As salas de aula são microcosmos do mundo corporativo
Colunista Mundo RH, Fabrício Garcia, CEO da Qstione
No início do ano, o ciclo de volta às aulas recomeça. É como se tivéssemos um reinício da vida acadêmica a cada fim de ano, desencadeando um novo ciclo de planejamento escolar. Nesse novo ciclo de planejamento educacional, novas metas de ensino são traçadas e investimentos são feitos para alcançar tais objetivos.
Se você tem filhos em idade escolar, nesta época do ano, já deve ter despendido recursos consideráveis em matrícula, pagamento de mensalidade, compra de material didático, transporte escolar, entre outros. No ensino superior, as coisas não são tão diferentes; a depender do curso, os gastos podem ser elevadíssimos. Obviamente, todo esse esforço e investimento ocorrem mediante uma expectativa de recompensa. Afinal, assim como acontece no mundo corporativo, as pessoas geralmente investem pensando em obter algum tipo de retorno, que não necessariamente financeiro.
Mas, então, qual seria essa recompensa?
As pessoas têm diversas expectativas de retorno. Algumas buscam apenas um status diferenciado por possuir um determinado diploma, enquanto outras desejam adquirir habilidades únicas que as diferenciem no mercado de trabalho. As famílias, por sua vez, querem um futuro melhor para seus filhos. No final das contas, todos esperam algum tipo de retorno sobre o investimento em educação.
No mundo corporativo, as pessoas e empresas buscam constantemente avaliar os resultados obtidos a partir dos investimentos. Ou seja, o risco e o retorno do investimento são variáveis extremamente importantes para o ambiente corporativo, constituindo uma grande área de estudo na economia. Na educação, as coisas nem sempre são assim. Infelizmente, muitas pessoas acham que não é possível calcular as mesmas variáveis quando se trata de investimento em educação.
Nesse sentido, o mundo corporativo tem muito a ensinar ao mundo educacional. Precisamos investir de maneira mais assertiva em educação, considerando o risco e o retorno do investimento. É preciso tomar cuidado desde a escolha da instituição de ensino até a análise do currículo oferecido por ela. Lembre-se, o investimento em educação também precisa de um retorno.
Por outro lado, ao analisarmos o mundo educacional, percebemos que as escolas, universidades e até mesmo uma única sala de aula, quando analisadas isoladamente, são como se fossem “microcosmos” das empresas. Elas mimetizam o ambiente corporativo.
Os professores atuam nas salas de aula como se fossem líderes de equipes que precisam atingir objetivos específicos de aprendizagem e, por que não dizer, metas de aprendizagem, já que a palavra “meta” é amplamente utilizada no mundo corporativo. Essas metas de aprendizagem são definidas no planejamento pedagógico, que, por sua vez, se materializa em um plano de ensino. Percebam que o modelo organizacional de uma sala de aula é similar ao de uma pequena empresa, talvez uma startup.
A volta às aulas nada mais é do que o início do cumprimento de um novo plano de ensino, com um novo ciclo de metas de aprendizagem a serem atingidas no ano que se inicia. No mundo educacional, as metas só podem ser alcançadas se os estudantes trabalharem em conjunto com os professores e a instituição de ensino. Assim, o próprio cliente (o estudante) é corresponsável pelos resultados obtidos pela empresa contratada.
Esse pacto implícito entre os estudantes e a instituição de ensino cria uma relação em que o cliente se torna um co-criador de soluções para a empresa (instituição de ensino). Isso reflete algo que o mundo corporativo moderno busca incessantemente, porém, em muitos casos, sem grande sucesso.
Atualmente, grandes corporações investem cifras altíssimas com o intuito de coletar informações e feedbacks dos clientes, além de buscar maior interação dos seus clientes com os produtos fornecidos pelas empresas. Tudo para que seus clientes possam ajudá-los a construir produtos com mais qualidade e maior aceitação mercadológica. Curiosamente, isso é algo que no mundo educacional acontece naturalmente.
Resumidamente, a volta às aulas ensina ao mundo corporativo como deve ser a relação cliente-empresa, e o mundo corporativo nos ensina que é preciso sempre considerar os riscos e o retorno do nosso investimento educacional, que pode variar de acordo com o que almejamos em relação à educação.