Por Rogério Félix, Diretor de Formação da Escola ZION
O mercado de videogames se aquece cada vez mais. Um dado recente da Newzoo aponta que o Brasil é o maior da América Latina nesse segmento, além de estar em 12º no ranking mundial. Há também a expectativa de que o país movimente cerca de R$ 12 bilhões até o final deste ano no mercado de jogos eletrônicos. O fato é que a ferramenta hoje em dia não é mais destinada unicamente às crianças e tampouco somente para a diversão. O videogame pode nos trazer ensinamentos para diversas áreas, incluindo na parte de relacionamentos e também profissional.
Podemos defini-lo como um instrumento de entretenimento que pode desenvolver nos jogadores questões semióticas e cognitivas por meio do roteiro ou até mesmo de sua mecânica, transformando tudo em aprendizado. Dá para levar isso ainda a níveis muito maiores, podendo ser algo tão importante quanto uma fisioterapia, pois auxilia pessoas com déficit de atenção, trabalha com reflexos e desenvolve até mesmo a comunicação entre indivíduos, promovendo um certo engajamento.
Durante o período de pandemia, por exemplo, diversas pessoas que estavam distantes puderam se comunicar por meio de partidas online. Além da questão social, tal medida desenvolve a capacidade de trabalho em equipe, algo muito requisitado nas corporações. Isso porque enquanto jogamos, nos focamos em um objetivo em comum. Depois disso, definimos o que precisa ser feito para atingir essa meta, além da separação das ferramentas para o trabalho, as estratégias e a divisão de tarefas entre os membros. Tal qual acontece no nosso ambiente de trabalho.
Assim, durante uma inocente partida online de videogame com os amigos, aprendemos a fazer as escolhas certas, a negociar, a ouvir os colegas, a dividir o time de acordo com as capacidades de cada um e a liderar e conectar pessoas. Uma outra coisa que os jogos eletrônicos nos ensinam é lidar com a perda. É muito normal que em uma tarde jogando, nossa missão falhe algumas vezes. Porém, enquanto na vida real a gente se cobra demais por um erro, no meio eletrônico tendemos a avaliar onde nos equivocamos para tentar ir para o próximo nível.
Nos jogos, toda vez que perdemos, temos uma nova oportunidade de fazer aquilo. Mais do que isso, eu tenho que analisar porque eu falhei, quais foram as etapas e o que eu fiz que me levou a isso. Se eu avaliar o que me levou à derrota, com certeza vou saber como mudar a minha estratégia para poder não perder mais. A perda no jogo não é dada como algo ruim, é um sinal de que precisamos abrir nossa mente para novas possibilidades. Além disso, os jogos costumam presentear o jogador com micro conquistas, o que o motiva para continuar tentando.
Outra coisa interessante de se notar é que os diferentes estilos de jogos desenvolvem habilidades diversas nos jogadores. Por exemplo, quem costuma se aventurar com os títulos de tiro em primeira pessoa acaba ficando mais observador, atento e com bastante foco, já que esse estilo de game exige atenção extrema para não ser eliminado, além da procura de objetos pelo cenário durante um tiroteio. Já os fãs de RPG se interessam muito pelas boas histórias, então acabam desenvolvendo gosto por roteiros diversos, seja de livros, filmes, seriados e outras mídias.
Sabemos, no entanto, que existe toda a discussão de que jogos eletrônicos podem ser prejudiciais às pessoas. Costumo fazer a seguinte analogia: videogame faz tão mal quanto beber água. Vamos entender. Se você tomar água na sua quantidade certa e diária, ela vai te fazer bem. Se você não tomar água, talvez isso faça mal a algumas pessoas. Mas se você cair numa fonte de água natural e quiser beber toda a água de lá, isso vai te fazer mal. Ao mesmo tempo que nós temos que saber e escolher a água a ser consumida e a dose certa a ser ingerida, é a mesma coisa com os videogames. Eu tenho que saber escolher qual o jogo certo e qual a carga horária certa para isso.
O que muitas vezes acontece é que os pais, por falta de tempo, conhecimento e até por omissão deixam os filhos no quarto fazendo o que bem entendem, porque isso dá muito menos trabalho do que colocá-los na sala e dar atenção. Então, depois que a criança fica horas a fio jogando, colocam a culpa no videogame como algo maléfico para a vida da pessoa. Eu tenho certeza que os pais que acompanham os filhos, corrigem a lição de casa, estão lado a lado com eles e propõem diversas atividades não veem problemas, pois dessa maneira não sobra tempo para jogar demais. Porém, se a criança está dedicando muitas horas ao jogo eletrônico, é sinal de que precisa de uma orientação para ver que existem outras responsabilidades e tarefas além da diversão