O efeito pendular das perdas e ganhos: Reflexões sobre carreira, escolhas e o valor do tempo
Heloísa Ramos é executiva com 15 anos de experiência em Gente & Gestão e ESG. Finalista do prêmio RH Mais Admirados do Brasil pelo Grupo Gestão RH; Colunista do Mundo RH; palestrante; co-autora do livro Mulheres do RH 2023 pela editora Leader; mentora voluntária de carreira para mulheres da ABRH, IVG e ONG Cruzando Histórias e madrinha do Instituto Amor em Mechas.
Dizem que o tempo é senhor de tudo e parece que esse ditado ganha ainda mais lógica com o passar do tempo, correto? Porém, podemos antecipar essa cronologia ao realizar duas perguntas:
- O que ganhamos quando perdemos?
- O que perdemos quando ganhamos?
Fiz uma transição da área de negócios para o RH há quinze anos. Lembro-me de ter perdido naquele momento o status de gestora para me tornar uma contribuidora individual, uma colaboradora. Para alguns dos meus colegas, eu estava arruinando minha carreira ao migrar para uma área cujo cargo é considerado de menor “prestígio” e até recompensa, já que a tabela de bônus era compatível com o novo cargo, ou seja, um pouco menor. Nunca me arrependi, porque sabia o que estava perdendo, mas, principalmente, sabia o que eu queria e o que poderia ganhar com esse movimento.
Coleciono algumas entrevistas marcantes na minha vivência como executiva de RH. Uma delas é a de um pai que tinha sido muito bem-sucedido em sua carreira e que, durante nossa conversa, chorou ao contar que, devido à sua atual fase de desemprego, perdeu as condições de continuar custeando a escola da filha. Mas, ironicamente, aquele mesmo ano teria sido o único em que conseguiu buscá-la na escola e ajudá-la nos deveres escolares. Na mesma conversa, ele compartilhou sua expectativa e necessidade de conseguir a vaga e a esperança de devolver a escola particular à filha, mas, contraditoriamente, tinha ciência de que reduziria a intensidade das suas interações com ela.
Se você perdeu recentemente o emprego, pode ter se deparado com respostas como “perdi meu salário, minha estabilidade, meu status” ou algo do tipo. Mas também pode responder que ganhou mais disponibilidade de agenda para aprender coisas que sempre desejou e não conseguiria encontrar espaço na rotina para incluí-las.
Nos últimos meses, tive a oportunidade de me relacionar com colegas de profissão muito bem-posicionados em suas carreiras, alguns até mesmo CEOs de instituições renomadas. Esses profissionais generosamente compartilharam suas experiências a respeito das escolhas que fizeram pessoal ou profissionalmente alguns anos atrás durante horas regadas a café.
Um deles relembrou o histórico de ter sido vice-presidente de uma multinacional alimentícia e de ter morado com a família em países que são considerados referências culturais e tecnológicas. Até que resolveu renunciar aos títulos e aos roteiros de voos previstos nos diferentes continentes para empreender no Brasil. Disse que, antes de obter sucesso em seu novo modelo de trabalho, enfrentou diferentes tipos de medo e instabilidade financeira. No entanto, ganhou também um melhor poder de negociação (inclusive consigo mesmo), onde ocupou durante algum tempo posições desde CEO até estagiário. Hoje possui um negócio de sucesso e uma envergadura de maturidade e liderança muito superior.
Certamente, você também conhece histórias similares e pode até mesmo ser o personagem de alguma delas. O que quero compartilhar é a importância de incluirmos em nossa vida as duas perguntas iniciais deste texto:
- O que ganhamos quando perdemos?
- O que perdemos quando ganhamos?
Elas são pertinentes para todos os momentos das nossas vidas, inclusive quando programamos o despertador. Porque se a meta for começar a praticar exercícios, talvez a escolha seja perder uma hora de sono para ganhar o condicionamento físico desejado.
Dicas:
• Se nos seus planos de carreira você deseja ter visibilidade, precisa perder o medo e sair da omissão, assumir novos desafios que podem alavancar a exposição e experiência (mesmo que baseadas em erros) que deseja para alcançar os cargos e atividades que almeja. Nos Estados Unidos, por exemplo, valoriza-se muito os empreendedores que já faliram e tentaram novamente, a cultura do aprendizado do erro é um fator considerado na avaliação de riscos bancários;
• A autoridade real precisa aparecer nos dias de hoje também com a autoridade digital. Sim, é necessário utilizar os recursos disponíveis das redes sociais corporativas para compartilhar seu conteúdo. Não adianta ser bom se as pessoas não conseguem chegar até você e vice-versa. Essa é uma fórmula que para dar certo precisa ter os dois tipos de autoridades, a real e a digital, atuando em dupla;
• Amplie suas perspectivas! O fator perder ou ganhar pode estar restrito às suas referências e experiências individuais. Quando se consegue ampliar o repertório de relacionamentos com outros profissionais, você passa a ter uma base de comparação e até “cortar caminhos”, que farão grande diferença na sua carreira;
• Comecei esse texto me referindo ao tempo, lembro-lhe que o tic-tac do relógio é feito de segundos. Por isso, comece com pequenas escolhas que, se forem conscientes, serão compreendidas com o passar das horas e até dos anos. Essa é inclusive uma dica recorrente não só para carreira, mas para escolhas financeiras; o cafezinho pós-almoço pode sim fazer a diferença nas suas metas financeiras. Pondere quais são as escolhas que você tem feito. Não esqueça, em todas você terá ganhos e perdas. Quais você está realmente disposto a manter ou abrir mão para ser ou ter o que quer?”