Priscila Pellegrine é diretora de Recursos Humanos e Comunicação da Farmacêutica Zambon
Há mais de um ano vivemos os desafios da pandemia, situação que nos traz várias reflexões sobre os impactos nas relações pessoais, familiares, sociais e de trabalho. As transformações na dinâmica entre líderes e liderados mudaram drasticamente, e a área de Recursos Humanos nas organizações enfrenta desafios ainda maiores face a transição das relações corporativas para o “novo normal”, venhamos e convenhamos, já não tão “novo” assim.
Seja pela convergência de rotinas pessoais e familiares com as rotinas corporativas devido ao isolamento e práticas de home office, ou por gerir e inspirar pessoas em meio a uma crise sanitária mundial, de fato esse momento tem sido uma experiência bastante desafiadora para todos os profissionais. Duas funções ficaram bastante sobrecarregadas e em evidência com os novos hábitos: líderes de equipes, de forma geral, e a área de Recursos Humanos.
O papel de um líder nunca foi tão demandado e essencial para estabelecer elos entre colaboradores isolados em suas residências e as práticas, rituais e cultura organizacional, que não podem se perder em meio a contatos remotos, calls e distanciamento. Soma-se a isso o fato de um líder ter sido convidado a exercer e praticar a empatia em seu “estado de arte”, talvez nunca como antes: entender as dores e necessidades do outro, lidar com o luto, ser ponto de apoio da equipe nos momentos em que a ansiedade e o medo tendem a dominar. E ainda: inspirar, engajar e fazer com que as equipes cheguem nos resultados esperados. Ufa!
Esse cenário recaiu sobre a área de Recursos Humanos de forma bruta. A área foi imediatamente demandada a dar suporte e preparar a liderança para exercer esse novo papel. Além das rotinas e projetos e desafios já inerentes à função, temas novos chegaram de um dia para outro para nossa pauta de discussões e tendem a permanecer, tais como controles e protocolos sanitários, gestão de crise, óbitos, luto, afastamentos, novos modelos de trabalho, novas posições e funções, reduções salariais, intensificação de cuidados com a saúde física e mental dos colaboradores, engajamento a distância, capacitação da liderança para que possa atravessar esse processo de gestão da mudança de seus próprios papéis. Sem sombra de dúvidas, ter tido a oportunidade de exercer a função de Recursos Humanos em meio a uma crise sanitária mundial nos torna profissionais mais resilientes, sensíveis e preparados para lidar com situações extremas e de crise.
Fomos desafiados a manter as pessoas engajadas, conectadas, seguras e motivadas. Demandas emocionais surgiram e caíram sob a área de Recursos Humanos, ao passo que esses profissionais também estavam tentando gerenciar o autocuidado e equilíbrio mental para poder ajudar os outros. Conversas e decisões difíceis chegaram às agendas visando manter o equilíbrio do negócio. Algumas noites de sono perdidas entraram em jogo para que pudéssemos nos estruturar e nos preparar para esses momentos.
Vivemos um momento único na história do mundo e das relações institucionais. A pandemia expôs uma revolução que já vinha acontecendo no mercado de trabalho brasileiro e que representa uma quebra de paradigmas na gestão de pessoas. Lidar com esse conflito de gerações corporativas requer mais do que nunca o alinhamento dos valores da empresa e um reforço na orientação das lideranças para um olhar mais humanizado.
Não há dúvidas de que esse momento vai deixar marcas em todos nós. Por isso, quero dar um conselho a todos os gestores de pessoas: liderem pela confiança porque não há necessidade alguma de elevar ainda mais o nível de ansiedade dos colaboradores. Prezem por uma comunicação transparente porque as incertezas já são muitas. A nova realidade exige uma mudança de comportamento e um novo tipo de liderança. Todos nós precisamos nos reinventar e evoluir.
Para os colaboradores, diria que o momento é de pensar menos sobre a função para o qual foi contratado e mais no projeto do qual faz parte, valorizando, assim, seu papel dentro da estrutura organizacional. As palavras de ordem são adaptação, atualização, responsabilização e, acima de tudo, interesse genuíno no que que está sendo realizado: protagonismo!
Para nós, profissionais de Recursos Humanos, digo que, mais do que nunca, somos muito necessários nessa transição do “antigo normal” para o “novo normal”. Estamos em uma posição única para influenciar e mudar o curso do futuro do trabalho nas organizações, e essa é uma nobre e revigorante missão em meio a tudo que passamos nos últimos meses.
Foram muitos os reflexos da pandemia no cotidiano de todos nós. Sabemos que o cenário exigiu um grande nível de maturidade e que algumas pessoas tiveram mais facilidade de adaptação do que outras.
Por isso, o pensamento no coletivo e o cuidado com o outro são legados que precisam ser fortalecidos e valorizados. Temos que nos propor diariamente a esse exercício de expandir o olhar e exercer a empatia. Todos temos a ganhar!