Assim como na Revolução Industrial iniciada na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra, estamos vivendo transformações significativas que interferem diretamente não só nas relações de trabalho como no comportamento de toda a sociedade. O avanço tecnológico avassalador vem exigindo um alto grau de aprendizado e nas corporações nunca o recursos humanos foi tão estratégico, pois, em verdade, os colaboradores sempre tiveram poder de escolha, mas, agora, eles estão fazendo uso dele, o que implica também numa mudança de gestão mais humanizada, agregada ao novo momento de diversos recursos tecnológicos.
O nascimento da indústria, há dois séculos e meio, espalhou pelo mundo grandes transformações com novas máquinas e equipamentos que consolidou o processo industrial e, consequentemente, o capitalismo. Afinal, a partir daí vários segmentos passaram por verdadeiras revoluções, como, por exemplo, o maquinário voltado para a produção têxtil. Máquinas foram criadas para tecer fios e, com elas, foi possível fabricar uma quantidade de fios que manualmente seria necessária a utilização de várias pessoas. Ali, o mundo começava a mudar, já que todas as áreas, como transportes, logística, entre outras, passavam, simultaneamente pelos mesmos, processo.
E tal transformação atingiu ainda a relação de trabalho. O mundo ia deixando de lado a produção manufatureira passando para a maquinofatura. O desdobramento disso foi, entre outras coisas, a queda dos salários, já que as habilidades manuais não eram mais tão necessárias. Muitos trabalhadores foram submetidos à carga horária abusiva, com pouca ou nenhuma política de segurança que protegesse sua integridade física e psicológica, o que levou a outro fenômeno: a criação de sindicatos que pudessem representar os direitos de cada profissional. Assim, pouco a pouco os recursos humanos nas companhias foram tendo voz.
Isso se potencializou de vez após a segunda guerra mundial quando a sociedade pós-industrial nasceu a partir do aumento da comunicação entre os povos, com a difusão de novas tecnologias e com a mudança da base econômica. Um tipo de sociedade já não baseada na produção agrícola, nem na indústria, mas na produção de informação, serviços, símbolos (semiótica) e estética.
Assim progredimos, cruzamos o século XX já numa velocidade crescente até chegarmos nos dias de hoje, cujos avanços tecnológicos impressionam. Nesta nova revolução industrial, bastante similar à primeira, a diferença mais acentuada está na velocidade da informação, onde somos obrigados a aprender, desaprender e reaprender quase que diariamente, e de novo nas relações de trabalho, na qual o comportamento dos colaboradores vem se transformando a cada dia.
Se o comportamento do consumidor mudou, o que impacta na ponta de qualquer corporação, a nova postura do público interno também exige a implantação de um novo ecossistema de trabalho, no qual a premissa é de maior flexibilidade, com gestão participativa e o fim do “comando – controle”, ou seja, através de uma relação aberta fica claro para todos que o poder é distribuído. Cada um tem a sua responsabilidade e se sente parte do todo, tendo liberdade para se posicionar, sugerir, criticar e, efetivamente, participar do plano estratégico.
Se até bem pouco tempo o comercial assumia o protagonismo, hoje ele divide com todos os departamentos, sendo a tecnologia aliada dos recursos humanos que a utilizam em prol do objetivo coletivo.
Logo, cabe aos RH´s gerir de forma assertiva a nova cultura organizacional que se apresenta, incluindo equipes remotas que, da mesma forma dos colaboradores internos, deve se enquadrar na avaliação desempenho, remuneração etc.
Vivemos tempos de muitos desafios para os profissionais de RH que na realidade sempre estiveram presentes no seu dia a dia, porém agora há essa peculiaridade da qual o colaborador está mais atento ao seu propósito, onde o significado do trabalho é determinante para a sua desenvoltura. Os jovens principalmente estão se permitindo a experimentar e, de certa forma, errar no ambiente de trabalho, entendendo que há confiança por parte dos colegas que vivem também um ambiente de muitas tentativas e erros.
O novo perfil dos colaboradores visa se libertar de hipocrisias, almejando serem eles mesmos, sem disfarces e cientes de suas vulnerabilidades. Com isso, os RH´s já agora no presente e ainda mais num futuro próximo precisam gerar empatia num ambiente que, em breve, será enquadrado como pós-revolução industrial 4.0.
Ana Karla Cantarelli, presidente da ABRH-PE