Por Fred Alecrim, Diretor de Recursos Humanos e co-fundador da Credere
Gosto de dizer que o que mais delimita o crescimento de um negócio é a sua liderança. Isso tem um porquê: a empresa é tão boa quanto o seu time, e o time é tão bom quanto a sua liderança. Algumas pessoas têm o entendimento de que a empresa cresce e, então, todo mundo é puxado. Isso é um equívoco. Quando a liderança cresce, puxa todo mundo com ela. Claro que o contrário também vale: se os líderes não evoluem, a empresa para.
Quis trazer esse pensamento para dar a medida do quanto é importante rever o papel do líder daqui para frente.
A essa altura, já digerimos o fato de que nada será como antes. De certa forma, a pandemia nos ensinou a lidar com transformação e o sentido de urgência. A inquietude da Geração Z reforça esse desafio.
Você já deve ter ouvido em algum momento a expressão “show, don’t tell”, ou seja, “eu não quero ouvir você falar sobre o que acredita, eu quero ver você mostrar o que faz”. Vamos supor que a sua empresa assume um discurso pela equidade de gênero, mas a maioria dos colaboradores é masculina. Ou, discursa a favor da diversidade e forma equipes homogêneas.
A Geração Z não se contenta com o marketing vazio. Ela busca um sentido maior para o que faz, quer trabalhar em empresas que pensam além do lucro. Não aceita mais a situação de comando e controle, quer ter autonomia e novas propostas no trabalho.
É uma virada de chave que vai depender da evolução da consciência da liderança ou ela ficará presa a modelos que hoje já não funcionam, e estão sendo questionados. Isso dá trabalho e envolve dedicação, educação, treinamento e, em alguma medida, desconstrução.
Você conhece a frase que diz: “não deixe a nostalgia te impedir de seguir em frente”? A gente costuma ser tão apegado ao passado e ao que construiu, que pode acabar ficando para trás. Isso vale para a empresa como um todo e para o líder de RH, que muitas vezes pensa “foi sempre assim que eu conduzi a minha equipe, não vou mudar nem trazer diversidade”.
Para não ficar só no discurso, na nossa empresa, por exemplo, quase 40% do time são mulheres. Isso faz com que precisemos conversar constantemente com o time masculino, para que o nosso viés sempre esteja mudando e não tenhamos aquele olhar masculinista tão arraigado.
Acredito fortemente na ideia da mentoria que cria questionamento e tira o sujeito da zona de conforto. Se o líder é homem, escolhe uma mentora, mulher, para dar um choque de realidade, sempre que necessário. Só assim, ele conseguirá evoluir, evitando comportamentos machistas, por exemplo.
Essa tomada de consciência torna mais possível a construção de um ambiente acolhedor, menos tóxico e mais estimulante, que gere sentimento de pertencimento.
Se a liderança conseguir fazer as pessoas se sentirem seguras e confortáveis para falar e tomar iniciativas, pode se olhar no espelho e reconhecer um trabalho de valor.
O grande desafio será construir uma cultura em que as pessoas trabalhem não apenas pelo salário, mas também para evoluir e sair dali melhores do que entraram. E que a empresa beba da fonte de cada colaborador, de modo que o negócio não fique parado no tempo e evolua a partir das pessoas que lá estão.
Daí a importância de praticar o desapego ao passado, que impede de trabalhar no presente para construir o futuro. Deixar o olhar diferente se somar ao seu para criar um novo olhar, mais completo e empático, sobre os problemas. É do que o mundo sobrevivente da pandemia mais precisa.