O MEC impõe uma burocracia inimaginável numa realidade dinâmica e que exige rápida revisão e atualização dos cursos e respectivos currículos
Muito tem se dito sobre a necessidade da indústria brasileira incorporar novas tecnologias em seus processos de produção, para aumentar sua capacidade de competir numa economia globalizada. Pata tal incorporação, a formação de profissionais com novos perfis é fundamental, mas encontra vários problemas que precisam ser urgentemente superados.
Os obstáculos começam em âmbito governamental. Não diretrizes claras sobre as áreas que devem ser consideradas prioritárias para a formação profissional. Assim, é urgente uma solução de convergência das politicas educacional, industrial e tecnológica, para orientação e para incentivos dos cursos nas áreas consideradas estratégicas para o país. Precisamos ter um Plano de Nação, um projeto para o nosso futuro.
Ainda, em âmbito do governo, outro grande obstáculo é a existências do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos do Ministério da Educação, que limita a oferta dos cursos técnicos, determinando para cada um deles denominação, carga horária mínima e perfil profissional de conclusão.
Para atualização da relação de cursos, o Ministério da Educação recebe propostas periodicamente. Cada proposta é submetida à apreciação do Comitê Nacional de Políticas de Educação profissional e Tecnológica (CONPEP) e encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE), para emissão de parecer, a ser homologado pelo ministro da Educação e, posteriormente, publicado na forma de resolução.
A única abertura dada às Escolas para agilizar o processo é a oferta de do curso técnico experimental. Porém, essa solução é temporária, porque o curso só poderá ter continuidade se for reconhecido pelo órgão normativo do sistema de ensino em três anos e incluído no Catalogo Nacional dos Cursos Técnicos no prazo de cinco anos.
Desta forma, o MEC impõe uma burocracia inimaginável numa realidade dinâmica e que exige rápida revisão e atualização dos cursos e respectivos currículos. Ao invés de facilitar a adequação da oferta de cursos técnicos, as normas vigentes criam barreiras ou protelam iniciativas fundamentais para que as empresas tenham profissionais com perfil adequado.
E quais são esses profissionais que terão maiores oportunidades de emprego nas empresas com as novas tecnologias?
Nossa experiência de acompanhamento dos movimentos de mercado de trabalho confirma a tendência apontada por estudo do Federal Reserve Bank of St. Louis, que estima crescimento dos empregos nas categorias de trabalhos manual e cognitivo não rotineiros.
Assim, estão em alta ocupações já existentes como encanador e confeiteiro, que trabalham com destreza e criatividade aliadas a competências técnicas, que podem variar de uma para outra tarefa. Também estão em alta novas ocupações, como especialista em inteligência artificial, criadores de games com aplicações industriais, entre outras.
No outro extremo, com tendência de declínio de empregos, estão os trabalhos manuais e cognitivos rotineiros. Quanto mais repetitivos e padronizados, mais fácil sua substituição por processos automatizados.
E, então, chegamos ao obstáculo mais sério. A formação profissional só cumprirá sua missão de preparar esses profissionais, que terão mais oportunidades de emprego, se for alicerçada numa sólida Educação de Básica.
Durante essa Educação Básica, os alunos devem ter oportunidades de compreender, contextualizar, pesquisar e aplicar conhecimentos e conceitos; descobrir a beleza inerente a cada criação e a cada processo de produção; buscar sempre atualização e novas aprendizagens; ser critico e questionador em uma realidade dinâmica e em permanente transformação.
Ainda na Educação Básica, é preciso considerar competências interpessoais (trabalhar em equipe, desenvolver o senso de cooperação, respeito e valorização das diferenças etc.) e intrapessoais (como desenvolver a capacidade de lidar com emoções e ter autocritica).
É importante investir – como já fizemos, com êxito – na expansão dessa proposta educacional, voltada para uma nova sociedade e para um novo mundo do trabalho. Chega de gastos em programas pontuais e parciais, descolados da realidade. Chega de constatar perda de recursos, em consequência dos mesmos problemas levantados por Anísio Teixeira há exatos 60 anos. Um mundo em mudança exige uma nova educação.
Por Walter Vicioni Gonçalves, Diretor Estadual do SENAI e Superintendente Estadual do SESI do Estado de São Paulo, licenciado até 07/10/2018.