A pressão crescente por resultados e a redução nos tamanhos das equipes não são fenômenos recentes
Não resta dúvida que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional se tornou um dos principais desafios de trabalhadores e empresas no século 21. Mas o que tem sido feito a respeito desse assunto no Brasil e no mundo?
O Top Employers Institute, empresa global na certificação da excelência nas condições de trabalho criadas pelas organizações, avaliou as práticas de mais de 1300 empregadores do Brasil e do mundo sobre qualidade de vida no ambiente corporativo.
Entre os principais achados do estudo do ano de 2018 sobre o tema, que envolveu RHs em 118 países, podemos mencionar:
- No Brasil, 71% das organizações participantes contam com programas consistentes para desencorajar funcionários de permanecerem mais do que o necessário no escritório. Este percentual é 15% maior que a média global e 22% maior em relação a outras empresas presentes na América Latina.
Chama a atenção esse percentual no Brasil especialmente por não estar relacionado a nenhum requisito legal que determine os limites da jornada de trabalho, como temos visto em países como a França, por exemplo. O indicador também parece contradizer o senso comum de que cada vez se trabalha mais horas, especialmente com o advento das tecnologias móveis.
- Por outro lado, em relação ao cuidado com o stress e a ansiedade corporativa, apenas 61% dos respondentes disseram aplicar programas preventivos aos seus colaboradores; a média mundial desta prática é 82%.
Neste ponto, creio que exista uma grande oportunidade para as empresas no Brasil. Com frequência, observamos empresas preocupadas com o bem-estar físico dos colaboradores, mas muito poucas parecem ter a mesma preocupação com o bem-estar psicológico dos funcionários.
Considerando que 23% das empresas participantes no Brasil contam com alguma iniciativa de recuperação por esgotamento no trabalho (burnout), esses pontos poderiam ter maior prioridade entre as organizações.
A pressão crescente por resultados e a redução nos tamanhos das equipes não são fenômenos recentes, porém, infelizmente vêm se intensificando como reflexo da realidade econômica atual.
As organizações certificadas já mostram avanços importantes em questões de bem-estar e qualidade de vida no trabalho em relação às demais empresas no mercado. No entanto, é claro que ainda existe um longo caminho a ser percorrido para se alcançar as melhores práticas globais.
Estudos recentes evidenciam que os investimentos em programas de desenvolvimento de pessoas são capazes de impulsionar os resultados financeiros das organizações no médio e longo prazo.
No entanto, temas relacionados à qualidade de vida não podem estar restritos somente à agenda dos líderes de RH; devem permear toda a empresa, como desdobramento dos valores e missão da organização.
É preciso assegurar constantemente que a estratégia de pessoas vá além de oferecer salários competitivos ou oportunidades de crescimento e desenvolvimento, e foquem em questões de propósito, algo que se possa conectar com as motivações e valores dos colaboradores, clientes e demais stakeholders. Cuidar da promoção da saúde e da qualidade de vida no ambiente de trabalho está entre as formas mais gratificantes de poder fazê-lo.
Por Gustavo Tavares – Country Manager do Top Employers Brasil
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