A morte do cachorro reflete uma sequência de erros internos de treinamento e conhecimento da cultura da empresa
Em plena época de promoções natalinas, o Carrefour ganhou espaço da mídia e da sociedade por motivos não tão festivos. A morte de um cachorro em uma das lojas da sua rede, em Osasco (SP) por espancamento de um segurança, que antes já tinha envenenado o animal, causou repúdio de uma massa de consumidores, ativistas e pessoas públicas.
A primeira reação da opinião pública quando nos deparamos com uma brutalidade tamanha (que não tem nenhuma relação com o supermercado) é pensar a que ponto chegou a humanidade. A violência contra um animal fere o sentimento mais humano de cada um de nós. Mas essa é apenas a última peça de um quebra-cabeça sem as devidas arestas.
A morte do cachorro reflete uma sequência de erros internos de treinamento, conhecimento da cultura da empresa, ação efetiva dos superiores tanto com os funcionários da casa quanto os terceirizados. O fato de não ser funcionário não muda em nada porque todos deveriam ter recebido a mesma orientação. Infelizmente, a postura está errada e a mancha vai ficar mesmo. Ou então até o próximo caso pior que esse chamar a atenção da sociedade e mídia. Temos que manter essas marcas em nossa memória no dia a dia e boicotar como uma forma de retaliação porque nada vai trazer o animal de volta.
O varejista pecou ainda por ter soltado descoordenadamente informações até por fim emitir um comunicado oficial (abaixo) no qual afirma que “A rede repudia qualquer tipo de maus-tratos contra animais… Estamos colaborando com as autoridades, disponibilizamos todas as informações e imagens para que o fato seja solucionado.”
Veja a íntegra da nota da rede Carrefour:
“A rede repudia qualquer tipo de maus-tratos contra animais. Comprometido em manter a todos informados sobre o episódio ocorrido na loja de Osasco, nossa apuração preliminar apontou que o cachorro estava circulando pelo estacionamento há alguns dias. O Centro de Zoonoses de Osasco foi acionado por diversas vezes, mas não recolheu o animal. No dia do incidente, clientes se queixaram sobre a presença do cachorro, e, novamente, o órgão foi acionado. Um funcionário de empresa terceirizada tentou afastá-lo da entrada da loja e imagens mostram que esta abordagem pode ter ocasionado um ferimento na pata do animal.
O Centro de Zoonoses de Osasco foi acionado novamente e compareceu ao local para recolhê-lo. No entanto, no momento da abordagem dos profissionais do órgão para imobilização, o cachorro desfaleceu em razão do uso de um “enforcador”, tipo de equipamento de contenção. A Delegacia especializada de Osasco (D.I.I.C.M.A.) abriu inquérito e está investigando o caso. Estamos colaborando com as autoridades, disponibilizamos todas as informações e imagens para que o fato seja solucionado.”
Matar cachorro, expulsar negros, homofobia, maltratar crianças entre outras atrocidades que lemos nos últimos meses refletem o pior de uma sociedade, o lado mais escuro e podre de cada ser humano. Essas posturas precisam ser boicotadas diariamente porque muitos empresários só vão entender a gravidade da situação quando sentirem no bolso. Infelizmente, ainda vivemos em uma cultura de que só se presta atenção em um fato quando dói o bolso. E o que temos com isso? Cabe aos profissionais de comunicação, como é o meu caso, alertar diariamente nossos clientes sobre a importância de saber a cultura, valor, missão e visão das empresas e manter programas TREINAR TODOS os seus funcionários SEMPRE.
Em tempo: nota do G1 do dia 9 de dezembro:
“……O supermercado também elencou ações que deve tomar após a morte de Manchinha: revisão dos treinamentos de colaboradores, parceiros e prestadores de serviço; ampliação das feiras de adoção de animais em todo o país.
Além disso, disse que criará o “Carrefour Pet Day” no dia da morte do cachorro, “quando apoiará com recursos entidades de acolhimento e defesa animal”.
Ou seja, a rede corre atrás do prejuízo em relação à sua marca com a criação de um dia para animais de estimação na data da morte do animal. Mesmo que ainda tenha demorado para se posicionar, claramente eles tentam minimizar os estragos antes da noite de Natal.
Por Daniela Barbará – Atua há mais de quatro anos voluntariamente como coordenadora do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos da Abracom.