A saúde mental está ganhando espaço e para determinadas organizações se tornou prioridade no trabalho
Por Dra. Camila Magalhães, psiquiatra e cofundadora da Caliandra Saúde Mental, empresa especializada em soluções de cuidados à saúde mental e treinamento de liderança
Após a OMS (Organização Mundial de Saúde) publicar novas diretrizes globais sobre a saúde mental no trabalho, ficou ainda mais evidente a importância de ações concretas para enfrentar riscos à saúde mental relacionadas ao ambiente laboral e a urgência das empresas incorporarem o tema como ponto fundamental das estratégias de negócio.
A saúde mental está ganhando espaço e para determinadas organizações se tornou prioridade no trabalho. É interessante ressaltar que qualquer questão emocional dentro da equipe não deve ser naturalizado. É claro que não se espera que as organizações absorvam todos os desafios emocionais enfrentados por seus colaboradores, mas cabe à empresa proporcionar sustentabilidade emocional nas diretrizes organizacionais, oferecendo um ambiente corporativo saudável, além de ser essencial que esteja preparada para garantir apoio em casos de sofrimento emocional, principalmente em situações de crise, sejam elas individuais ou coletivas.
O cenário é ainda mais desafiador quando nos deparamos com mudanças de paradigmas e comportamentos como rotinas insalubres, cargas de trabalho desmedidas, hábitos negativos e outros fatores que afetam o emocional. Contudo, o movimento para evitar o sofrimento mental no ambiente de trabalho tem ganhado um novo significado, como construir e reformular uma cultura interna de prevenção e promoção do bem-estar e qualidade de vida dos colaboradores.
Mas, o que esperar da saúde mental dentro das empresas?
Primeiramente, a empresa precisa identificar a demanda e quais lacunas necessitam de um olhar criterioso. As melhores práticas para reduzir turnover e absenteísmo são investir em uma gestão estratégica focada em engajar e aproximar o colaborador da empresa.
Sem dúvidas, ter uma maior atenção aos indicadores de saúde mental e impactos dos programas é essencial. Pois é precisamos mostrar e refletir não somente sobre o retorno do investimento que é feito em programas de saúde mental, mas também as economias atreladas devido a menores taxas de afastamentos, menos custos com saúde e até mesmo no turnover. Precisamos mostrar em números os ganhos de saúde e bem-estar junto aos colaboradores, que é algo tão qualitativo.
O que temos ainda visto com frequência são as altíssimas lideranças preocupadas em como inserir o cuidado em Saúde Mental ao mesmo tempo que “demandam” a alta performance. No entanto, é preciso destacar que cuidar de Saúde Mental não significa reduzir a performance. Pelo contrário, é preciso destacar que na “maratona” da produtividade não ganha quem sai correndo gastando todas as energias, mas quem consegue equilibrar esse “investimento” e momentos de “reposição” de energia.
Quando cuidamos da saúde mental, consequentemente, elevamos a produtividade, satisfação, atração e retenção dos talentos. Não é de hoje que os desafios em saúde mental são atrelados a barreiras de comunicação, mitos e preconceitos.
Vale ressaltar que os líderes também são seres humanos, também estão sujeitos ao sofrimento emocional e também precisam de cuidados.
Mas, percebo cada vez mais um movimento genuíno em prol da saúde mental, a fim de promover um ambiente de trabalho saudável. Embora seja um tema muito comentado ultimamente, ele ainda é delicado e nada simples. Por isso, é preciso encará-lo com o máximo respeito e seriedade, tendo sempre o bom senso e empatia para compreender e analisar quais são as necessidades da empresa, além do perfil e da cultura dos colaboradores, para que, assim, os projetos façam sentido e possam trazer bons resultados. Neste cenário, contar com a orientação e participação de profissionais especializados em saúde mental pode fazer toda a diferença.
Portanto, para a construção desse ambiente saudável e sustentável emocionalmente, é de extrema importância investimentos adequados e que contemplem todo o organograma empresarial. Isto, alinhado com a cultura organizacional e a gestão de pessoas, resulta em engajamento dos colaboradores, maior produtividade, retenção e captação de novos talentos. Ao apostar nisso, com certeza, a empresa dá um importante passo para uma transformação positiva no ambiente de trabalho. Ganhamos todos: a organização com maior produtividade e sustentabilidade, os colaboradores com mais saúde e a sociedade com a economia fortalecida e mais qualidade de vida.