas pessoas que estão envolvidas nos processos. O desenvolvimento tecnológico é imprescindível, assim como o reconhecimento de que, no centro dos processos, estão as pessoas.
Por Marcelo Candido, especialista em TI