Você deve estar pensando agora. Sim, eu sou workaholic, trabalho muito e este é o meu motivo de viver. Preciso entregar, vencer, evoluir, me destacar, ganhar dinheiro e, para isso, preciso trabalhar muito, me dedicar muito e abrir mão de todo o resto porque preciso mostrar meu valor.
Durante a pandemia da Covid-19, o mercado de trabalho ficou ainda mais competitivo e o alto índice de demissões no país tem feito com que os profissionais sintam uma cobrança diária por melhores qualificações e bons resultados. Muitos estão trabalhando home office, o que faz com que a autocobrança aumente e as horas de trabalho fiquem sem controle.
Outro dia estava atendendo uma paciente às 19h30. O horário dela de trabalho é das 8h às 18h. De repente ela pede uma pausa e interrompe a terapia no meio porque a chefe havia convocado naquele minuto uma reunião para às 20h. Perguntei a ela se era comum ou se era algo extraordinário. E ela disse que era muito comum, que a chefe dela pedia reuniões a qualquer hora do dia, inclusive aos sábados e que ela estava acostumada.
Pois é. Você se acostuma a atender às demandas absurdas das empresas, justamente pelo medo de perder, não só o emprego, mas também a reputação. A longo prazo, repetindo este comportamento e, mais do que isso, se sentindo pressionado por entregar mais e mais e percebendo que não consegue, você começa a se sentir que não é bom naquilo, que é uma fraude, muitas vezes se enquadrando na síndrome do impostor, fazendo com que a autoestima fique baixa, a exaustão tão grande, uma irritabilidade imensa, falta de atenção, de concentração, o que traz a baixa produtividade e a ansiedade extrema, e então o surto! Sim, você surta porque não está conseguindo lidar com aquilo, porque não está feliz com o resultado e se sente soterrado em meio a tantos afazeres e não consegue dar conta e nem saber mais quem você é ou que você quer.
É a chamada síndrome de burnout ou do esgotamento profissional, um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, normalmente relacionada ao trabalho, mas que afeta todas as áreas da vida do indivíduo. O fenômeno foi identificado pelo psicólogo estadunidense nascido em Frankfurt, na Alemanha, Herbert J. Freudenberger (1926-1999), em 1974. Ele mesmo trabalhava 12 horas por dia porque chegava a atender até dez dependentes químicos em um único só dia, o que ocasionou em um esgotamento físico e mental. A partir de então, começou a verificar que isso não acontecia apenas com ele, mas com muitas pessoas e então estudou a respeito, lançando um livro sobre o tema em 1980.
Acredita-se que 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem desta síndrome, de acordo com dados de uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma). Mas, eu particularmente acredito que seja ainda maior este número porque muitas pessoas trabalham sem registro e outras que apresentam esse quadro nem são diagnosticadas, principalmente as mulheres, que além do trabalho profissional acumulam outras atividades em casa, responsabilidade com os filhos e a família em geral.
É preciso compreender que não somos uma máquina e que precisamos alcançar o equilíbrio mental, sentimental, físico e espiritual para estarmos bem, ter uma boa qualidade de vida e, consequentemente, uma boa produtividade no trabalho. Hábitos saudáveis juntamente com uma mente tranquila são a chave para que você não tenha síndrome de burnout. Por outro lado, as empresas precisam entender que quanto mais houver cobranças, menos motivados e produtivos os profissionais ficam, interferindo nos resultados da companhia.
Por isso, é muito importante se conhecer e perceber como você está agindo. Se você está tendo uma boa noite de sono, quantas horas está dormindo, como estão suas preocupações diárias, se está sendo muito pressionado no trabalho, se está se alimentando de modo saudável, se está tendo tempo para si, inclusive para fazer uma atividade física ou para se divertir, se está conseguindo dividir seu tempo ou se todo ele está dedicado ao trabalho?
E mais do que isso. Como estão seus sentimentos, suas emoções e sua saúde física? Está ansioso, cansado, estafado, triste, com dores no corpo, na cabeça, palpitações no coração, pressão arterial alta, problemas na pele, tem compulsão por algo, foge dos conflitos, está antissocial, está negativo e reclamando de tudo, não dá atenção às suas necessidades? Perceba-se, note-se, tenha um tempo com você e só o autoconhecimento poderá antecipar este diagnóstico e buscar ajuda necessária para resolver a questão.
O tratamento, normalmente, é realizado com psicoterapia, com um psicólogo ou um psicanalista, e também com antidepressivos e/ou ansiolíticos prescritos por um médico psiquiatra.
Uma dica que eu dou para os meus pacientes para conseguir manter a mente saudável e desacelerada é a prática da meditação. É importante saber respirar, oxigenar o cérebro e relaxar o corpo. Deixe vir todas as questões à mente e por meio da respiração cada uma delas vai se encaixando e tomando o seu lugar, fazendo com que a ansiedade diminua.
Mas, a melhor forma de combater a síndrome de burnout é realmente se prevenindo e como mencionei acima é muito importante a percepção de si mesmo para, então, reconhecer seus limites, porque alguém que não dá limites se torna ilimitado e nós não somos seres ilimitados porque somos humanos. Ao fazer psicoterapia, você tem a oportunidade de se conhecer melhor e saberá como impor seus limites para ter uma vida profissional e pessoal mais saudável.
Priscilla Tavollassi é jornalista e psicanalista integrativa, especializada em metafísica da saúde.