Por Fernanda Inomata, Diretora de Assuntos Institucionais do Pravaler
“Cultura é aquilo que fazemos quando ninguém está olhando”.
Eu gosto bastante dessa frase do Nizan Guanaes. Por um lado, ela denota o poder da cultura. É aquilo que está tão entranhado, que a gente faz sem precisar de cobrança ou supervisão.
Por outro, fica implícito também o quão difícil é transformá-la em uma prática constante. Afinal, para muita gente, se não tem ninguém cobrando, não há a obrigação de fazer. E se não é obrigação, mais fácil deixar pra lá.
É por isso que nós, profissionais de RH, vivemos na luta constante para fazer a cultura organizacional ser verdadeiramente absorvida e praticada pelos colaboradores das empresas onde trabalhamos.
Recentemente, o Pravaler passou por uma revitalização da cultura interna.
Se em qualquer momento já seria um desafio fazer o onboarding dos colaboradores numa nova cultura, imagine em tempos de pandemia e de trabalho remoto, em que as pessoas estão fisicamente mais distantes do escritório e entre si.
Acontece que a gente já não podia esperar. Apesar do Pravaler ser uma empresa de 20 anos, eu ouso dizer que, só nos últimos três, a gente sofreu transformações que outras empresas não experimentaram em décadas – seja no que diz respeito a produto, processos, missão, comportamento, ambições ou valores.
Portanto, ser como somos hoje e nos balizar por uma cultura de cinco ou dez anos atrás era como fazer um adolescente de 12 anos assistir a filmes em videocassete… até funciona, mas enrosca, porque é anacrônico.
Só que, em contrapartida, não podemos nos desfazer do que nos trouxe até aqui. Por isso, a nossa cultura revitalizada reconhece e reforça os pontos positivos que sempre tivemos, ao mesmo tempo em que propõe coisas novas que podem nos levar para o futuro que buscamos.
Inclusive, o guia de cultura traz os nossos valores divididos em quatro pilares: “somos”, “temos” e “fazemos”, que são os valores que já carregamos conosco, e “buscamos”, que são aqueles que precisamos reforçar para chegarmos no nosso sonho grande.
Naturalmente, é aí que mora o maior desafio: fazer uma transformação de mentalidade e comportamento para esses valores que ainda não estão arraigados na gente. É mais ou menos como o hábito de praticar atividade física para o sedentário: ele sabe que precisa, mas ainda não consegue se comportar assim. Para virar o jogo, é necessária uma dedicação genuína.
Porém, se engana quem acha que não há desafio no âmbito do “somos”, “temos” e “fazemos”. Por mais que grande parte dos valores propostos já façam parte da essência do Pravaler, a gente quer que as pessoas identifiquem esses valores na prática.
— Eu tomei essa decisão porque tenho coragem para inovar.
— Eu propus esse novo processo porque tenho cabeça de dono.
— Eu me comportei assim nessa situação porque sou justo.
Enquanto a gente não tiver a habilidade de identificar essa linha condutora que une o comportamento ao seu respectivo valor, estamos sujeitos a desviar da cultura. Ou então a criar dependência de um exemplo externo e esperar que o outro faça para que, aí sim, a gente possa fazer.
É claro que o exemplo precisa sempre vir da liderança. Os gestores têm uma responsabilidade grande nesse processo de aculturação, justamente por serem “ícones” da empresa.
Mas cada colaborador pode – e deve – fazer a sua parte. A cada decisão que ele precisa tomar, principalmente nos momentos de conflito ou de dúvida, que ele pense: “isso tem a ver com a cultura da empresa? Como dono da empresa, essa é a melhor decisão que eu poderia tomar?”.
“Temos cabeça de dono”, inclusive, é um dos nossos valores. Mais do que isso, funciona como um convite para que cada colaborador assuma uma postura de protagonismo, mais ativa do que passiva.
Afinal, o que torna uma cultura viva são as pessoas que a praticam. Sozinha, nenhuma cultura se desenvolve. Somos nós, pessoas, que precisamos colocar a mão na massa e fazer acontecer.
A maneira como a gente se comporta, como a gente lida com os nossos colegas de trabalho, como tratamos os clientes: tudo o que a gente faz em nome de uma empresa é – ou pelo menos deveria ser – um reflexo da cultura organizacional.
Cultura é feita de dentro para fora. Portanto, tem que começar bem aqui, dentro de nós.